Bruno Balbinot, fundador da Ambar: casas populares 10% mais baratas (Leandro Fonseca/Exame)
André Jankavski
Publicado em 4 de julho de 2019 às 05h38.
Última atualização em 10 de julho de 2019 às 06h25.
O setor de construção civil ainda não se recuperou da crise dos últimos anos. De 2014 a 2018, a queda de 15% no faturamento nominal, de 306 bilhões para 260 bilhões de reais, fez com que a construção tivesse um recuo na participação do produto interno bruto de 12,4% para menos de 10%.
Só neste ano a situação começa, aos poucos, a desanuviar. Mesmo em um cenário negativo — e, muitas vezes, por causa dele — há empresas que conseguem trazer um respiro para os canteiros de obras. A paulistana Ambar buscou elementos de outros setores para tirar a construção civil do marasmo. Fundada pelo empresário Bruno Balbinot, de 35 anos, a construtech — alcunha para designar as empresas de tecnologia que atuam no setor — surgiu em 2013, um pouco antes do início da crise no país.
Com experiência na empresa do pai, que prestava serviços para a montadora Volkswagen, ele percebeu que muitas experiências da linha de produção poderiam ser aplicadas na construção.
Balbinot buscou soluções que pudessem, de alguma forma, levar mais eficiência para as obras. A primeira delas foi um sistema que facilita a instalação das redes elétricas e hidráulicas. É como um jogo de montar: seguindo um padrão de tamanho dos cômodos, a Ambar criou componentes prontos para ser instalados de maneira mais rápida. Assim, pedreiros, eletricistas e encanadores não perdem mais tempo medindo fios, cortando canos, fazendo cálculos.
Tudo vem pronto, o que traz uma economia de até 10% nos custos de casas populares, principal alvo da Ambar. A empresa cresceu 111% ao ano desde sua fundação e equipou cerca de 300 mil moradias. Tem 400 funcionários e uma fábrica de instalação de componentes (o faturamento não é divulgado). “Estamos apenas no início da sofisticação do setor”, diz Balbinot.
Uma de suas primeiras clientes foi a construtora paulista Vitta Residencial, há dois anos. No ano passado, 850 apartamentos da Vitta foram construídos com algum tipo de auxílio da Ambar, com economia de 20% no sistema elétrico. Neste ano, a construtora espera ampliar a utilização de ferramentas da startup, como a adoção dos equipamentos hidráulicos, responsáveis por 15% do gasto em uma obra. “Qualquer economia em imóveis de baixo custo faz toda a diferença”, afirma Márcio Freitas, diretor de engenharia da Vitta Residencial.
A consultoria americana McKinsey avaliou que a baixa produtividade na construção civil custa 1,6 trilhão de dólares por ano em todo o mundo. Um dos principais motivos é a falta de utilização de tecnologia durante as obras: a construção é o pior setor em digitalização na Europa e o segundo pior nos Estados Unidos, de acordo com a McKinsey. Isso fez com que a produtividade da mão de obra na construção evoluísse apenas 1% de 1995 a 2015, enquanto o restante teve média de crescimento de 2,8% no mundo.
Por isso as construtechs ganham a atenção dos investidores. No Brasil, já são 562 startups na área, segundo a aceleradora Construtech Ventures. A maioria, no Brasil e no mundo, ainda foca áreas como compra e venda de imóveis e contratação de mão de obra. Uma exceção à regra é a americana Katerra, fundada em 2015, voltada para a melhoria de todos os processos de uma construção desde o projeto.
A empresa foi fundada por Michael Marks, ex-presidente da Flextronics, especializada na montagem de celulares e eletrônicos, e já arrecadou 1,1 bilhão de dólares em aportes, incluindo do fundo japonês -SoftBank. As casas da Katerra chegam quase prontas para ser montadas.
A Ambar recebeu 75 milhões de reais dos fundos Alpha Valorem, Texas -Pacific Group e e.bricks Ventures. “Caso mantenha o ritmo, a Ambar valerá 1 bilhão de dólares em dois anos”, diz Pedro Melzer, fundador do e.bricks. EXAME apurou que a empresa negocia um novo aporte de 75 milhões de reais. O próximo objetivo é ampliar a oferta de softwares, como um programa que calcula o custo e a quantidade de material necessário para levantar a obra. “Existe muito espaço. Atendemos 50 construtoras das cerca de três mil no mercado”, diz Balbinot. Seu desafio será superar outras construtechs e também as inovações das próprias construtoras. Passada a crise, ninguém pretende voltar aos tempos de custos fora do controle.