Revista Exame

Mídia sem tinta nem papel

Com publicações exclusivamente criadas para o iPad, Rupert Murdoch e Richard Branson buscam uma alternativa para a mídia na era digital

A digital Project Mag: o primeiro negócio do dono do grupo Virgin, que vai de empresas de aviação a telefônicas, foi uma revista

A digital Project Mag: o primeiro negócio do dono do grupo Virgin, que vai de empresas de aviação a telefônicas, foi uma revista

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Da Redação

Publicado em 17 de novembro de 2011 às 14h32.

Um, o australiano, é filho de um jornalista que seguiu carreira nos negócios da imprensa e deixou para o filho uma coleção de jornais na Austrália. A ambição de Rupert Murdoch, porém, era ainda maior que a de seu pai: hoje ele é dono de um dos maiores impérios de mídia do mundo, a News Corp., cuja joia da coroa é o Wall Street Journal.

O outro, o britânico, é filho de um juiz e não herdou empresa nenhuma. Mas Richard Branson também começou na imprensa com uma revista estudantil lançada na adolescência. Hoje, seu grupo Virgin é um conglomerado global que inclui operadoras celulares, emissoras de rádio, fábricas de bebidas, uma empresa de aviação e uma companhia que pretende levar gente para o espaço.

Murdoch e Branson, cada um à sua maneira, devem tudo à palavra impressa. Mas, a julgar pelos anúncios das últimas semanas, ambos veem mais do que tinta ou papel no futuro.

Murdoch deve lançar no começo do próximo ano o The Daily, um jornal diário puramente digital. Isso, em si, não é a novidade: a curta história da web viu o nascimento e a morte de incontáveis sites cuja intenção era ser uma fonte de notícias e conteúdos originais.

A diferença é que o novo jornal do bilionário australiano só poderá ser lido por quem tem um iPad, o computador em forma de prancheta lançado no começo do ano pela Apple. Murdoch montou uma equipe de 100 jornalistas e contratou gente de publicações de prestígio. Sua expectativa é que, nesse novo tipo de aparelho, o negócio da mídia possa resolver uma equação que até agora não tem solução: como ganhar dinheiro no mundo digital?

Conteúdo pago

A esperança é que o iPad represente um ganha-ganha. Para quem lê, um tablet traz conforto. O conteúdo pode ser apresentado de forma mais cativante. O formato do aparelho, sem a inconveniência do teclado, permite que a leitura seja parecida com a do jornal tradicional. Um aplicativo de iPad preenche toda a tela.

Do ponto de vista do negócio, há menos distrações — e menos oportunidades de fuga do leitor. Isso também quer dizer mais atenção para o conteúdo publicitário, que pode ainda ser enriquecido com múltiplas fotos, vídeo e música.

De acordo com essa lógica, o duplo benefício — para o consumidor e para a indústria da mídia — pode ser alcançado a um custo mais baixo, pois o produto é entregue online. Murdoch estaria investindo 30 milhões de dólares no The Daily.

Além disso, no mundo iPad, os usuários estão acostumados a pagar pelo conteúdo, porque muitos dos programas são comprados online na loja da Apple. Por uma assinatura que deve custar 99 centavos de dólar por semana, e com estimativas — conservadoras — de uma base instalada de mais de 30 milhões de iPads no próximo ano, não representaria um risco grande para a News Corp., um conglomerado que fatura 33 bilhões de dólares por ano.


“Não faz sentido”, disse Sarah Chubb, responsável pela área digital da Condé Nast, uma das mais prestigiadas editoras americanas, num evento recente em Nova York. Para ela, a experiência de ler o noticiário num ambiente fechado como o de um aplicativo de iPad deixa de lado as interações sociais em sites como o Facebook, que hoje são importante fonte de descoberta de informações.

(Os aplicativos iPad das revistas Wired e New Yorker, dois títulos da Condé Nast, têm o mesmo problema.) “Murdoch está brigando com (o espírito aberto da) a internet, e a internet continua vencendo”, escreveu Matthew Ingram, do influente blog tecnológico GigaOm.

“Não tenho a menor ideia”, disse Branson, às gargalhadas, quando questionado sobre o porquê do lançamento de sua revista de variedades, Project, no iPad, e não como um website. Cada edição da Project custa 2,99 dólares. Muitas revistas (entre elas EXAME) criam versões digitais. Mas a Project de Branson (disponível apenas em inglês) não existe no papel.

A primeira edição, entretanto, não tem nada que a torne muito diferente das outras revistas de papel que também decidiram criar uma versão eletrônica. Um jornalista perguntou a Branson se, no fim das contas, não seria o conteúdo o item mais importante, independentemente da plataforma tecnológica em que ele é publicado.

“Você tem de ter o melhor conteúdo e a melhor forma. As pessoas têm muitas escolhas hoje”, disse Branson. “E você precisa criar burburinho. As pessoas têm de dizer (umas para as outras): ‘Você precisa olhar a Project!’. Sem isso, nossa morte será rápida. Mas, se criarmos um boca a boca, vamos durar muitos e muitos anos.” O boca a boca, pelo menos, já está criado.

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