Revista Exame

A linha de produção da Whirlpool agora gasta menos energia

Para obter cada real em receita, a fabricante de eletrodomésticos Whirlpool gasta hoje 36% menos energia elétrica do que há três anos

João Carlos Brega,presidente da Whirlpool: 79% dos produtos com avaliação máxima em eficiência energética / Leandro Fonseca (Leandro Fonseca/Exame)

João Carlos Brega,presidente da Whirlpool: 79% dos produtos com avaliação máxima em eficiência energética / Leandro Fonseca (Leandro Fonseca/Exame)

DR

Da Redação

Publicado em 16 de novembro de 2017 às 05h53.

Última atualização em 16 de novembro de 2017 às 05h53.

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Nos últimos três anos, a fabricante de eletrodomésticos Whirlpool conseguiu diminuir em 36% seu nível de intensidade energética — a relação entre a energia consumida e o faturamento. Em outras palavras, cada real de receita obtido pela multinacional americana no ano passado em suas operações no Brasil precisou de uma quantidade de energia 36% inferior à de três anos antes. Esse índice evidencia como a proprietária das marcas Consul, Brastemp e KitchenAid vem lidando bem com um dos custos mais significativos de qualquer indústria — e que é também um dos temas mais sensíveis relacionados à sustentabilidade. “Um avanço como esse só se consegue com um grande esforço coletivo, de todas as áreas da empresa, para identificar oportunidades de melhoria”, diz Armando Ennes do Valle Jr., vice-presidente de sustentabilidade, relações institucionais e comunicação da Whirlpool América Latina.

O passo essencial para chegar ao resultado foi dissecar o consumo de energia nas três fábricas da empresa no Brasil — em Joinville (SC), Rio Claro (SP) e Manaus (AM). Assim, ficou mais fácil distribuir responsabilidades e planejar as ações com o envolvimento de todos. Os setores que contribuem mais para os avanços são recompensados com uma fatia maior da participação nos resultados. Além das ações contínuas e genéricas (como a substituição de lâmpadas e a revisão de motores), a empresa define com antecedência quais projetos específicos a um setor ou maquinário serão executados ao longo do ano — a pauta para 2018 já tem 25 projetos prontos para ser colocados em prática. “São iniciativas que trarão ganhos, mas exigem investimentos. A análise em conjunto desses números define as prioridades e o ritmo de implantação”, diz o diretor de sustentabilidade, Vanderlei Niehues.

A preocupação permanente com eficiência energética se estende ao desenvolvimento dos produtos e chega, por fim, à casa dos consumidores: dos 459 produtos da empresa registrados no Inmetro no final do ano passado, 79% obtiveram a avaliação máxima em eficiência energética. Esse é um dos seis pilares da política de sustentabilidade da Whirlpool — os demais são uso sustentável da água, minimização de resíduos, mudanças climáticas, desenvolvimento social e gestão de materiais. “São temas que permeiam a gestão do negócio e são fundamentais para atingir resultados”, diz João Carlos Brega, presidente da Whirlpool. “Nossos esforços são voltados para a liderança de marcas e produtos e para a excelência operacional, sempre pensando nas gerações futuras.”

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UM PROJETO QUE CRESCEU E VIROU UNIDADE DE NEGÓCIOS

O Nat.Genius é um programa criado pela Embraco para cuidar da reciclagem de seus compressores. A iniciativa deu tão certo que ganhou vida própria e hoje envolve a reutilização de vários produtos | Maurício Oliveira

Concebido em 2013 como um programa interno de logística para resolver um problema imposto pela Política Nacional de Resíduos Sólidos, o Nat.Genius, da Embraco, fabricante de compressores para equipamentos de refrigeração, encontrou tantas possibilidades de exploração comercial que conquistou o status de nova unidade de negócios e se tornou uma referência global em economia circular — a ideia segundo a qual tudo na natureza pode ser reutilizado e reciclado. Hoje já são 70 funcionários dedicados ao programa, realizado em áreas próprias dentro de duas fábricas em Joinville, cidade catarinense onde a Embraco nasceu, há quase 50 anos. Com os bons resultados obtidos — os custos já estão sendo cobertos e a unidade começou a dar lucro —, a perspectiva é de expansão da atividade para filiais em outras regiões do país.

A missão do Nat.Genius é reaproveitar da melhor forma possível peças de equipamentos que chegam ao final da vida útil, dando a elas um valor que inexistia quando o material era vendido apenas por peso bruto, como sucata, ou simplesmente descartado. Lâminas retiradas de compressores são adaptadas para se tornar peças de portões eletrônicos, enquanto a espuma das embalagens de geladeiras é direcionada para a fabricação de rodapés, por exemplo. Nos últimos dois anos, a unidade reciclou mais de 5 600 toneladas de aço, quantidade equivalente à da fabricação de 4 000 automóveis, e 144 toneladas de alumínio, suficientes para a produção de 10,5 milhões de latinhas de refrigerante, além de ferro, plástico, cobre, óleo e outros materiais.

O Nat.Genius começou recolhendo apenas compressores fabricados pela Embraco e eletrodomésticos da linha branca, mas logo ficou evidente a necessidade de ampliar o leque de produtos. Assim, foi preciso desenvolver formas de aproveitar tudo o que resulta do desmonte de computadores, periféricos, televisores, batedeiras, liquidificadores, secadores de cabelo e outros equipamentos. As receitas vêm da remuneração para recolher esse material e da posterior venda dos produtos transformados. Além disso, a Embraco presta consultoria para indústrias interessadas em aumentar o índice de aproveitamento dos rejeitos em seus processos fabris. O Nat.Genius tem sido procurado também por fabricantes que gostariam de desenvolver produtos mais fáceis de reciclar no futuro. “É um serviço que tem apresentado uma surpreendente demanda internacional”, diz Luiz Berezowski, gerente responsável pelo programa. “Já fechamos contratos em vários países.”

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A META É PÔR EM PRÁTICA A ECONOMIA CIRCULAR

A americana HP lança uma impressora que ajudará a empresa a alcançar a meta de uso de 25% de material reciclado na composição dos produtos fabricados no Brasil até o fim de 2018  | Lia Vasconcelos

se, em vez de descartar materiais não biodegradáveis, como máquinas de lavar roupa, smartphones e televisores, existisse outro modelo que permitisse o retorno desses materiais ao ciclo produtivo? E se esses equipamentos, ao final de sua vida útil, fossem levados de volta às fábricas para ser desmontados e reciclados e retornar ao mercado na forma de novos produtos? Essa é a ideia da economia circular, que procura repensar as práticas econômicas indo além dos famosos três “R”s — reduzir, reutilizar e reciclar. Novos “R”s, de economia restaurativa e regenerativa, entram na equação, e o que era o fim é só um novo começo. A americana HP, fabricante de impressoras, computadores e outros equipamentos de informática, tem repensado seu processo produtivo para reinventar a maneira como seus produtos são projetados, fabricados, usados e recuperados, conforme os princípios da economia circular.

De acordo com uma projeção da Fundação Ellen MacArthur, organização internacional que estuda e estimula a adoção da economia circular no mundo, 82 bilhões de toneladas de matéria-prima serão inseridas no sistema produtivo global em 2020 — um dado que mostra a importância da economia circular para reduzir o volume de novos materiais que entram na cadeia produtiva a cada ano. Atualmente, 95% dos produtos HP que abastecem o mercado brasileiro são fabricados localmente e, desde 2012, cerca de 7,7 milhões de equipamentos da marca foram produzidos no país com conteú-do reciclado. Como trazer os resíduos de volta para a cadeia produtiva e reutilizá-los na operação? “É preciso que os equipamentos possam ser rastreados e que a empresa desenvolva uma pesquisa consistente sobre reciclagem”, diz Kami Saidi, diretor de suprimentos da HP para a América Latina.

A impressora Deskjet GT 5822, lançada em março, traduz o que a HP entende por economia circular e é fruto desse processo, pois é um produto que contém muitos dos atributos para a reciclagem. Ao todo, a HP já usou 808 toneladas de resina plástica reciclada na produção de peças de impressoras e de embalagens e produtos. Com o desenvolvimento da GT 5822, a companhia tem a meta de dobrar esse volume ao longo de 2018. Hoje, o percentual médio de material reciclado na composição dos produtos HP fabricados no Brasil é de 8%. Em 2018, a meta é alcançar 25%. “Com  o desenvolvimento do mercado de impressão 3D no segmento de manufatura,  poderemos viabilizar ainda mais a economia circular”, diz Claudio Raupp, presidente da HP.

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MAIS DO QUE REGRAS, COMPLIANCE É CULTURA

Dez anos depois de se envolver em um escândalo mundial que atingiu sua reputação, a alemã Siemens colhe os frutos de um robusto sistema de governança anticorrupção | Lia Vasconcelos

No início dos anos 2000, a Siemens ganhou as páginas de jornais no mundo inteiro por ter se envolvido num esquema de suborno em vários países. No Brasil, as irregularidades diziam respeito a fraude e formação de cartel na licitação de metrôs e trens de São Paulo. Entre multas, pagamentos a assessores e advogados, calcula-se que o escândalo tenha custado à multinacional alemã cerca de 2,5 bilhões de euros. Muito mais do que o dinheiro, entretanto, a Siemens perdeu sua reputação e, para recuperá-la, implantou um robusto sistema de governança anticorrupção que tem ajudado a empresa a reconquistar a confiança do mercado.

O termo compliance significa “agir de acordo com com as leis e os regulamentos”. Foi com base nesse conceito que a Siemens elaborou um programa de compliance que vale para seus 357.000 funcionários dos 192 países onde está presente. “Prevenir” (com políticas e procedimentos, comunicação do programa e treinamento), “detectar” (auditorias, análises e controles) e “responder” (rastreamento global de casos reportados, consequências para a conduta inadequada e efetividade do monitoramento) são os pilares do programa. “Um ambiente limpo favorece os negócios. É um compromisso com a sociedade”, diz Henrique Paiva, diretor de relações governamentais e de sustentabilidade da Siemens. “Na verdade, uma empresa não é sustentável se não estiver em conformidade com as leis.”

No Brasil, 4.000 funcionários são treinados anualmente. “O reconhecimento externo é uma demonstração de como o programa foi bem-sucedido, já que 400 empresas nos procuraram, ao longo dos anos, para ajudá-las a implantar seus programas de compliance”, diz Paiva. Ele lembra que já se vão dez anos desde que o escândalo envolvendo a Siemens veio à tona e, mais do que regras, o que muda uma empresa é a cultura. “Se não existem funcionários com consciência real da importância do tema e que colocam em prática o que está escrito, não adianta ter regras”, afirma.

Por meio de seu canal de denúncia, batizado de Tell Us, a Siemens recebeu 675 alertas em 2016 ao redor do mundo (não há dados específicos sobre o Brasil). Em resposta, foram aplicadas 233 medidas disciplinares referentes à violação de compliance. Todos os funcionários, clientes, fornecedores e parceiros podem comunicar violações a qualquer hora, de maneira confidencial e anônima. Além desse canal, podem contatar o ombudsman externo de forma sigilosa se notarem quaisquer práticas inadequadas de negócios na empresa.

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DIVERSIDADE COMO MOTOR DE CRESCIMENTO

A Schneider Electric supera sua meta de elevar o número de contratações de mulheres e pretende alcançar a igualdade de remuneração entre gêneros ainda neste ano | Lia Vasconcelos

Em 2012, a francesa Schneider Electric, fabricante de material elétrico, traçou uma estratégia global para promover a diversidade em seu quadro de funcionários. Hoje, a empresa já tem uma política de inclusão consolidada, cujo objetivo é fomentar a igualdade de gênero e incluir as minorias. Essas iniciativas são desenvolvidas em torno de três eixos principais: acesso às minorias, políticas inclusivas e treinamento para os funcionários.

No primeiro eixo estão, por exemplo, os programas que estimulam a contratação de mulheres e seu acesso a cargos de liderança. No ano passado, as mulheres foram as escolhidas em 42% das contratações feitas no Brasil. A meta era atingir, até o final de 2016, um índice de 40%. Na América do Sul, as mulheres respondem por 33,5% do quadro de funcionários e ocupam 24% dos cargos de liderança.

O segundo eixo diz respeito à inclusão. A Schneider Electric adota iniciativas como a concessão de licença-materni-dade de seis meses e de paternidade de 20 dias (inclusive para casais homossexuais e para pais adotivos), e a inclusão do parceiro de mesmo sexo no seguro de vida e no plano de saúde. Uma preocupação da empresa é com a equidade de remuneração. Hoje, no Brasil, a diferença de valores recebidos por funcionários homens e mulheres gira em torno de 2%. “Nossa meta é atingir a completa equidade salarial ainda neste ano”, diz Cleber Pereira de Morais, presidente da Schneider Electric. Segundo ele, faz parte dos valores da companhia acreditar que a diversidade é um motor de seu crescimento e de sua sustentabilidade. “Temos 160 000 funcionários no mundo. A diversidade de pensamento é fundamental para crescermos”, afirma. A Schneider Electric faturou quase 25 bilhões de euros no mundo no ano passado (a empresa não divulga dados financeiros específicos do Brasil).

O terceiro eixo é a educação, para que os funcionários tenham clareza sobre o que significa diversidade e inclusão. São semanas de aprendizado que acontecem globalmente para combater o que Morais chama de “viés oculto”, ou seja, o preconceito que pode estar no inconsciente. Além disso, a Schneider Electric é signatária de compromissos internacionais, como o HeForShe (ElesPorElas), da ONU Mulheres, entidade que promove a igualdade de gênero. Lançado em 2014, o programa visa engajar os homens na eliminação de barreiras que impedem as mulheres de atingir seu potencial. Na Schneider Electric, mais de 20 000 funcionários do sexo masculino no mundo assinaram um compromisso online de apoio à igualdade de gênero.

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