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Monopólio de Google e Facebook está com dias contados

Para um dos maiores especialistas em economia da informação, em pouco tempo, veremos leis feitas para garantir a competição na área digital

Van Alstyne: “Precisamos de regras para garantir a competição nas plataformas digitais” (David Sella)

Van Alstyne: “Precisamos de regras para garantir a competição nas plataformas digitais” (David Sella)

ES

Eduardo Salgado

Publicado em 4 de março de 2017 às 05h55.

Última atualização em 4 de março de 2017 às 05h55.

São Paulo — Professor na universidade de Boston há mais de dez anos, Marshall Van Alstyne é um dos maiores nomes na área de transformação digital. Especialista em economia da informação e modelos de negócios em rede, Van Alstyne tem sido ouvido por autoridades da União Europeia preocupadas com a concentração de mercado de gigantes da internet, como Google e Facebook. “Em pouco tempo, veremos leis feitas para garantir a competição na área digital”, diz Van Alstyne, que falará num evento da empresa HSM em São Paulo no mês de maio.

EXAME - O que é a revolução das plataformas?

Van Alstyne - As plataformas são sistemas abertos que conectam pessoas com diversos interesses. No caso do Google, há a união entre os sites indicados e os usuários do sistema de busca. No site de hospedagem Airbnb, entre hóspedes e anfitriões. Tudo isso é parte de uma transição para modelos de negócios baseados em redes. As mudanças em curso hoje são tão importantes quanto as transformações da Revolução Industrial, quando houve a transição para o modelo de negócios industrial. E a concentração de mercado é parecida.

EEXAME - Quais são as semelhanças?

Van Alstyne - A partir do empurrão dado pela mecanização no século 18, houve o aparecimento de empresas gigantescas nas áreas de aço, eletricidade e de transporte. Hoje vemos algo semelhante com Google, Amazon, Microsoft e Facebook.

EXAME - O senhor acredita que os governos vão criar leis para combater monopólios digitais da mesma forma que combateram os de setores tradicionais?

Van Alstyne - Sim. Mas as armas usadas para garantir a entrada de novas empresas precisam ser diferentes.

EXAME - Por quê?

Van Alstyne - Antes da criação de leis para coibir a concorrência desleal em setores tradicionais, o que aconteceu há cerca de 100 anos, as empresas aumentavam o volume da produção, o que acabava baixando os preços e fazendo com que novos competidores desistissem. Não é isso o que fazem as gigantes digitais. O Facebook oferece seu serviço sem exigir pagamento. LinkedIn e Google fazem o mesmo.

EXAME - Como, então, evitar a concentração de mercado na área digital?

Van Alstyne - Na era das plataformas, a vantagem das gigantes é a quantidade enorme de dados que elas têm sobre seus usuários. É esse o ponto que precisa ser mudado. Todos deveriam ter acesso a esses dados, assim como todos podem usar as ruas, as estradas e as ferrovias.

EXAME - Mas isso não seria injusto com os empreendedores que criaram essas plataformas e seus acionistas?

Van Alstyne - Primeiro é preciso ter claro que a concentração econômica acaba, em um determinado momento, sendo um obstáculo à inovação. Os usuários passam a ser prisioneiros da inovação de apenas um pequeno grupo de empresas. Se acharmos  que é importante incentivar a entrada de novos empreendedores nesses mercados concentrados, precisamos dar a eles alguma chance de sucesso. Isso depende dos dados.

EXAME - Como as novas regras funcionariam?

Van Alstyne - Leis podem permitir que as grandes empresas lucrem por um certo tempo com os dados que coletaram. Mas esses dados receberiam a mesma proteção das patentes, que têm data para acabar. Acredito que a União Europeia fará algo nesse sentido em pouco tempo.

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