Lila Moss na estreia da linha Marc Jacobs Beauty: nome estrelado | Dave Benett/Getty Images /
Da Redação
Publicado em 31 de janeiro de 2019 às 05h30.
Última atualização em 4 de junho de 2020 às 15h14.
Kate Moss, a modelo que inaugurou a onda heroin chic nos anos 90, deve boa parte de seu sucesso ao estilista Marc Jacobs. Quando ela tinha 18 anos, desfilou a célebre coleção da Perry Ellis, dirigida então por Jacobs. O desfile foi recheado de camisas de flanela, jeans largos e gorros de lã, e teria marcado o início da era grunge. A repercussão foi enorme, para ela, para a marca, para a história do pop. Agora, 26 anos depois, foi a vez da filha de Kate, Lila Moss, estrear aos 16 anos como modelo, para a linha de beleza do mesmo Marc Jacobs. A vida realmente imita a vida.
Lila Moss, que por sinal é a cara da mãe, é o caso mais recente da sucessão familiar na moda. No fim do ano passado, ela foi nomeada o rosto da Marc Jacobs Beauty, no lugar de Kaia Gerber, 17 anos, filha de Cindy Crawford, da mesma geração de top models de Kate Moss. Kaia deixou o posto para trabalhar com o estilista Karl Lagerfeld, nos desfiles e nas campanhas. Sucedeu, por sua vez, Lily-Rose Depp, filha de Vanessa Paradis com Johnny Depp, ex-namorado de Kate. Tudo em família.
Assim como aconteceu com a filha de Kate Moss, Lily-Rose Depp foi favorecida pela amizade de sua mãe com um criador da indústria, no caso Karl Lagerfeld. Pertencem ainda ao grupo de herdeiras das passarelas Gigi e Bella Hadid, filhas de Yolanda Hadid; Georgia May Jagger, filha de Jerry Hall com Mick Jagger; Iris Law, filha de Sadie Frost e Jude Law; e Dylan Penn, filha de Robin Wright com Sean Penn.
Os sobrenomes famosos têm peso, evidentemente, mas essa geração conta com uma vantagem adicional: a exposição virtual. Essa é uma geração que cresceu nas redes sociais e conta com milhões de seguidores no Instagram. A projeção faz com que os ganhos se multipliquem com campanhas virtuais e posts patrocinados. Kaia ganhou em seu primeiro ano, estima-se, 500.000 dólares, uma cifra inimaginável para uma modelo iniciante nos anos 90. Algumas vezes são as mães que pegam carona no sucesso de suas meninas. Após o sucesso de Kaia, Cindy Crawford voltou aos holofotes ao ser chamada para recriar uma famosa campanha da Pepsi que havia feito em 1992, agora para o Super Bowl do ano passado.
As representantes dessa nova safra podem até ganhar mais dinheiro, mas jamais serão supermodelos como as dos anos 90. O videoclipe de Freedom, de George Michael, com Cindy Crawford, Naomi Campbell, Linda Evangelista e Christy Turlington, é uma ode ao empoderamento feminino, em uma época que essa expressão mal existia. Modelos das gerações anteriores, como Jerry Hall, Marie Helvin e Iman, foram “descobertas” por fotógrafos — assim elas eram apresentadas e lançadas.
As supermodelos eram self-made women que não precisavam de homens ao lado — pelo contrário, elas impulsionaram a carreira de muitos estilistas, fotógrafos e maquiadores. Ficou célebre a frase de Linda dizendo que nunca saía da cama por menos de 10.000 dólares. Naomi e Kate eram presenças certas nas baladas de Londres, sempre bebendo e fumando. Eram mulheres de atitude, enquanto as jovens de agora apenas conseguem expressar #gratidão nas redes sociais e jamais arriscariam perder um contrato publicitário devido a uma foto indiscreta tirada em uma noitada qualquer.
Uma calça de denim japonês, o melhor do mundo, pode custar 2 000 dólares. Vale o preço? | Pedro Diniz
De todas as peças do guarda-roupa, o jeans talvez seja a mais democrática. Veste qualquer corpo, se adapta a qualquer estilo e atinge todos os estratos sociais. Pode custar 50 reais numa liquidação do Brás, em São Paulo, ou 2 000 dólares, equivalente hoje a 7.560 reais, sem impostos, se for da marca japonesa Momotaro, reconhecida entre os modernos por vender o par de calças denim mais caro do mundo.
Não é a calça com o preço mais alto entre as grifes — afinal, há peças cravejadas de diamantes que podem custar centenas de milhares de reais. Mas trata-se do mais precioso entre os chamados jeans raw, ou crus, sem nenhuma lavagem amaciante e feitos artesanalmente, no sentido literal da palavra.
Cada peça é produzida durante semanas em tear manual por um artesão que entrelaça as fibras embebidas em índigo azul e as brancas, de algodão zimbabuense, fator que, diz-se, garante a maciez do toque por décadas. Essa é a maior diferença de um jeans feito dessa forma, porque ao dispensar a química e os processos de lavagem o tecido fica mais grosso e não desgasta facilmente. Também dispensa lavagens constantes, por não acumular cheiro e suor tão rapidamente devido à gramatura do tecido.
Para diferenciar o produto da concorrência local, a pequena empresa de Kojima, região de Okayama reconhecida como a capital do denim asiático, desenvolveu detalhes nas bainhas, uma costura rosa e etiqueta de couro de carneiro. O preço exorbitante, porém, não é justificado apenas pelo nível de exclusividade da manufatura e pelas edições limitadas da marca. É o capital humano, item raro numa indústria automatizada como a do jeans e em falta no Japão — que no ano passado viu 114 empresas fechar as portas por falta de trabalhadores —, que diferencia e encarece as peças da Momotaro.
Na cartilha do novo luxo, e os japoneses foram rápidos em assimilar o movimento, o cuidado no desenvolvimento de peças brutas anda valendo mais do que o excesso de informação colado no tecido. Uma calça jeans pode valer 2.000 dólares? Se pensarmos no valor absoluto, dificilmente. Se levarmos em conta a exclusividade e a durabilidade, talvez. Como sempre, o consumidor é quem vai decidir.