Revista Exame

Conheça as melhores empresas do mercado financeiro em 2023

EXAME premia os gestores dos fundos que melhor souberam aliar performance, consistência e gestão de risco nos últimos dois anos

Eduardo Alhadeff, André Lion, Rodrigo Azevedo, Vivian Lee e Mário Torós, da Ibiuna: 37 bilhões de reais e 200.000 clientes sob seus cuidados (Germano Lüders/Exame)

Eduardo Alhadeff, André Lion, Rodrigo Azevedo, Vivian Lee e Mário Torós, da Ibiuna: 37 bilhões de reais e 200.000 clientes sob seus cuidados (Germano Lüders/Exame)

Publicado em 22 de março de 2023 às 06h00.

Última atualização em 26 de março de 2023 às 13h36.

O ano de 2022 ficou marcado na indústria de fundos do Brasil. O setor teve o maior resgate líquido da história: 162,9 bilhões de reais. As primeiras semanas de 2023 não foram diferentes. A onda de saques parece estar longe do fim. Entre janeiro e fevereiro, os saques já somaram 53 bilhões de reais, segundo dados da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima). O investidor tem tirado seu dinheiro principalmente dos fundos multimercado e de ações. É difícil cravar apenas um motivo que explique esse movimento. Entre as razões apontadas pela Anbima, que faz acompanhamento mensal do setor há mais de 20 anos, está o cenário inflacionário que o país atravessa. A inflação alta comeu a renda do brasileiro, que buscou no seu investimento uma maneira de manter o consumo. O endividamento alto também tem feito o investidor buscar no dinheiro poupado uma forma de saldar suas dívidas. Somado a isso, a troca de governo trouxe incerteza sobre a política fiscal. A expectativa é de que o chamado arcabouço fiscal acalme os ânimos dos investidores ao dar sinais claros sobre o equilíbrio fiscal do país. O cenário também está turbulento. O ciclo de aperto monetário nos Estados Unidos ganhou mais um capítulo após a falência do Silicon Valley Bank, banco que financiava as startups. O FED, banco central americano, mudará o rumo da política monetária? E como o Brasil se posicionará? Como investir em um cenário de inflação e taxa de juro altas em todo o mundo?

Mais do que nunca, ter ajuda de profissionais que se dedicam a elaborar a melhor estratégia é essencial para o investidor diante de um cenário tão adverso. A edição especial Onde Investir 2023 tem como destaque o prêmio Melhores do Mercado, o mais tradicional ranking de fundos de investimento do país, com duas décadas de história e credibilidade. O ranking deste ano foi elaborado pelo BTG Pactual (do mesmo grupo que controla a EXAME), partindo de uma metodologia definida pela EXAME com a ajuda de especialistas em investimentos. Premiamos os fundos que tiveram a melhor performance dos últimos dois anos, combinando consistência com gestão de risco (a metodologia completa está no site da EXAME). Nas páginas a seguir, trazemos os depoimentos das três assets de destaque em cada uma das seis categorias, além de tabelas com os fundos top 10 em cada frente. Os gestores compartilham sua estratégia e sua visão para o atribulado ano de 2023. Confira ainda uma entrevista especial com a ­Ibiuna, a Asset do Ano do prêmio Melhores do Mercado.  


ASSET DO ANO

No Brasil, relação risco e retorno não compensa

Ibiuna ganha principal prêmio do Melhores do Mercado com a menor exposição histórica ao país | Graziella Valenti

A Ibiuna, casa fundada em 2010 por Mário Torós e Rodrigo Azevedo, é hoje a maior gestora independente de fundos exclusivamente de ativos líquidos do Brasil, com um total de 37 bilhões de reais sob seus cuidados. “Parte relevante do trabalho da vida das pessoas”, gosta de dizer Torós, sob o que esse volume de recursos significa em responsabilidade para os gestores. “Esse, no frigir dos ovos, é nosso trabalho. Cuidar desse dinheiro.” São mais de 200.000 investidores que aplicam na casa. Para efeito de comparação, neste momento, a gestora está maior do que a Verde, do oráculo brasileiro Luis Stuhlberger, que tem em torno de R$ 32 bilhões. A líder no país, considerando ativos líquidos e iliquídos é a SPX, com quase R$ 75 bilhões de ativos sob gestão.

Pela experiência dos fundadores, ambos ex-diretores do Banco Central, a Ibiuna se tornou conhecida no mercado pela sua profunda capacidade de operar ciclos de políticas monetárias no Brasil e no mundo. “Nascemos com esse conceito em 2010 e fomos adicionando regiões e capacidades”, afirma Caio Santos, sócio que está à frente da área de relações com investidores. A excelência na leitura de cenários atravessa todos os produtos da casa, que atua em três vertentes principais: fundos multimercado macro, fundos de ações e fundos de crédito. 

A Ibiuna é a vencedora do ranking Melhores do Mercado da revista ­EXA­ME, na edição de 2023, referente ao desempenho do ano passado. Isso significa que foi a gestora com desempenho mais destacado nas diferentes categorias de fundos analisados pela pesquisa. A premiação ocorre em um momento em que a cautela com o Brasil está no maior nível da casa desde sua criação. Essa percepção de risco beneficiou os investimentos em todas as carteiras.

A casa se sobressaiu, mesmo em um dos períodos mais difíceis para a indústria. “O vento, até meados do ano passado, era muito favorável aos independentes. E isso tem relação com um cenário de juro mais baixo e toda a questão das plataformas de investimento e migração de recursos que saí­ram dos bancos”, lembra Santos. “Pela primeira vez em muitos anos, a indústria pega um vento contrário.”

Pouco tempo após o lançamento dos multimercado, a Ibiuna também criou sua família de fundos de ações, aos cuidados de André Lion, que se juntou ao time cerca de um ano após a fundação da gestora. Mais recentemente, vieram os fundos de crédito, aos cuidados da dupla Vivian Lee e Eduardo Alhadeff. A gestora, que além dos fundos tradicionais possui produtos de previdência, está sempre atenta a novas frentes e oportunidades. O segredo, porém, na visão de Caio Santos, é acompanhar o desenvolvimento do mercado brasileiro e as demandas dos investidores.   


Cautela ainda é o nome do jogo

Gestores da Ibiuna explicam que o cenário macro vai ditar os rumos da microeconomia, e que os ruídos do novo governo atrapalham | Graziella Valenti

André Lion, da Ibiuna: “Resultados das empresas serão afetados negativamente pelas despesas financeiras” (Germano Lüders/Exame)

Dos 37 bilhões de reais sob gestão da Ibiuna, cerca de 85% estão dentro dos fundos macro. Há mais 3 bilhões nas carteiras de ações, e pouco mais de 2 bilhões de reais estão nos fundos de crédito. Todas as análises de investimentos, sejam macro, sejam micro, são fundamentalistas, ou seja, estudadas profundamente caso a caso. Além de vencer o ranking como gestora do ano, a casa teve dois fundos vencedores do primeiro lugar, nas categorias Long & Short e Long Bias. 

Confira a seguir a entrevista com o fundador, Mário Torós, e com André Lion, responsável pelos fundos premiados por categoria. 

Como ex-diretor do Banco Central, com sua experiência em política monetária, o que mais o preocupa no Brasil neste momento?

Mário Torós: Tivemos dois aprendizados muito importantes no Brasil. Um mais antigo: os ciclos econômicos brasileiros podem convergir com os globais. Mas houve um mais recente, e me espanta como se fala pouco disso. Nós já vimos, já experimentamos na prática, que quando a política monetária e a política fiscal andam juntas os resultados são extremamente auspiciosos. A partir de 2015 [quando a taxa Selic ultrapassou 13% ao ano], quando política fiscal e monetária foram na mesma direção, colhemos resultados e, antes da pandemia, a taxa de juro do Brasil estava baixíssima. [Ao fim de 2019, a Selic estava em 4,5% ao ano]. Quando as políticas andam juntas, o Brasil não é diferente de nenhum outro país. É possível atingir taxas de juro muito mais baixas, mesmo sendo o Brasil um país com endividamento alto e maior déficit entre os emergentes. Fico estarrecido ao ver como as pessoas não têm clareza desse aprendizado. Não é uma discussão teórica nem ideológica. 

Você tem uma clareza para o cenário global de 2023?

Torós: No mundo, a discussão é como vai ser o landing, a aterrissagem da economia. A sensação é de que a economia, especialmente a americana, não está desacelerando. Estamos ainda com uma percepção, e desde o início deste ciclo temos falado isso, de que a desaceleração desta inflação é um processo mais lento. Principalmente nos Estados Unidos. Por outro lado, outras economias, principalmente de países emergentes, e não é só o caso do Brasil, já estão com taxas de juro bastante altas. Países da América Latina, como México e Chile, já estão atingindo os níveis de juros em que precisam ficar.

E para o Brasil, você consegue traçar um cenário para este ano?

Torós: Temos colocado nas nossas cartas de gestão que estamos com pouca exposição. Um pouco porque achamos que, de fato, no Brasil o retorno esperado sobre o risco não está interessante. Portanto, vemos em outras economias opções melhores do que aqui. O Brasil está com discussões não muito conectadas com o que está havendo no mundo. Portanto, achamos que isso, no tempo, vai ter efeito. Um deles é a extensão da política monetária extremamente restritiva. 

E de que ordem está sua exposição em Brasil? 

Torós: Ela varia muito. Não é de hoje, mas certamente desde o começo de 2022, a exposição em Brasil está muito menor do que esteve nos anos anteriores. Historicamente, de 50% a 70% sempre esteve alocado em Brasil. Obviamente a empresa mudou, trouxemos gente especializada em outros países, e já seria natural essa fatia cair. Mas, além disso, o risco Brasil hoje representa algo bem baixo no todo, algo entre 20% e 30% do livro. Isso é menos do que imaginaríamos, em princípio, mesmo com a nossa diversificação natural dos últimos anos. 

Há muito fluxo migrando, especialmente desde o segundo semestre de 2021, para a renda fixa. Há muita coisa barata na bolsa que dá receio de comprar em razão do fluxo?

André Lion: Faz algum tempo que estamos tentando colocar, para os clientes, alguma tranquilidade nessa ansiedade de que a bolsa está barata. Não vemos essa oportunidade histórica única. Justamente por essas incertezas que a gestão dos fundos macro também se mantém distante do país. É uma dinâmica diferente do que as pessoas, no geral, estão enxergando. Começamos a ver dessa forma desde o fim de 2021. Colocamos essa cautela extra no olhar. E continuamos assim.

O que foi o maior acerto em 2022 e o que está claro para 2023?

Lion: Nosso maior acerto em 2022, e como consequência vieram as escolhas, foi enxergar o cenário de custo de capital ascendente no mundo. Foi esse ambiente, que entrou no fim de 2021 e durou o ano passado todo, que nos permitiu fazer boas escolhas de ativos para investir. Não tivemos um único grande ativo. Mas ganhamos dinheiro em Cielo, Petrobras, Assaí, BB Seguridade, para citar algumas. 

Para 2023, você tem alguma clareza sobre a bolsa?

Lion: De novo: o cenário macro é que vai bater no micro. E estamos ainda naquela época, quando há trocas de mandato, em que é preciso entender como o governo reage às situações. Neste momento, o que vemos é um governo que sempre cria ruído. Com isso, a taxa de desconto dos ativos é sempre maior. Continua­mos em busca de companhias que dependam pouco do crescimento macroeconômico, que tenham baixa alavancagem, com despesa financeira controlada, e que gerem caixa. E uma das coisas que eu espero é que a bolsa não vá para 150.000 pontos. O que não significa que alguns ativos listados não possam subir 30%, 40% ou 50%. O desafio é encontrar essas oportunidades. 

A questão da alavancagem das companhias volta a preocupar. Como está sua percepção sobre isso?

Lion: A situação do conjunto das empresas hoje é melhor do que era em 2015, no ciclo anterior de alta da Selic. O que estamos vendo agora não é do ponto de vista de ter quebradeira geral. Mas acreditamos que os resultados das empresas serão afetados negativamente pelo aumento das despesas financeiras. As companhias continuam rodando com seus planejamentos, só que o lucro gerado vai ser menor. Na questão de crédito, é preciso ver que a situação das pessoas físicas no Brasil é mais complexa. Essa questão do endividamento e da taxa de juro bate muito na vida das pessoas. E, claro, isso se reflete na parte do crescimento de receita das empresas. 

Essas são as duas questões que mais o preocupam?

Lion: Essas são as duas grandes dinâmicas que estamos olhando. Não que isso seja uma sentença de morte. E não quer dizer que é algo imutável. Ao contrário. Está muito na mão do governo e é uma chave quase fácil de virar. Se o governo começar a fazer as coisas da maneira correta, isso muda e começam os efeitos benéficos.  

Acompanhe tudo sobre:Revista EXAME

Mais de Revista Exame

Borgonha 2024: a safra mais desafiadora e inesquecível da década

Maior mercado do Brasil, São Paulo mostra resiliência com alta renda e vislumbra retomada do centro

Entre luxo e baixa renda, classe média perde espaço no mercado imobiliário

A super onda do imóvel popular: como o MCMV vem impulsionando as construtoras de baixa renda