Revista Exame

Para a Klabin, as mudanças climáticas estão na ordem do dia

Com sua maior fábrica em operação, a Klabin mapeia oportunidades e riscos das alterações no clima para traçar um plano estratégico

Cristiano Teixeira,  diretor-geral da Klabin: 86% da matriz energética da empresa é composta de fontes renováveis  (Germano Lüders/Exame)

Cristiano Teixeira, diretor-geral da Klabin: 86% da matriz energética da empresa é composta de fontes renováveis (Germano Lüders/Exame)

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Da Redação

Publicado em 17 de novembro de 2017 às 11h59.

Última atualização em 17 de novembro de 2017 às 11h59.

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início das operações da fábrica de celulose em Ortigueira, no Paraná, em março de 2016, ajudou a Klabin a fechar o ano com um volume de vendas de quase 2,7 milhões de toneladas, 45% mais do que no ano anterior. Do ponto de vista das mudanças climáticas, um dos efeitos dessa expansão é o uso mais intenso do transporte rodoviário para escoar a produção — e um aumento das emissões de gases de efeito estufa. O desafio para a empresa é grande. Com a Unidade Puma — como é chamada a fábrica que custou 8,5 bilhões de reais — atingindo plena capacidade, estima-se um aumento de 33% nas emissões de gases em 2017, em termos absolutos.

Proporcionalmente ao volume de produção, porém, a companhia espera uma redução das emissões —  menos gases por tonelada produzida de celulose. Isso deve ocorrer graças ao fato de a fábrica ser autossuficiente na geração de energia elétrica e ao aumento de fontes renováveis na matriz energética da Klabin. A energia consumida na Unidade Puma provém de duas caldeiras: uma usa o licor negro (resíduo do cozimento da madeira) e a outra produz vapor com a biomassa gerada na fábrica. Atualmente, 86% da matriz energética da Klabin é composta de fontes renováveis — a meta é elevar esse índice para 88% até 2022.

Buscar a redução das emissões de gases de efeito estufa é um dos 13 princípios da política de sustentabilidade da Klabin, que foi revista no ano passado. Para ajudar a cumprir esse objetivo, a Klabin possui desde 2015 um Comitê do Clima, formado por funcionários de diversas áreas. O grupo elaborou um estudo detalhado de oportunidades e riscos climáticos a que estão sujeitas as operações da empresa e que demandam atenção especial. Entre os principais pontos vulneráveis identificados estão o aumento da temperatura, a necessidade maior de irrigação das florestas e alterações no desenvolvimento de espécies de pínus e eucalipto. “Nas operações industriais, podemos enfrentar uma sobrecarga na demanda do sistema elétrico e, consequentemente, o aumento do preço da energia”, diz Cristiano Teixeira, diretor-geral da Klabin.

O próximo passo do comitê é desdobrar a matriz de riscos climáticos num plano que permita avaliar a amplitude dos riscos mais severos e as oportunidades mais importantes. Com base nisso, a Klabin vai priorizar os pontos mais urgentes e dar direcionamento estratégico para que o comitê proponha ações. “Os membros do comitê são os responsáveis por internalizar o tema das mudanças climáticas na companhia e nos ajudar a entender o que vem pela frente”, diz Teixeira.

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UM CELEIRO DE BOAS PRÁTICAS 

A fábrica de celulose da Fibria em Três Lagoas, Mato Grosso do Sul, inova no viveiro de mudas e utiliza biomassa do processo produtivo para gerar a própria energia | Lia Vasconcelos

Em agosto, a Fibria, maior produtora de celulose de eucalipto do mundo, inaugurou a segunda linha de produção de sua fábrica em Três Lagoas, Mato Grosso do Sul. Mais do que ampliar a capacidade produtiva em quase 40%, para 7,25 milhões de toneladas de celulose por ano, a nova unidade traz uma série de inovações na construção, na operação, nos processos industriais e florestais e no relacionamento com a comunidade no entorno.

Uma das novidades é um viveiro automatizado de mudas de eucalipto. Para atender à demanda de 43 milhões de mudas por ano, técnicos da empresa foram conhecer a tecnologia empregada na fabricação de flores na Holanda e, de volta ao Brasil, desenvolveram um sistema automatizado de irrigação e uma estação meteorológica particular. A irrigação permite o manejo da nutrição das plantas, e a estação faz a abertura e o fechamento automático de tetos retráteis de acordo com as condições do clima. A estação também mede a intensidade de energia solar no viveiro, permitindo um controle da quantidade de água necessária às plantas.

A fábrica de Três Lagoas, além disso, é autossuficiente na cogeração de energia elétrica — a energia é gerada por meio de biomassa proveniente de cascas de eucalipto e de material resultante do processo industrial. Com isso, a nova fábrica não desperdiça nada em seu processo produtivo. “Todos os resíduos são aproveitados”, diz Malu Pinto e Paiva, diretora de sustentabilidade, comunicação e relações corporativas da Fibria. “Isso permite gerar um excedente de energia de 130 megawatts, que vai para o Sistema Interligado Nacional, capaz de abastecer uma cidade do tamanho de Guarulhos.”

A ampliação da fábrica também traz novos desafios. Um dos maiores impactos que uma obra desse porte causa em seu entorno é o aumento populacional. De uma hora para a outra, Três Lagoas viu chegar cerca de 8 700 pessoas para trabalhar — a cidade tem hoje cerca de 117 000 habitantes (além da Fibria, a Eldorado Brasil instalou sua fábrica no local há cinco anos). “Já é sabido que, quando acontece um rápido crescimento populacional, há um aumento da exploração sexual de crianças e adolescentes. Decidimos enfrentar o problema”, afirma Malu.

A Fibria procurou a prefeitura e a promotora da infância para, com o apoio da ONG Childhood Brasil, planejar ações de proteção da infância e da adolescência, formando uma coalizão para engajar a comunidade. “O objetivo é desenvolver um programa estruturado para proteger de forma preventiva as crianças e os adolescentes contra a violência sexual.”

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