Revista Exame

Mais inox, menos vidro

O cuidado com o envase do vinho é bom para o planeta, os produtores e, claro, os consumidores

 (Catarina Bessell/Exame)

(Catarina Bessell/Exame)

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Da Redação

Publicado em 13 de outubro de 2022 às 06h00.

Nas garrafas cantou, uma noite, a alma do vinho: “Homem, para ti exalo, ó caro deserdado, Nesta prisão de lacre vermelho e de vidro, Um canto cheio de luz e de fraternidade!”
Charles Baudelaire 

Sem dúvida, muito da magia do vinho acontece na garrafa, desde as imagens mais romantizadas até a evolução do vinho em si. O uso do vidro no mundo do vinho é de um impacto notável.

No momento em que lidamos com uma emergência climática catastrófica, pensar em maneiras para reduzir os impactos causados pelo vidro se torna uma preocupação prioritária para os produtores. Desde a diminuição do peso das garrafas e sua reciclagem até o uso de outros tipos de envase, devemos buscar um olhar ético para a produção e o consumo do vinho.

Em 2021 foram produzidos cerca de 260 milhões de hectolitros de vinho, segundo o site statista.com. A quantidade de vidro para envasar tudo isso me parece incontável. E, do ponto de vista ambiental, o vidro é o material mais dispendioso em relação à pegada de carbono. Cerca de 35% do custo de uma garrafa de vinho é vidro.

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Dito isso, uma das maneiras mais inovadoras que vejo no servir são os vinhos on tap (no bom português, “na torneira”). Esse modelo já figura em bares de vinho e restaurantes mundo afora, mas por aqui a gente não se depara com ele com tanta facilidade. São vinhos envasados em barris de inox (conhecidos como keg) com 20 litros de volume (o equivalente a 24 garrafas de 750 mililitros), normalmente. Vinte e quatro garrafas de vidro vazias pesam aproximadamente 16 quilos, enquanto um barril de cilindro de vinho vazio pesa apenas 3,5 quilos.

Em 2021 resolvi colocar de pé um projeto que tem como base fundamental o modelo “na torneira”. Começamos com um vinho tinto produzido no Sul do Brasil. A escolha por um rótulo brasileiro veio por força e vontade, para incentivar a produção nacional e viabilizar uma logística também menos dispendiosa. É algo bem simples. Enviamos os barris de inox para o produtor, que enche os envases e os manda de volta cheios para distribuirmos para bares e restaurantes pelo Brasil.

Envelhecimento no inox

Uma das primeiras coisas que me questionam é: “Esses vinhos envelhecem mal?” Muitos consumidores têm más lembranças de envases alternativos, muito por causa dos vinhos em caixas, como no modelo bag in box ou no tetrapack, material com muita porosidade. Para os vinhos on tap, a coisa muda bastante de figura. Como o volume de um barril de inox é maior, o vinho demora mais para evoluir. Além disso, o recipiente escuro ajuda bastante em sua conservação.

Com os devidos ajustes, me parece o modelo mais acertado para uma faixa de vinhos para o consumo do dia a dia. Hoje o meu projeto batizado de “Tão longe, tão perto” conta com a participação de seis vinhateiras e vinhateiros, todos projetos familiares e de produção artesanal, que têm seus vinhos comunicados de forma responsável e ética. Com projetos como esse, ganham o planeta, os produtores e o consumidor, certamente.  

(Divulgação/Divulgação)

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