Revista Exame

O brasileiro ficou mais velho e mais rico

Os brasileiros entre 50 e 70 anos de idade estão se tornando mais numerosos. Mesmo com mais gastos de previdência, isso é mais uma oportunidade para a economia do país

Riqueza madura: nos últimos dez anos, Acácio Queiroz, presidente da Chubb, triplicou o patrimônio da família (Alexandre Battibugli/EXAME.com)

Riqueza madura: nos últimos dez anos, Acácio Queiroz, presidente da Chubb, triplicou o patrimônio da família (Alexandre Battibugli/EXAME.com)

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Da Redação

Publicado em 10 de novembro de 2011 às 18h19.

São Paulo - O paranaense Acácio Queiroz, presidente da seguradora americana Chubb no Brasil, exibe em seu escritório um quadro com seus 22 cartões de visita, acumulados ao longo da carreira. O primeiro deles é de 1973, quando começou a vender seguros em Curitiba aos 25 anos de idade.

Hoje, aos 63, Queiroz continua desfrutando de uma vida profissional plena, que inclui jornadas de 12 horas de trabalho, viagens internacionais e o comando de uma filial cujos ativos somam quase 1 bilhão de reais. “Ainda hoje recebo três propostas de emprego por ano”, diz Queiroz, que está oficialmente aposentado desde 2001 pelo Instituto Nacional de Seguridade Social.

Nesses últimos dez anos, ele triplicou o patrimônio conquistado nas décadas anteriores de trabalho, hoje composto de imóveis, carros, barcos, previdência privada e outros investimentos — prova de que um profissional maduro ainda pode acumular muita riqueza.

Naturalmente, a evolução patrimonial do presidente da Chubb, que exerce altos cargos há um bom tempo, não representa a média da população brasileira. Mas Queiroz faz parte de um grupo ainda pouco estudado no Brasil e que irá quase dobrar de tamanho nas próximas três décadas: o dos brasileiros de 50 a 70 anos.

São pessoas que estão no ápice de seu capital intelectual e financeiro e serão protagonistas do que os estudiosos descrevem como o segundo bônus demográfico. O Brasil está atravessando uma fase em que o perfil etário da população ajuda o crescimento do país.

O primeiro bônus resulta da soma do número de pessoas em idade economicamente ativa se tornar maior do que o total de crianças e idosos. Hoje, para cada dez trabalhadores que contribuem para a economia, há 4,8 inativos que precisam ser sustentados. O segundo bônus advém do aumento da proporção dos que estão no auge da idade ativa.

Mais velhas e ainda produtivas, essas pessoas acumulam a maior parte do patrimônio e dos investimentos no país. E, quanto mais educada for essa faixa da população, maior será a força propulsora sobre a geração de capital. Mesmo ainda longe de um nível ideal na educação, o Brasil usufrui do segundo bônus.


“O primeiro bônus é uma janela de oportunidades e tem data para acabar. O segundo é permanente e seu impacto na economia pode ser maior”, diz o demógrafo Cássio Turra, da Universidade Federal de Minas Gerais.

Ele calcula que, até 2045, o segundo bônus demográfico tem potencial para impulsionar um avanço anual de 2,2% no produto interno bruto. Ou seja, se o Brasil crescesse 4,4%, metade se deveria ao bônus.

Ciclo da vida

Ser mais rico na velhice do que na juventude é natural. Na teoria do ciclo da vida, do italiano Franco Modigliani, ganhador do prêmio Nobel de Economia de 1985, a poupança para a aposentadoria é fruto do desejo indivi­dual de manter um padrão estável de consu­mo ao longo da vida.

Nada mais lógico, portanto, que as pessoas abram mão de uma parcela do consumo imediato para garantir uma velhice tranquila. Como a expectativa de vida do brasileiro avançou (hoje, a média é 73 anos, ante 45 anos na década de 40), junto com o progresso da medicina e a melhoria das condições de vida, uma grande parcela dos que se aposentam continua no mercado de trabalho e amplia a renda.

“Metade dos que se aposentam saca parte da previdência privada para abrir um novo negócio”, diz Marco Antonio Rossi, presidente da Bradesco Seguros e da Federação Nacional de Previdência Privada. 

Com mais renda, essa turma dos 50 aos 70 anos pode gastar mais. No Brasil, o consumo per capita dos idosos é o dobro da média de crianças e jovens — padrão observado em países desenvolvidos, como Estados Unidos, Suécia e Japão.

Um estudo do economista Marcelo Neri, da Fundação Getulio Vargas do Rio de Janeiro, mostra como o envelhecimento é um fator de escalada na pirâmide social. Um exemplo: em 1993, apenas 8,3% dos brasileiros que tinham de 40 a 44 anos estavam na classe AB.

Quinze anos depois, em 2008, esse grupo envelheceu e aumentou: 18% dos que tinham de 55 a 59 anos estavam nas faixas mais altas de consumo. A projeção para 2013 é que 23% dessa turma — que agora ultrapassou os 60 anos — será da classe AB. 


Os efeitos do segundo bônus demográfico têm trazido novos desafios às empresas, que sempre trataram cinquentões e sessentões como um submercado.

A construtora Tecnisa, de São Paulo, vende 25% dos imóveis para clientes com mais de 50 anos. Boa parte deles compra apartamentos de até 120 metros quadrados.

“É provável que esse seja o último imóvel que o cliente vai comprar na vida e, portanto, ele se imagina envelhecendo nele”, diz Romeu Busarello, diretor de marketing da Tecnisa.

Por isso, 90% dos novos empreendimentos da empresa trazem atributos que tornam o imóvel adaptável a idosos, como banheiros maiores.

Naturalmente, o envelhecimento populacional não é só vantagem. Implica enfrentar questões como o aumento dos gastos com saúde e previdência, e seu impacto nas contas do governo.

O projeto National Transfer Accounts, ligado à Universidade da Califórnia, em Berkeley, que acompanha as transferências de recursos entre gerações no mundo, estima que a arrecadação de tributos no Brasil não acompanhará a evolução do custo com aposentadorias.

Caso não haja nenhuma reforma, a relação entre arrecadação e gasto será 31% menor em 2050 do que foi em 2010. Sim, o Brasil ficará mais velho e mais rico, mas sustentar a aposentadoria pública será mais difícil.

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