Revista Exame

Grupos empresariais têm menor faturamento e lucro maior

As empresas chinesas de energia CTG e State Grid fugiram dos bancos em meio a crise

Empresas: capitalizadas podem evitar os bancos num momento em que o crédito costuma ficar mais caro (Ernesto Reghran/Pulsar Imagens/Divulgação)

Empresas: capitalizadas podem evitar os bancos num momento em que o crédito costuma ficar mais caro (Ernesto Reghran/Pulsar Imagens/Divulgação)

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Da Redação

Publicado em 10 de agosto de 2017 às 05h00.

Última atualização em 10 de agosto de 2017 às 05h00.

A recessão e a Operação Lava-Jato transformaram o ambiente empresarial no Brasil. Mais de 1 000 empresas faliram e cerca de 4 000 companhias pediram recuperação judicial — entre elas as empreiteiras OAS e UTC, enroladas em escândalos de corrupção e acordos de leniência, e a operadora de telefonia Oi. Outras 150 empresas foram vendidas e milhares encolheram para sobreviver.

Quem ficou de pé concentrou esforços em aumentar a rentabilidade, mesmo quando isso significou abrir mão de parte das receitas. Em 2016, o faturamento dos 200 maiores grupos empresariais brasileiros diminuiu 19%, a primeira queda em sete anos, mas o lucro somado dessas empresas quase quadruplicou.

Agência do Santander no Brasil: os bancos ocupam o topo do ranking dos maiores grupos empresariais do país, com 22% da receita total | Alexandre Moreira/Brazil Photo Press/Folhapress

Ter dinheiro em caixa numa crise é uma vantagem e tanto. Empresas capitalizadas podem evitar os bancos num momento em que o crédito costuma ficar mais caro — e aproveitar para comprar concorrentes em dificuldades. Foi o que fizeram as empresas chinesas de energia CTG e State Grid. Por meio da subsidiá­ria brasileira e diretamente pela matriz chinesa, a CTG comprou os ativos no Brasil da americana Duke Energy em 2016, os quais se somaram às usinas da portuguesa EDP Energia, adquiridas no biênio anterior. Com as transações, a CTG saiu de uma participação inexpressiva no mercado brasileiro, com lucro de 34 milhões de dólares em 2015, para 1 bilhão de dólares de ganho no ano passado, tornando-se a maior geradora privada no Brasil com apenas três anos de atua­ção aqui. A State Grid aproveitou a necessidade de capitalização dos acionistas da CPFL — entre eles a empreiteira Camargo Corrêa, condenada na Lava-Jato — para comprar a participação deles na empresa. Outra companhia que conseguiu aumentar consideravelmente o lucro com aquisições foi a rede de laboratórios Dasa — seu crescimento alcançou 270% no ano passado.

A estratégia foi aproveitar a crise para comprar concorrentes de menor porte: em três anos, arrebatou  quase dez empresas. Com os ganhos de escala dessas operações e das outras 20 aquisições feitas na última década, a Dasa diluiu custos e engrossou o retorno. “Devemos continuar vendo fusões e aquisições nos setores de energia e saúde, que atraem investidores estrangeiros em razão do potencial de crescimento”, diz Viktor Andrade, sócio da consultoria EY. No setor de energia, muitas empresas ficaram deficitárias com mudanças na regulação e queda no consumo industrial e, endividadas, tiveram de abrir espaço para novos sócios. Em saúde, espera-se o aumento da demanda à medida que a população envelhece.

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Pela primeira vez em mais de uma década, não há empreiteiras entre os maiores grupos empresariais do país.  Neste ano, o grupo Odebrecht — que estava entre os dez maiores desde 2002 — não forneceu as informações de balanço. Mas números públicos mostram que a empresa encolheu. A construtora do grupo demitiu 50 000 funcionários, 40% do total, e suas receitas caíram pela metade em 2016. Além disso, o grupo vendeu aeroportos, uma subsidiária de saneamento e concessões rodoviárias. A lacuna foi preenchida pelos bancos, que ocupam as três primeiras posições no ranking de maiores grupos brasileiros. Bradesco, Itaú e Santander respondem por 22% da receita  total dos 200 maiores grupos brasileiros (há um ano, a participação não chegava a 15%). Também estão entre as companhias mais lucrativas. O grupo Itaú teve o maior lucro de 2016, de 21,5 bilhões de reais, seguido pelo Bradesco, com 15,2 bilhões de reais. Os bancos mantêm o retorno elevado aumentando os juros dos empréstimos e aplicando o caixa em títulos públicos de alto rendimento. “Os grandes bancos começam a transformar seus modelos de negócios, com mais processos digitais. O objetivo é manter-se no topo”, diz Antônio Bernardo, diretor da consultoria Roland Berger.

Apesar de fazerem parte do setor de varejo, duramente afetado pela crise, as redes de supermercados Carrefour e Pão de Açúcar conseguiram despontar entre os maiores grupos do país. O  Pão de Açúcar manteve a décima posição e o Carrefour estreou na sétima. “Os dois grupos conseguiram redirecionar foco e energia para suas redes de atacarejo, Assaí e Atacadão, respectivamente, que atendem o público que quer economizar nas compras”, diz Jean-Claude Ramirez, sócio da consultoria Bain&Company. Isso incluiu aumentar investimentos em marketing, realocar equipes e dar prioridade à abertura de lojas do atacarejo.

Obra da Odebrecht: o grupo vendeu subsidiárias e demitiu 40% dos funcionários | Lucas Lacaz Ruiz/Folhapress

As empresas sem cartas na manga para enfrentar a crise saíram cortando custos para tentar aumentar a rentabilidade. Os 200 maiores grupos demitiram quase 335 000 funcionários no ano passado, diminuindo o quadro de empregados em 11%, para 2,6 milhões. Diversas estatais fizeram programas de demissão voluntária, como Petrobras e Eletrobras. No setor privado, a construção civil foi a campeã de cortes, em razão da paralisação de novos projetos. A maioria dos analistas espera que os resultados das empresas comecem a melhorar neste ano, beneficiados especialmente pela queda dos juros. Mas é consenso que o desemprego se manterá elevado porque a recuperação econômica segue lenta. A previsão média do mercado financeiro é de um crescimento pífio de 0,3% neste ano, mas há analistas que aventam a possibilidade de mais um ano de recessão. 

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