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Investimento de impacto alia lucro a ganhos sociais

Para Ronald Cohen, considerado o pai das finanças sociais, o investimento de impacto pode estimular transformações significativas na sociedade


	Ronald Cohen, o pai das finanças sociais: "1 trilhão de dólares podem ser investidos globalmente na área até 2020"
 (Divulgação/Exame)

Ronald Cohen, o pai das finanças sociais: "1 trilhão de dólares podem ser investidos globalmente na área até 2020" (Divulgação/Exame)

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Da Redação

Publicado em 17 de outubro de 2015 às 05h56.

São Paulo — O egípcio naturalizado inglês Ronald Cohen ajudou a inaugurar o investimento de risco na Inglaterra ao criar o fundo Apax nos anos 70. Há uma década ele deixou a sociedade para se tornar o pai do investimento de impacto, que alia lucro a ganhos sociais. Aos 70 anos, uma de suas tarefas é propagar o tema mundo afora.

Em outubro, ele virá a São Paulo para discutir o avanço do campo no Brasil, num evento da Força-Tarefa Brasileira de Finanças Sociais, coalizão que reúne investidores, empresários e ONGs. Ele deu a seguinte entrevista a EXAME.

Exame - Qual é a diferença entre filantropia e investimento de impacto?

Cohen - A doação pura e simples começa a migrar para um modelo em que se medem resultados. Só há retorno financeiro aos investidores se houver melhorias mensuráveis. É possível ter lucro fazendo a coisa certa.

Exame - Qual é o volume de recursos disponíveis para finanças sociais hoje no mundo?

Cohen - Pelo menos 1 trilhão de dólares nos próximos 20 anos. O dinheiro virá de fundações, filantropos e fundos de pensão. No Brasil, estudos mostram que há pelo menos 50 bilhões de reais para as finanças sociais até 2020.

Exame - Há evidências de que pode dar resultado?

Cohen - Até 2010 ninguém acreditava nisso. Mas essa percepção mudou com o advento de um dos modelos de investimento social, os títulos de impacto social.

Exame - Como funciona esse modelo?

Cohen - Na primeira experiência, comparamos o custo do governo para manter um detento com o de ressocialização de um ex-detento. A reabilitação eficiente de 1 000 prisioneiros faz o governo inglês economizar 22 milhões de libras por ano — o que pode gerar o retorno de 5 milhões de libras aos investidores que bancaram essa reabilitação.

Ainda assim sairá mais barato para o governo repassar parte desse ganho do que gastar com presos reincidentes. Hoje, há outras 30 parcerias como essa em funcionamento só no Reino Unido.

Exame - Esse tipo de investimento ainda não chegou a muitos países em desenvolvimento. Como avançar?

Cohen - Esse é o próximo passo. No Grupo Global de Gestão de Investimento de Impacto Social, que reúne representantes do G20, propagamos boas experiências. No Brasil, temos parceiros como o empresário Antônio Ermírio de Moraes Neto, do fundo Vox Capital.

Exame - No caso do Brasil, como as finanças sociais podem ganhar espaço?

Cohen - A primeira condição é ter o governo como parceiro. Depois da experiência inglesa, outros exemplos começam a aparecer no mundo. Nos Estados Unidos, há projetos em Chicago para melhorar o desempenho escolar de crianças com dificuldade de aprendizado. Em Israel, há iniciativas para conter a evasão nas universidades. Agora começam a surgir esforços na África no combate à malária.

Exame - Como tornar esse tipo de investimento viável num momento de crise?

Cohen - Numa crise falta emprego, e as desigualdades se acen­tuam. O investimento de impacto é capaz de aportar o dinheiro que o governo não tem para lidar com os problemas sociais. Em vez de arcar com o custo desses problemas, é mais inteligente gastar para preveni-los.

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