Revista Exame

Supernavio MSC Grandiosa oferece lazer à moda antiga

Um cruzeiro em alto-mar continua sendo programa para aposentados. Mas isso não deve ser visto como algo necessariamente ruim

O navio Grandiosa: estrutura de 180.000 toneladas com capacidade para mais de 6.300 hóspedes  (MSC/Divulgação)

O navio Grandiosa: estrutura de 180.000 toneladas com capacidade para mais de 6.300 hóspedes (MSC/Divulgação)

AJ

André Jankavski

Publicado em 19 de dezembro de 2019 às 05h26.

Última atualização em 21 de dezembro de 2019 às 09h32.

Hamburgo – A rotina de um cruzeiro pode ter várias nuances, mas dificilmente pode ser considerada estressante. É fácil se acostumar com a quantidade de mimos a bordo. Ao acordar, você pode receber a visita de um mordomo dedicado a melhorar sua estadia, oferecendo desde café na cama até ajuda para reservar alguma das dezenas de atividades internas. Caso você prefira explorar o navio por sua conta, alternativas não faltam: é possível optar por um café da manhã com receitas do mundo todo e já pensar num almoço em um restaurante de algum chef estrelado Michelin. No tempo entre as refeições, há a possibilidade de passar algumas horas em um spa com sete saunas diferentes, além de banheiras de hidromassagem. Ou de tomar um drinque à beira da piscina com vista para o mar. Durante a noite, uma escolha obrigatória é assistir a um espetáculo exclusivo, como uma apresentação do grupo canadense Cirque du Soleil, e encerrar a madrugada em alguma das várias festas espalhadas pelo navio.

O programa pode ser atraente para diversos perfis de pessoas. Mas a maioria dos que estão dispostos a pagar milhares de reais para ter a experiência de uma semana de lazer no mar tem características bem similares: são aposentados ou pais querendo um sossego dos filhos. Segundo um estudo realizado pela Associação Internacional de Linhas de Cruzeiros, a média de idade dos hóspedes dessas excursões marítimas é de 47 anos. Nas viagens mais longas, a média sobe para 62 anos. Para usufruir uma oferta ainda mais exclusiva e luxuosa, há pessoas que chegam a desembolsar 12.500 reais por uma semana.

Foi esse o principal perfil de turistas que encontramos no trajeto entre a cidade alemã de Hamburgo e a britânica Southampton na viagem inaugural só para convidados do Grandiosa, maior navio já encomendado pela empresa italiana MSC. Trata-se de uma microcidade navegando em alto-mar. O gigante de 180.000 toneladas pode hospedar até 6.334 pessoas, que se juntam a uma tripulação formada por 1.704 funcionários. A maioria delas, obviamente, composta de sexagenários ou casais com filhos. “Sabemos que somos um espaço de relaxamento e um local para o qual as pessoas podem levar os filhos e ficar despreocupadas. Conhecemos nosso principal público”, diz o italiano Gianni Onorato, presidente global da MSC. As crianças contam com um espaço criado em parceria com a marca de brinquedos dinamarquesa Lego. Lá, é possível até criar jogos em impressoras 3D.

Ao mesmo tempo, a MSC tenta criar atividades para atender o público interessado em mais animação. No navio Grandiosa, além das festas, há uma área de entretenimento com pistas de boliche e jogos de realidade virtual, como um simulador de um carro de Fórmula 1. Sempre com um bar ao lado, é verdade. Mas isso não basta para agradar aos jovens. No fim da noite, é comum a realização de festas que consistem em brincadeiras e jogos, como adivinhações. Uma delas é descobrir qual música está sendo tocada pelo DJ — com direito a prêmios como bonés e camisetas da empresa para quem acertar. Na pista de dança, os mais jovens presentes costumam ser dançarinos contratados pela MSC. A missão deles é convidar e animar os hóspedes para dançar ao som que vai de Anitta a Frank Sinatra. Mesmo assim, muitos ficam sentados com o copo à mão. Compreensível.

Festa de inauguração do navio: roupas de gala, drinques e fogos de artifício para comemorar o batismo do Grandiosa | Divulgação

A escolha por um perfil de hóspede mais maduro tem uma explicação óbvia: eles gastam mais. Não à toa, os veteranos são exatamente o público-alvo dos restaurantes no Grandiosa, como o Hola! Tapas Bar, tocado pelo chef espanhol Ramón Freixa, detentor de duas estrelas Michelin. Dono de um restaurante que leva seu nome em Madri, Freixa criou um menu de pratos (e, claro, tapas) totalmente inspirado na cozinha mediterrânea. Segundo o chef, a ideia foi oferecer um cardápio que conseguisse trazer a essência de seu restaurante, mas que pudesse ser replicado em um navio, que tem limitações logísticas, como a impossibilidade de obter produtos totalmente frescos todos os dias. Entre os destaques do restaurante estão o croquete de jamón ibérico e os lagostins. “Temos um menu reduzido, mas é possível ter a mesma qualidade que apresentamos em terra em alto-mar”, diz Freixa.

A viagem inicial do MSC Grandiosa será em janeiro, de Hamburgo até Gênova, na Itália. Depois, começará uma temporada na região do Mediterrâneo. No roteiro estão países como Espanha, França, Malta, além de diversas cidades italianas. No fim do novo ano, o navio deverá estrear no Brasil. Destinos como Salvador e Rio de Janeiro estão entre as paradas. Não que as cidades importem tanto: muitas vezes, nem dá tempo de sair do navio para conhecer os destinos. Na verdade, a real experiência nessas viagens é o próprio cruzeiro — que, com o passar do tempo, vem sendo cada vez mais considerado programa de aposentado. Essa definição, no entanto, está longe de ter uma conotação negativa. No fim das contas, até os jovens inquietos sairão mais relaxados do navio. E quem não gosta de ser bem tratado? 

Acompanhe tudo sobre:TurismoViagensviagens-pessoais

Mais de Revista Exame

Invasão chinesa: os carros asiáticos que chegarão ao Brasil nos próximos meses

Maiores bancos do Brasil apostam na expansão do crédito para crescer

MM 24: Operadoras de planos de saúde reduzem lucro líquido em 191%

MM 2024: As maiores empresas do Brasil