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Modo reinvenção

Depois da retomada, eu vejo um novo começo de era. As marcas e os negócios trocarão a missão pelo propósito

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Da Redação

Publicado em 21 de maio de 2020 às 05h30.

Última atualização em 12 de fevereiro de 2021 às 12h58.

Passados quase 60 dias — que parecem seis meses — do início desta quarentena, resolvi colocar em palavras meus sentimentos sobre tudo o que a humanidade está vivendo neste momento.

Eu sou judeu, não sou religioso, mas sigo a religião. Acredito realmente que exista uma força maior que rege tudo e todos que possuem vida. Portanto, para mim é impossível não pensar que haja algum motivo para que estejamos passando por tudo o que estamos passando.

O ser humano teimava em destruir as florestas e o meio ambiente e não fazia nada para consertar a enorme e crescente desigualdade social no mundo.

Esse vírus quase não mata crianças e animais, esse vírus não contamina o ar e as águas, esse vírus contamina e mata os humanos, independentemente de raça, credo, gênero e quantidade de dinheiro na conta bancária.

Por toda a vida tememos a saudade que viria quando perdêssemos nossos pais, mães, avôs e avós. Por outro lado, deixávamos de aproveitar a presença deles ao máximo, e até de dizer quanto os amamos.

Esse vírus faz com que os mais velhos estejam no grupo de risco e, por consequência, isolados de nós. Esse vírus faz com que sintamos a saudade que tememos a vida toda, só que com nossos parentes em vida.

Nos últimos anos nos apaixonamos pelos likes, pelos shares, pelos comments, e muitas vezes nos esquecemos de quem deveria importar e que estava do nosso lado.

Esse vírus nos prende em casa com aqueles que jamais deveríamos ter trocado pelos celulares; os nossos filhos e nossa(o) companheira(o).

Nos últimos anos nos dividimos: destros, canhotos e ambidestros. Esse vírus faz com que tenhamos saudade do beijo, do abraço. Ele nos faz sentir saudade de amigos e familiares com os quais deixamos de falar por coisas que parecem agora absurdamente pequenas.

A maior parte das empresas só se preocupa com os lucros financeiros. Elas ignoram os traumas socioambientais que esse lucro deixa pelo caminho.

Esse vírus fecha escritórios, obriga as empresas a repensar seus processos e a entender que nenhum negócio sobrevive sem o mundo ou as pessoas.

Vivemos a maior crise sanitária do século. Seremos impotentes espectadores da morte.

Por isso é impossível não pensar que, de alguma maneira, a natureza está forçando a humanidade a parar para que ela possa se ajustar e se recompor das agressões que tem sofrido todos estes anos. Para que ela possa nos salvar de nós mesmos.

A única coisa que uma epidemia nos dá certeza é de que ela vai passar. Portanto, após um inverno triste e nebuloso, a primavera vai chegar. E eu tenho certeza de que seremos todos mais humanos e tudo vai mudar, desde a forma como vivemos até a forma como consumimos.

Nesse sentido, além do “modo sobrevivência”, os negócios e as empresas também precisam entrar no “modo reinvenção”. Quando os tempos mudam, a vida costuma ser cruel com os negócios que se negam a mudar.

Faço aqui da reflexão a matéria-prima para a reinvenção: haja vista o que está acontecendo no mundo, os consumidores buscaram seu negócio pelos mesmos motivos e da mesma maneira como buscavam antes?

Você tem investido para pensar como a covid-19 afeta o consumidor e suas decisões de consumo? Deveria.

Foram vários os “novos fatos” que, quando surgiram, levaram à falência milhões de empresas: as duas grandes guerras mundiais, o 11 de Setembro, o carro, a câmera digital, a Netflix, o iPod e o coronavírus

A Blockbuster não desapareceu por causa da Netflix, e sim por causa dela mesma. Na zona de conforto, a companhia se negou a perceber que os tempos haviam mudado e por várias vezes se negou a comprar a Netflix dizendo “não acreditar naquele modelo de negócios”. A Blockbuster se suicidou.

A covid-19 mudará para sempre a relação dos negócios com as pessoas, principalmente no que diz respeito à jornada do consumidor e ao nível de consciência socioambiental de suas escolhas de consumo.

Se a jornada de consumo já estava mudando de “eu descobri o produto na TV/jornal/revista e fui à loja comprar” para “eu vi vários(as) amigos(as) falando sobre o produto/marca nas mídias sociais, fui ao Google procurar o site, entrei no site, li ratings , decidi experimentar na loja física e comprei on ou offline”, na retomada da economia ela acelerará ainda mais nessa direção. E os negócios precisarão se fazer presentes, e necessários, em cada etapa dessa nova jornada.

Após a retomada, teremos o cuidado de escolher produtos e marcas com preocupação socioambiental, fazendo nossa parte na mudança do mundo no qual queremos que nossos filhos e netos vivam.

Durante e após a covid-19, as marcas e os negócios deixarão de viver para a missão e passarão a viver pelo propósito. Sou empreendedor brasileiro e, portanto, um otimista por vocação: “Eu vejo um novo começo de era. De gente fina, elegante e sincera”.


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