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Sofia Esteves | Liderando na incerteza

Cada gesto vai impactar a relação dos cidadãos com seus governantes. Não será diferente dentro das empresa

Lideranças: com o aumento das incertezas, o bem mais valioso das organizações é amplamente afetado: o bem-estar dos colaboradores (Getty Images/Getty Images)

Lideranças: com o aumento das incertezas, o bem mais valioso das organizações é amplamente afetado: o bem-estar dos colaboradores (Getty Images/Getty Images)

Sofia Esteves

Sofia Esteves

Publicado em 26 de março de 2020 às 05h30.

Última atualização em 2 de junho de 2020 às 17h11.

Com o aumento das incertezas, o bem mais valioso das organizações é amplamente afetado: o bem-estar dos colaboradores. Crises econômicas proporcionam desafios para toda a sociedade, gerando cenários de medo, estresse e pressão. Portanto, já que fomos constatados como o país mais ansioso do mundo, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), qualquer gerenciamento de crise deve olhar para essa realidade.

A retração econômica global está levando empresas a tomar medidas emergenciais que assegurem a saúde dos colaboradores e contenham os gastos. O momento pede ações rápidas diante do cenário instável com providências nem sempre fáceis. Isso exige a participação de personagens fundamentais em qualquer organização: as lideranças!

O momento demanda que as lideranças vão além dos padrões a que estão habituadas e sejam facilitadoras de novas ações e possibilidades. O mundo todo está olhando para as ações que os presidentes das nações estão tomando diante da pandemia. Cada gesto é analisado e está repercutindo em aprovação ou rejeição, o que, após o término da crise, vai impactar profundamente a relação de cada país com seu líder. Não será diferente dentro das empresas. As circunstâncias estão nos fazendo rever prioridades, caminhos e modelos de gestão e nunca antes tivemos uma oportunidade tão importante de descobrir a verdadeira liderança — a arte do saber cuidar.

O que cabe aos líderes neste momento? Em primeiro lugar, calma! Para liderar com eficiência, é necessário ter domínio das próprias emoções. É comum haver falhas da liderança pela falta de autocuidado, o que acaba afetando a inteligência emocional dos gestores. O líder deve servir às necessidades dos colaboradores e da organização.

Mas já diziam nossas avós: “Saco vazio não para em pé”. Um líder precisa se alimentar corretamente, dormir, exercitar o corpo e ter as emoções em dia para ser um pilar de sustentação. Até porque cair nas armadilhas do estresse é um convite às decisões impulsivas e ao esgotamento mental que resultam em comunicações incorretas e, por vezes, irritadiças — gerando conflitos e aumentando a demanda de problemas a ser resolvidos. Reserve pequenos momentos do dia para recuperar o fôlego e respirar.

Descubra o poder que um grande copo d’água tem de oxigenar as ideias. Aproveite também para fortalecer os laços familiares, convidando para momentos comuns de lazer, como participar de jogos de tabuleiro, montar quebra-cabeças ou outras atividades que todos gostem de fazer. Garanto que é fundamental seguir esse primeiro passo para agir com excelência.

Em segundo lugar, valores e atitudes. Em mares agitados a confiança é o guia. Ela deve começar de você. Se ocupa uma posição de gestão é porque mereceu esse lugar. Agora, mais do que nunca, é hora de colocar seu valor em prática. Confiança gera conexão. Quando os liderados sentem segurança em relação aos gestores é infinitamente mais fácil conduzir equipes em direção às soluções eficazes.

Seu papel é criar esse ambiente por meio de acolhimento e transparência. Isso envolve vulnerabilidade. Você não precisa esconder sua humanidade, pelo contrário: a coragem não é desprovida de medo. Admiramos os corajosos porque sabemos que eles enfrentam os próprios desafios e limitações e semeiam segurança — e também, tão importante no momento atual, plantam a esperança.

A transparência deve trazer clareza aos colaboradores sobre a realidade da empresa diante da crise. A confiança e a esperança atuam juntas quando o líder deixa claro que a união dos colaboradores é capaz de atravessar qualquer situação. Dessa forma, o senso de coletivo é despertado, a criatividade é ativada e a vontade de vencer fica maior do que o medo de perder, tornando a empresa uma família, onde todos batalham e cuidam do bem-estar coletivo.

A confiança gera esperança. A esperança produz “magia”, paixão, coragem. A “magia” desperta nossas habilidades e motiva a potência de cada colaborador para trabalhar em união. Dessa maneira, forma-se uma legião de talentos confiantes, trabalhando com a certeza de que conquistarão os objetivos propostos. Você já presenciou o poder que tem um profissional que confia em suas capacidades? É disso que estou falando. E você, como líder, tem a responsabilidade de acender essa chama vencedora em cada um de seus liderados.

Em terceiro lugar, ações estratégicas. Desperte lideranças: crie um comitê de soluções emergenciais com gestores de cada área para que, juntos, concluam qual o cenário atual e elaborem soluções eficientes para cada etapa da crise. Para haver sucesso, a escuta ativa é essencial. Crie um ambiente em que todos sintam que são importantes e que suas sugestões são consideradas, mesmo que não sejam aplicadas.

A união dos times em um mesmo grupo fortalece a compreensão do que cada área está fazendo para conter a crise, criando um ambiente em que, além de se inspirarem uns nos outros, os gestores têm a oportunidade de contribuir com ideias em setores que não são sua responsabilidade. Uma ótima oportunidade para perceber como esse modelo de gestão coletiva pode ser criativa e eficiente.

Reveja metas e objetivos, mas preze pela responsabilidade social: seja por medo, seja por necessidade, como a maioria, muitas empresas estão cortando investimentos e custos. É importante prever diferentes cenários, do mais otimista ao mais pessimista. Porém, é preciso equilibrar as necessidades sociais, como a manutenção de empregos, com a necessidade da sustentabilidade do negócio. Em casos de crises econômicas, conseguir um novo emprego não é simples.

Logo, a responsabilidade social deve ser mais importante do que investimentos que não sejam essenciais para o futuro da organização. Um líder que se compromete a cuidar dos colaboradores em tempos de crise certamente será lembrado e valorizado pelo time e pela empresa.

Este momento deixará de legado o convite a muitas reflexões. É tempo de revisão, de ações assertivas e de lideranças empáticas, solidárias e, mais do que nunca, humanas. 

Sofia Esteves é fundadora do grupo Cia de Talentos e especialista em gestão de pessoas | Germano Lüders
Acompanhe tudo sobre:Dicas de carreiraLiderançaOMS (Organização Mundial da Saúde)

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