Revista Exame

Longe da maturidade

O Brasil, decorridos 30 anos de democracia, tem escolhas muito restritas para a ocupação da Presidência da República. A responsabilidade por isso não é de forças ocultas — e sim dos desejos políticos da população

Montagem com as candidatas à presidência Marina Silva e Dilma Rousseff (EXAME.com)

Montagem com as candidatas à presidência Marina Silva e Dilma Rousseff (EXAME.com)

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Da Redação

Publicado em 10 de setembro de 2014 às 18h00.

São Paulo - Um país com 200 milhões de habitantes, titular da sétima maior economia do mundo e dono de um PIB de 2,2 trilhões de dólares, fruindo o 25º ano de vigência de sua Constituição e a caminho de realizar a sétima eleição presidencial consecutiva com voto livre, direto e universal, já deveria estar bem grandinho em matéria de maturidade democrática. Não está.

Alguma coisa deu errado nestes quase 30 anos que passaram desde o fim do regime militar, e o resultado é que o Brasil de 2014 se vê diante de uma constatação de chorar: depois de tanto tempo, tudo o que temos a apresentar é uma opção entre Dilma Rousseff e Marina Silva para a Presidência.

Só isso? Sim, só isso — uma “gerentona” imaginária, que em 12 anos de presença no governo petista não foi capaz de gerir nada, e uma antiga evangelista ecológica cujas propostas de governo compõem um tumulto incompreensível. A primeira fez um governo nulo, levando-se em conta as necessidades e as urgências do Brasil — e promete mais quatro anos da mesma coisa.

A segunda só chegou à disputa por um acidente do destino e pelo vasto enjoo de milhões de brasileiros com 12 anos de ocupação do governo por Lula e pelo PT; sua credencial mais atraente é não ser Dilma Rousseff.

Nessas horas é comum ouvir que o país merecia coisa melhor. Mas a verdade, para quem pretende ir diretamente aos fatos, é que não merece. Nem Dilma nem Marina chegará ao Palácio do Planalto porque serão nomea­das, assim como não foi nomeado nenhum de seus antecessores desde Fernando Collor — como é bem sabido, só assume a Presidência quem é colocado ali pela maioria absoluta de votos do eleitorado brasileiro.

Se a escolha de 2014 reduziu-se às duas candidatas que estão na frente da corrida, a responsabilidade não é de forças ocultas, e sim dos desejos políticos da maior parte da população. Eis aí a característica mais sóbria da democracia: ela assegura que nenhum país tem governos abaixo de seus méritos.

A presidente Dilma Rousseff acaba de demitir o ministro da Fazenda, Guido Mantega, ao anunciar que no caso de ser reeleita ele não estará em seu segundo governo; pelo jeito, chegou à conclusão que detonar por antecipação seu colaborador mais graduado, leal e obediente vai lhe render votos. Fica esquisito.

Se Mantega, o ministro da Fazenda que mais tempo durou no cargo na história republicana, não serve a partir do dia 1o de janeiro de 2015, por que serviria agora? Se ele é tão ruim assim, a presidente não deveria nos castigar com sua manutenção no ministério por mais três meses inteiros.

Ao mesmo tempo, a única pergunta que interessa nessas circunstâncias ficou sem resposta: quem irá para o seu lugar, e o que vai mudar na gestão concreta da economia com o novo doutor ministro? É um mistério, enfim, saber por que diabo o homem ficou lá tanto tempo.

É bom prestar atenção na alucinante punição que as autoridades esportivas acabam de aplicar ao Grêmio Foot-Ball Porto Alegrense, a mais agressiva desde a fundação do clube em 1903. Ela comprova, por trás de toda a discurseira de “combate ao racismo” tão louvada pelos defensores da decisão, que muita gente, com boas ou más intenções, está construindo um Brasil totalitário.

Com a expulsão do Grêmio da Copa do Brasil porque alguns indivíduos, já identificados, chamaram o goleiro do Santos de “macaco” durante um jogo em Porto Alegre, foram punidos todos os jogadores gremistas, que não insultaram ninguém, e dezenas de milhares de torcedores que nada fizeram de errado — a maioria dos quais, aliás, nem sequer estava presente no estádio.

Esse disparate se chama condenação coletiva, algo que simplesmente não existe na lei brasileira; um de seus princípios mais básicos é a individualidade dos delitos e das penas, ou seja, garante-se ao cidadão que ele só pode ser castigado se fizer, em pessoa, algo proibido em lei.

Alega-se que o castigo foi um “exemplo”; pune-se a todos para assustar alguns. Ditaduras adoram esse tipo de conversa. 

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