ESG: os melhores em saúde e serviços de saúde no prêmio da EXAME (Leandro Fonseca/Exame)
Rodrigo Caetano
Publicado em 24 de junho de 2022 às 06h00.
Quando assumiu a presidência do Fleury, rede de medicina diagnóstica, em fevereiro do ano passado, a doutora em cardiologia Jeane Tsutsui tinha como missão levar a companhia para além dos laboratórios. A pandemia iniciava sua segunda onda de contágio, e o setor de saúde estava em evidência. O mundo percebia a necessidade de contar com sistemas de saúde acessíveis e eficientes. O desafio é saber como, num país continental com mais de 200 milhões de habitantes, criar uma rede com essa capacidade. “A pandemia mostrou que a saúde é fundamental, e tomamos a decisão estratégica de investir em um ecossistema de saúde sustentável”, afirma Tsutsui. “Colocamos o paciente no centro do processo.”
O plano é criar uma plataforma integrada de saúde, que vai conectar diversos serviços, inclusive de terceiros. Dessa forma, o Fleury pretende participar mais da jornada de saúde dos clientes, da prevenção ao tratamento. Ao mesmo tempo, tem a ambição de solucionar um velho conflito do setor de saúde: a relação entre operadoras de planos de saúde e prestadores de serviços. Com o uso de tecnologia, a empresa se desafia a ampliar o acesso da população à saúde. “Há mais de 20 anos olhamos para a sustentabilidade, mas não podemos nos conformar”, diz a CEO. “O social está atrelado ao negócio. Buscamos resolver um problema da sociedade.”
Esse objetivo está traduzido em metas. A remuneração variável dos executivos depende delas. O Fleury também emitiu debêntures de impacto social, cuja remuneração está atrelada à meta de impactar, com acesso à saúde, 1 milhão de pessoas das classes C, D e E. O sucesso na execução de estratégias ESG como a do Fleury, segundo Tsutsui, depende de planejamento e, especialmente, de quem está no comando das ações. Em 2021, a empresa criou um comitê ESG em seu conselho de administração. Seu papel é alinhar os planos de longo prazo com os princípios socioambientais e acompanhar os resultados, para garantir a implementação.
Uma grande aliada nessa estratégia de aumentar o acesso à saúde é a telemedicina. Esse serviço, oferecido pelo Fleury, já realizou mais de 1 milhão de atendimentos. O interessante é que 40% deles são feitos onde a empresa não tem operação física. As parcerias também são de grande importância. “Não há modelo único em um país tão grande”, diz a CEO. A companhia firmou acordos com os hospitais Beneficência Portuguesa e Atlântica na área de oncologia, e criou um fundo de venture capital, junto com o concorrente Sabin, batizado de Cortez Venture, para investir em startups.
Há também programas de treinamentos voltados para o setor público e de abertura de dados a universidades. E, para garantir os talentos necessários para essa revolução, o Fleury se preocupa com a diversidade. A força de trabalho da empresa é 80% composta de mulheres. “Diferentes culturas ajudam a inovar. Os pensamentos se complementam para achar as soluções”, afirma Tsutsui. “Somos uma empresa que contribui para a sustentabilidade. O ESG não pode ser uma ação pontual.”
Desde um profundo estudo de revisão de propósito, iniciado em 2017, a rede de laboratórios Dasa reuniu objetivos e indicadores bastante ligados ao ESG. Dessa forma, há resultados recentes, como a compra de energia renovável no mercado livre, com 63 unidades já operando com energia limpa, o que corresponde ao consumo mensal de 7,304 megawatts. Ou ainda a entrega das 17 usinas de geração distribuída previstas para 2023, que juntas devem atender 385 unidades de diagnóstico da Dasa. Mesmo durante a pandemia, foram percebidas oportunidades. Um exemplo foi a mudança para aventais não descartáveis com uma tecnologia que aponta quando é a hora de fazer a lavagem, além de mostrar a segurança do item para menor infecção de profissionais e pacientes. Em dois anos foram 1,9 milhão de aventais descartáveis economizados, o que também representa a redução de 95.500 sacos de lixo de 100 litros de resíduos infectantes que iriam para tratamento e depois para o aterro sanitário.
“Fomos a primeira instituição a apontar o surgimento de algumas variantes da covid-19 no país”, diz Sergio Ricardo, vice-presidente de estratégia, jurídico e ESG da Dasa. Com um investimento de 5 milhões de reais, a Dasa fez o mapeamento de 30.000 genomas. Para os funcionários, a Dasa ampliou o Programa Dasa Cuida para o bem-estar físico e mental da rede e de suas famílias por meio de um conjunto de ações baseadas em cinco pilares: espiritual, físico, intelectual, relacional e emocional. Além disso, a companhia reforçou os programas de diversidade e inclusão e mapeou um quadro de funcionários 78% formado por mulheres; 50%, pretos e pardos; 9%, LGBTI+; 8%, pessoas com 50 anos ou mais; e 2%, pessoas com deficiência.
Na Rede D’Or São Luiz o desafio é mostrar para os mais de 67.000 funcionários e demais stakeholders que mudanças climáticas e outras agendas ESG estão diretamente relacionadas ao setor de saúde. Para isso, a empresa tem investido em cursos e palestras sobre o tema, além de promover práticas como um inventário de emissões de gases de efeito estufa desde 2016 — que atualmente acontece em 78 unidades de negócios, sendo 61 hospitalares.
A companhia também está comprometida em zerar as emissões de carbono até 2050. “Todos os meses os hospitais geram indicadores de resíduos e outros dados de sustentabilidade em nosso sistema. O acompanhamento é contínuo e trabalhamos para ampliá-lo cada vez mais. É importante que todos entendam como a saúde é diretamente afetada pelas mudanças climáticas, por exemplo”, diz Ingrid Cicca, gerente de sustentabilidade.
Segundo a executiva, fornecedores também estão sendo envolvidos nos processos e treinados sobre práticas ESG. Ainda na área ambiental, em 2021 o consumo total de água foi 28% menor em relação a 2020. Na frente social, um dos destaques é o montante de 300 milhões de reais destinados ao combate à covid-19, além dos mais de 300 artigos científicos produzidos em 2021 pelos mais de 100 pesquisadores do Instituto D’Or de Pesquisa e Ensino (IDOR), sendo 110 deles relacionados à pandemia. “O IDOR se preparou, por exemplo, para realizar em poucas semanas os testes com a vacina de Oxford em 4.000 voluntários em duas cidades diferentes, Rio de Janeiro e Salvador”, diz Cicca. Neste ano, a Rede D’Or comprou a SulAmérica Seguros, outra empresa comprometida com o ESG.