Revista Exame

"Livre-se dos mercenários que usam terno", aconselha Henry Mintzberg

Se depender do professor canadense, ninguém mais ganha bônus, os MBAs deixam de existir e o mundo passa a copiar o jeito brasileiro de fazer negócios

Henry Mintzberg, professor da Universidade McGill, de Montreal: “Procure gente que se importa com a empresa, não quem só quer ganhar mais” (Divulgação/Exame)

Henry Mintzberg, professor da Universidade McGill, de Montreal: “Procure gente que se importa com a empresa, não quem só quer ganhar mais” (Divulgação/Exame)

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Da Redação

Publicado em 7 de dezembro de 2011 às 05h00.

São Paulo - Henry Mintzberg, professor da Universidade McGill, de montreal, é um dos nomes mais importantes e também mais polêmicos da área de administração.

Crítico dos cursos de MBA e do pagamento de bônus, Mintzberg esteve na FGV-Rio há poucos dias com um grupo de executivos estrangeiros que fazem um curso itinerante ao redor do mundo. O Brasil é o quinto país — depois de Inglaterra, China, Índia e Canadá —, pelo qual os estudantes passam neste ano. 

1) EXAME -  Por que o senhor defende que as empresas eliminem o pagamento de bônus? 

Henry Mintzberg - Porque é difícil medir os efeitos do trabalho de um presidente. Em geral, presidentes ficam de três a cinco anos na empresa. É preciso analisar dez anos para falar em sucesso. A ideia de bônus me lembra o adestramento de um cão, que ganha biscoitos quando pula um obstáculo. Se o executivo acredita na empresa, deve comprar suas ações.  

2) EXAME - Mas as pessoas não devem ser recompensadas por bons resultados? 

Henry Mintzberg - A recompensa é o salário. Os executivos podem gerar muito lucro em um ano de maneira irresponsável apenas para ganhar dinheiro extra. Veja o que aconteceu com os bancos americanos antes da crise de 2008. Os executivos foram embora com bônus enormes porque trouxeram muito lucro com as hipotecas. 

3) EXAME - Como manter ou atrair os melhores executivos se eles ganharão o mesmo que os outros?

Henry Mintzberg - Procure gente que se importa com a empresa, não quem só quer ganhar mais. Ou seja, livre-se dos mercenários que usam terno e dizem ser executivos. Na maior parte das vezes, o ideal é buscar gente de dentro da própria empresa. Um grupo coeso e forte faz com que as pessoas se comprometam e, portanto, trabalhem melhor.

4) EXAME - Qual é a diferença entre líder e gestor? É possível ser os dois ao mesmo tempo?

Henry Mintzberg - Não só é possível como necessário. Um administrador que não lidera não consegue estimular as pessoas. Já um líder que não sabe administrar não sabe o que se passa na empresa. É preciso sempre analisar esses profissionais dentro de cada contexto. Você acha que a mesma pessoa serviria para liderar a Petrobras e o time do Flamengo?

5) EXAME - Por que o senhor diz que os cursos de MBA não formam gestores nem líderes? 

Henry Mintzberg - Cursos de MBA são bons para quem quer ocupar funções nas áreas de finanças e marketing, mas geralmente não servem para quem está na gestão. Não se forma um gestor em uma sala de aula. Gestão não é profissão, é prática. 

6) EXAME - O senhor é considerado um guru da administração. O que o senhor já administrou?

Henry Mintzberg - Não me considero um guru e não gosto dessa palavra. Sou apenas o melhor que posso ser. Administrei algumas coisas, sim, mas não muitas. Se esse quesito importa, esta entrevista não deveria acontecer. 

7) EXAME - O senhor costuma falar que o Brasil tem o jeito “por que não?”. Como é isso?

Henry Mintzberg - Os brasileiros não são pessoas que perguntam: “Por que deveríamos fazer isso?”. Costumam dizer: “Claro, por que não? Vamos tentar”. Essa postura é a chave para o desenvolvimento das pessoas, das empresas e do país.

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