ESG: os melhores em alimentos e bebidas no prêmio da EXAME (Catarina Bessell/Exame)
Rodrigo Caetano
Publicado em 24 de junho de 2022 às 06h00.
Até 2025, a expectativa da fabricante de bebidas Ambev é ter todos os seus produtos envasados em vasilhames retornáveis, ou compostos majoritariamente de material reciclado. O plano é reforçar a aposta em retornáveis, modelo que facilita a logística reversa e, ainda, gera uma renda incremental aos pontos de venda, que podem vender as garrafas por 1 real cada uma. A empresa também passou a divulgar o impacto das embalagens em seu relatório ESG.
Na fabricante de bebidas, toda a alta liderança tem a remuneração variável ligada a metas ESG em temas como economia circular, projetos de impacto social, geração de valor para micro e pequenos empreendedores, além de diversidade e inclusão e governança. Isso ocorre em meio aos bons resultados, como 100% das 32 unidades no país já operando com energia renovável em 2021 e redução de 63% das emissões de gases de efeito estufa (GEE) nas operações diretas desde 2003.
Recentemente, a Ambev anunciou também a primeira grande cervejaria carbono neutro do Brasil, em Ponta Grossa, no Paraná, além da maltaria de Passo Fundo, no Rio Grande do Sul. Essas duas fábricas atingiram 90% de redução das emissões, e os 10% restantes foram neutralizados pela aquisição de créditos de carbono. “Estamos reduzindo as emissões das operações de maneira consistente e não queremos fazer greenwashing ao anunciar algo além do real”, diz Rodrigo Figueiredo, vice-presidente de sustentabilidade e suprimentos da Ambev. A companhia quer zerar as emissões de carbono em sua cadeia até 2040. Para influenciar mudanças no ecossistema, a companhia compartilha boas práticas como, por exemplo, o Sistema de Autoavaliação de Eficiência Elétrica, que tem como objetivo aumentar a eficiência energética das empresas no país. E um projeto piloto que estimula a reciclagem de insumos em pontos de vendas de clientes.
Na frente de recursos hídricos, o projeto Ama, que leva água potável para quem não tem, já arrecadou até o momento mais de 5,7 milhões de reais destinados a 76 projetos, impactando mais de 339.000 pessoas. Em 2021, a iniciativa ampliou a atuação e chegou aos grandes centros urbanos, onde impactou 24.000 pessoas de comunidades paulistas, com a distribuição de 6.000 filtros de barro para ajudar a melhorar a qualidade da água.
Em inclusão e diversidade um destaque é a meta que previa a contratação de 200 profissionais negros entre janeiro e dezembro de 2021. Até hoje, foram mais de 500 pessoas negras contratadas para o quadro de líderes. E, para além das contratações internas, são mais de 1.100 fornecedores negros cadastrados, que já receberam mais de 34 milhões de reais. “Depois de termos um programa de estágio exclusivo para pessoas negras e um trainee mais diverso, entendemos que precisávamos atuar também com os fornecedores”, diz Figueiredo.
Líder do mercado de massas e biscoitos brasileiro, a cearense M. Dias Branco iniciou sua jornada ESG em 2014, quando instituiu a área de sustentabilidade. “Fomos construindo a estratégia aos poucos, com a preocupação de nunca falar o que não éramos”, afirma Andréa Nogueira, diretora de gente, gestão e sustentabilidade da empresa. A discrição sempre foi um símbolo da M. Dias Branco, que desbancou gigantes do setor de alimentação com marcas como Piraquê e Adria.
Em fevereiro deste ano, a companhia sentiu que estava madura o suficiente para comunicar ao mercado os resultados dessa jornada. E mais: madura para assumir compromissos públicos, que se materializaram em 18 metas socioambientais. A nova estratégia ESG conta com três frentes: cuidar do planeta, acreditar nas pessoas e fortalecer as alianças.
“Não podemos exigir do outro algo que não fazemos”, afirma Nogueira, ao explicar por que a empresa decidiu priorizar o amadurecimento do conceito ESG internamente antes de dar publicidade às ações. Esse posicionamento é relevante considerando-se que um dos maiores desafios de uma empresa de alimentos, em relação ao ESG, é cuidar de sua cadeia e fornecimento. A M. Dias Branco busca estar perto das comunidades. Ela investe em ações de empreendedorismo voltadas para padeiros e confeiteiros. Também realiza ações de educação alimentar e multiplicou o volume de doações de alimentos. Neste ano, foram doadas quase 1.000 toneladas. Desde 2020, o volume ultrapassa 8.000 toneladas.
Nenhuma empresa no Brasil detém mais terras produtivas do que a SLC Agrícola. A produtora de soja, algodão e milho, entre outras commodities, foi a primeira do setor a abrir o capital na bolsa de valores, decisão que foi acompanhada da construção de uma estratégia de sustentabilidade, “que é maiordo que a agenda ESG”, segundo Álvaro Dilli, diretor de RH e ESG da SLC. “Sempre fez parte do negócio.” Em maio deste ano, a companhia entrou para o Ibovespa, principal índice da bolsa brasileira. É a primeira vez que uma empresa do agronegócio entra no índice.
Há uma relação intrínseca entre a SLC e a sustentabilidade, segundo Dilli. Afinal, o agronegócio, de maneira geral, está intimamente ligado ao meio ambiente. Para uma trading de commodities, as mudanças climáticas, por exemplo, são um risco imediato e palpável. O desmatamento é outro problema que afeta diretamente os negócios da SLC. A companhia não produz em áreas desmatadas desde 2009. Ao mesmo tempo, adotar uma agricultura sustentável, que não agrida o solo e que respeite os ecossistemas, é uma forma de aumentar a eficiência da operação.
A empresa investe, por exemplo, no sistema de Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF), que reúne múltiplas culturas na mesma área. Isso aumenta a produtividade e melhora a qualidade do solo, além de reduzir as emissões de carbono. “É possível acumular mais carbono do que emitir com o ILPF”, afirma Dilli. A tendência, diz ele, é a digitalização da agricultura. Hoje, é possível pulverizar apenas pequenas áreas que precisam de fertilizantes, por exemplo, diminuindo em 90% a aplicação.