Paula Kovarsky, vice-presidente da Raízen (Leandro Fonseca/Exame)
Rodrigo Caetano
Publicado em 24 de junho de 2022 às 06h00.
Última atualização em 24 de junho de 2022 às 08h55.
O gigante de energia Raízen está atento ao mercado de renováveis e à importância das práticas ESG. Neste ano, a companhia uniu estratégia, novos negócios, fusões e aquisições e sustentabilidade sob o comando da vice-presidente Paula Kovarsky. A novidade acontece após um dos maiores IPOs do mercado, concluído em agosto de 2021.
“Estamos com o posicionamento bastante agressivo e comprometidos com a agenda de combustíveis renováveis para viabilizar nossa descarbonização e a de nossos clientes. O que é bom para o meio ambiente e para a sociedade está no centro dos negócios”, diz Kovarsky. A companhia aposta em etanol, etanol de segunda geração, bioeletricidade, biogás e bioprodutos, além de energia solar.
Além disso, há iniciativas como ter 99% da cana comprada de terceiros coberta pelo Programa ELO, criado em 2014 para apoiar a melhoria contínua das práticas adotadas pelos fornecedores de cana da Raízen; a emissão de 1 bilhão de reais em dívida atrelada a compromissos socioambientais; e 1,15 milhão de Certificados Internacionais de Energia Renovável, chamados de I-REC, vendidos entre abril de 2021 e março de 2022.
Ações como essas fazem com que a Raízen apareça em classificações como a A-List global do CDP Clima, que avalia as empresas líderes em performance ambiental e transparência de informações.
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Neste ano, como resultado das boas práticas ESG, a Raízen foi reconhecida pela Sustainable Agriculture Initiative, organização sem fins lucrativos voltada para a promoção de padrões agrícolas sustentáveis. O aval da entidade foi obtido por meio de um programa da Raízen focado em fornecedores de cana-de-açúcar — o projeto é conduzido em parceria com a Imaflora e Solidaridad.
Criada em 2014, a iniciativa estimula o aperfeiçoamento do cultivo, sustentabilidade e gestão das propriedades rurais. Atualmente, mais de 2.000 produtores participam do programa. “Estamos comunicando mais nossas metas e ações para impulsionar o desafio da descarbonização.”
Para que as iniciativas funcionem, a Raízen tem um cuidado com a governança ao adotar práticas como instituir um comitê mensal de sustentabilidade e reuniões trimestrais com o conselho. Na frente de pessoas, há desde atenção com a segurança — “somos obsessivos por práticas seguras e neste ano, por exemplo, tivemos zero fatalidades numa operação de 43.000 funcionários”, diz Kovarsky — até desenvolvimento de carreira, com um crescimento de 19% para 21% de mulheres em cargos de liderança, objetivando chegar a 30% até 2025.
Para fora de casa, a Raízen trabalha com a Fundação Raízen de atendimento a pessoas em situação de vulnerabilidade, além de realizar um trabalho intenso de doações de insumos, como o de álcool em gel na pandemia de covid-19.
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Em julho de 2021, para além do reposicionamento de marca e a mudança de nome de BR Distribuidora para Vibra, a maior distribuidora de combustíveis do país reestruturou a área de ESG com a definição de uma nova vice-presidência, sob o comando de Selma Fernandes.
“Realizamos movimentos estratégicos para nos fortalecer em segmentos com alto potencial de crescimento, considerando negócios renováveis, limpos e sustentáveis”, diz Fernandes. Exemplo disso é o atual projeto piloto de diesel renovável na frota de ônibus de Curitiba.
Segundo a executiva, há metas ESG na remuneração variável das lideranças, como emissão líquida zero para os escopos 1 e 2 até o ano de 2025 e ter 100% das instalações com potencial de migração para o mercado livre de energia até 2024. “Com esses movimentos esperamos um aumento em receita de 30%, e de 50% no Ebitda nos próximos anos, sendo que entre 20% e 30% do resultado será proveniente de novos negócios”, diz.
Para avançar nas ações ESG a companhia também realizou um diagnóstico com uma consultoria que identificou 56 oportunidades de melhoria. “A partir do relatório, acompanhamos os indicadores mensalmente.” Também desde 2020 a empresa reformulou a política de integridade e criou um comitê de ética.
“Não há tolerância para a corrupção na Vibra. Investimos em comunicação e capacitação em políticas e procedimentos anticorrupção, e todos os membros do órgão de governança e 87% dos funcionários foram capacitados sobre questões inerentes ao tema”, afirma Fernandes.
Na frente social a Vibra realiza ações como o apoio logístico à Central Única das Favelas (Cufa) para o transporte de 24 toneladas de alimentos na Campanha SOS Petrópolis, e a inclusão e o acolhimento de funcionários, com metas como 30% de mulheres em contratações futuras.
Na Comgás o ESG é trabalhado especialmente a partir de três bandeiras: valorizar as pessoas e a sociedade, oferecer mais energia com menos emissões e desenvolver a infraestrutura do país. Para isso, o tema toma grande parte da agenda do CEO. “Tenho cobrado de toda a organização um engajamento forte”, diz Antonio Simões, CEO da Comgás.
Isso se dá também pela natureza do negócio, uma vez que o gás natural gera até 23% menos carbono do que a queima de óleo combustível e até 50% menos carbono do que a queima de carvão. A empresa tem a meta de zerar as emissões de gases de efeito estufa (escopos 1 e 2, de emissões diretas e indiretas) até 2025. E tem investido em chamadas públicas para a incorporação de biometano no portfólio.
Outro exemplo é a parceria com a Scania para ampliar o uso de gás natural e de biometano em veículos comerciais pesados e o mapeamento de corredores e rotas logísticas no estado de São Paulo para aumentar o número de pontos de abastecimento. O biometano, além de renovável, pode ser obtido de resíduos orgânicos.
Já na frente social, por exemplo, a Comgás exerce desde um trabalho interno priorizando a segurança dos funcionários e iniciativas de inclusão, que apresentam resultados como 38% de mulheres na liderança, até programas externos.
No programa de formação de gasistas, por exemplo, em parceria com a Secretaria de Desenvolvimento do Estado de São Paulo e com o Centro Paula Souza, a primeira turma foi formada exclusivamente por mulheres e, das 60 alunas, 32 ingressaram no mercado.
Outras duas turmas mistas também foram iniciadas, sendo que a última tem conclusão prevista para agosto. “Estamos envolvendo todos da companhia para desmistificar o ESG e conseguir resultados sólidos. Percebemos como isso gera propósito nas pessoas e soluções importantes para o planeta”, diz Simões.
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