Revista Exame

Melhores ESG 2022: Mineração, metalurgia e siderurgia

Conheça as empresas que estão fazendo a diferença no setor

Leandro Campos de Faria, gerente-geral de sustentabilidade da CBA: metas de redução de carbono aprovadas pelo SBTi (Leandro Fonseca/Exame)

Leandro Campos de Faria, gerente-geral de sustentabilidade da CBA: metas de redução de carbono aprovadas pelo SBTi (Leandro Fonseca/Exame)

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Rodrigo Caetano

Publicado em 24 de junho de 2022 às 06h00.

Última atualização em 24 de junho de 2022 às 08h54.

Companhia Brasileira de Alumínio

Por muito tempo, usar as palavras “mineração” e “sustentável” na mesma frase foi considerado um sacrilégio. Até que a Companhia Brasileira de Alumínio (CBA), maior mineradora de bauxita e fabricante de alumínio do país, lançou seu plano de mineração sustentável.

A meta da empresa é se tornar a maior fornecedora de alumínio de baixo carbono do mundo, demanda que já está presente entre grandes clientes da companhia. Para isso, conta com a matriz elétrica brasileira, majoritariamente renovável.

A CBA está empenhada em reduzir as emissões de gases de efeito estufa e consegue fabricar um alumínio com um sexto das emissões da média mundial. A intenção inicial é a redução de 40% entre 2019 e 2030, chegando à neutralização em 2050.

Para isso, há iniciativas como aumento da reciclagem, uso de caldeira de biomassa, desde abril de 2020, e modernização de processos produtivos que já garantiram redução de 25% desde o início da meta. “Tivemos em maio as metas aprovadas pela iniciativa Science Based Targets [SBTi] e nos tornamos a primeira empresa de alumínio do mundo a fazer esse trabalho de forma tão estratégica”, diz Leandro Campos de Faria, gerente-geral de sustentabilidade da CBA.

O executivo destaca ainda que práticas de gestão de água e energia, por exemplo, são trabalhadas. A companhia, que possui 100% de energia elétrica renovável rastreável, passou a gerir internamente, desde janeiro, a operação de suas 21 usinas hidrelétricas, até então gerenciadas por contrato de prestação de serviços pela Votorantim Energia. “Isso faz parte do objetivo de redução do consumo de água e melhor eficiência energética”, diz Faria.

O plano ESG da CBA para ser uma empresa de baixo carbono foi construído sobre dez pilares, que se desdobram em 15 programas e 31 metas e é acompanhado por um comitê de sustentabilidade que assessora o comitê de administração.

O ESG também é monitorado na cadeia de produção e há um programa de suprimento sustentável, iniciado no ano passado, para ser cumprido no prazo de cinco anos. Nele, os fornecedores são avaliados rigorosamente em critérios ambientais, sociais e de governança. “Começamos com os que representam 75% dos gastos da companhia e temos visto bons resultados.”

A CBA também se envolve com as comunidades nos locais em que opera. Um exemplo é um programa com o Senai em São Paulo, Minas Gerais e Pernambuco que tem o objetivo de fomentar o ingresso das mulheres na indústria. Com início em 2020, até o momento 253 mulheres foram certificadas e 58 delas contratadas pela CBA. Parte delas também foi admitida em outras indústrias.

“A formação contribui para a nossa meta de ter 50% de mulheres na liderança da CBA até 2030. Atualmente estamos em 19%”, diz Faria. A empresa também trabalha com grupos de afinidade para raça, orientação sexual e de gênero e pessoas com deficiência.


Sigma Lithium

Sediada no Canadá, a Sigma Lithium é uma mineradora ESG — sim, é possível unir as duas coisas. A empresa nasceu com a missão de promover a eletrificação dos transportes. Para isso, está construindo, em Minas Gerais, uma operação de mineração de lítio de rocha dura, componente essencial das baterias utilizadas nos veículos elétricos. Batizado de Grota do Cirilo, o projeto promete gerar 500 empregos diretos e 6.000 indiretos na região, além de 888 milhões de reais em royalties pelos próximos 15 anos.

A parte ESG está nas características da mina. Toda a operação utiliza energia renovável de fonte hídrica localizada a menos de 50 quilômetros do empreendimento. A água utilizada no processo será toda reciclada, sendo 90% de reaproveitamento e 10% perdidos por evaporação.

Na área social, a Sigma fez parceria com o Instituto Federal do Norte de Minas Gerais para oferecer um curso de quatro semestres na área de mineração. O objetivo é capacitar colaboradores locais para trabalhar no projeto.

O mais importante, no entanto, é a meta de atingir o net zero já em 2023. Segundo Ana Cabral-Gardner, co-CEO da companhia, isso representa uma quebra de paradigma na indústria de veículos elétricos. “Esse consumidor demanda neutralidade em carbono”, disse Cabral-Gardner em discurso.

“É contraintuitivo comprar um carro para descarbonizar o meio ambiente, se você está queimando carvão para produzir lítio.” Essa é, de fato, uma grande dor da indústria automotiva. Há dúvidas sobre a verdadeira pegada ambiental dos carros a bateria em virtude das emissões na mineração, e por causa das condições de trabalho em minas de lítio e níquel.

Na Sigma, o papo é outro. A companhia já emprega 300 pessoas, sendo 72% da força de origem local. Ela até lançou o programa Volta ao Lar, que traz de volta ao Vale do Jequitinhonha profissionais que migraram por falta de emprego.


Gerdau

Não existe substituto para o aço. A constatação, feita por Gustavo Werneck, CEO da siderúrgica Gerdau, é fundamental se a humanidade quiser zerar as emissões de carbono. “O aço é um elemento fundamental para a transição energética”, diz Werneck.

“O consumo será muito forte nos próximos anos.” Isso já se reflete nos negócios da empresa, que obteve o melhor resultado de sua história no ano passado. E, segundo o CEO, o ESG foi fundamental para isso.

A maior produtora de aço brasileira está empenhada em diminuir sua pegada de carbono. Em fevereiro deste ano, assumiu o compromisso de reduzir suas emissões de gases de efeito estufa, de 0,93 tonelada de carbono equivalente por tonelada de aço para 0,83 até 2030. Se conseguir, ela vai chegar a uma pegada de carbono inferior à metade da média global do setor, atualmente estabelecida em 1,89 tonelada de carbono por tonelada de aço.

Existem três rotas mais conhecidas para reduzir as emissões no setor de mineração. A Gerdau aposta em duas delas, que têm uma correlação mais direta com seu modelo de negócios: gerar energia por meio de biomassa e reciclar (a terceira envolve a substituição do carvão mineral por outros combustíveis fósseis).

“Quando eu produzo aço de sucata, não há mineração nem barragem. É o melhor dos mundos”, diz Werneck. O aço é um material infinitamente reciclável e, para cada tonelada de sucata reciclada, é evitada a emissão de 1,5 tonelada de CO2e. A Gerdau é a maior recicladora da América Latina, com 11 milhões de toneladas de sucata transformadas em aço anualmente. Atualmente, 73% do aço produzido pela companhia vem da reciclagem.

Para Werneck, a agenda ESG é fundamental para a sobrevivência das siderúrgicas. “Se não construímos um relacionamento com todos os stakeholders, fica muito difícil operar”, diz o CEO. “O modelo de negócios seria questionado pela sociedade.” A Gerdau é uma mostra de que abraçar a agenda ESG abre oportunidades de negócios.

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