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Cris Junqueira: Em ascensão, fintechs estão longe de temer a concorrência

O Brasil já tem mais de 800 startups de serviços financeiros. mas é só o começo: 34 milhões de brasileiros continuam desbancarizados e os serviços seguem concentrados

É preciso continuar estimulando a inovação financeira e a competição, como o próprio Banco Central vem fazendo nos últimos anos  (Artur Debat/Getty Images)

É preciso continuar estimulando a inovação financeira e a competição, como o próprio Banco Central vem fazendo nos últimos anos (Artur Debat/Getty Images)

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Da Redação

Publicado em 15 de julho de 2021 às 05h16.

Última atualização em 15 de julho de 2021 às 16h54.

Não é novidade que a concentração bancária tem efeitos negativos para os consumidores e para toda a indústria. Por isso é interessante notar que o boom de fintechs está contribuindo para melhorar esse cenário. A concentração de mercado tem diminuí­do — infelizmente, ainda em um ritmo lento — e as startups têm cada vez mais democratizado o acesso a serviços financeiros. 

Para continuarmos vendo impacto na vida das pessoas, é preciso continuar estimulando a inovação financeira e a competição, como o próprio Banco Central vem fazendo nos últimos anos. 

O Brasil contabilizou cerca de 800 startups de serviços financeiros em agosto de 2020 — um aumento de 28% em relação ao ano anterior. Essas centenas de empresas impulsionam a inovação e obrigam todas as instituições a oferecer melhores serviços e produtos aos clientes. E, de pouco em pouco, elas têm promovido a inclusão financeira. 

Em uma pesquisa recente com 5.000 clientes do Nubank, descobrimos que 11% dos respondentes nunca haviam tido qualquer produto bancário. E mais do que isso: observamos que os serviços convenientes das fintechs têm ajudado as pessoas a se organizar melhor financeiramente. A mesma pesquisa mostrou que 68% dos clientes passaram a economizar mais dinheiro depois de se tornarem clientes do Nubank e 67% afirmaram que ganharam mais independência usando os produtos práticos. São dados muito promissores que mostram que as fintechs têm de fato impactado positivamente a vida das pessoas. 

As fintechs trazem benefícios reais para as finanças de seus clientes e os brasileiros estão notando seus impactos. Um estudo realizado pela consultoria Ernst & Young (Fintech Adoption Index 2019) mostra que o Brasil tem uma taxa de adoção de 64%, muito acima de países como Estados Unidos e Canadá. Isso quer dizer que cerca de seis em cada dez brasileiros com acesso à internet aderiram a produtos ou serviços digitais de alguma fintech desde 2017. 

Além disso, ao analisar os downloads de apps da indústria financeira, nota-se que as fintechs foram responsáveis por 52% desses downloads em outubro do ano passado, segundo a idwall. Enfim, as startups de serviços financeiros têm quebrado paradigmas e vieram para ficar. É por isso que não se pode perder de vista a importância da promoção da concorrência e da inovação no setor financeiro, que permite o desenvolvimento cada vez maior de fintechs que, por sua vez, contribuem para a inclusão financeira e a democratização dos serviços financeiros. 

Porém, é só o começo: 34 milhões de brasileiros continuam desbancarizados, segundo o Instituto Locomotiva, e mais de 80% do crédito continua nas mãos dos cinco maiores bancos do Brasil. Nos últimos três anos, mesmo com a profusão de fintechs, a redução na concentração de crédito foi mínima, de meros 4 pontos percentuais, segundo o Relatório Bancário Anual 2020, publicado algumas semanas atrás — passou de 85,5% em 2017 para 81,8% em 2020. 

Nesse contexto, é interessante ver instituições que concentram mais de 80% do mercado protestando a favor de regras iguais. E mais interessante é analisar seus argumentos. Diretores e presidentes dos grandes bancos criticam os pequenos detalhes regulatórios que não lhes favorecem e se esquecem das complexas exigências que o regulador demanda igualmente de todas as instituições financeiras ou de pagamento, sejam elas pequenas, médias ou grandes. 

Mesmo que algumas das normas sejam customizadas de acordo com o tamanho ou o tipo de operação, elas exigem, em todo o caso, a implementação de diversos mecanismos de controle e de uma estrutura compatível. Ou seja, as normas acabam sendo tão restritivas para fintechs, pequenos ou médios bancos quanto aquelas aplicáveis aos grandes bancos. Estou falando de regras de segurança cibernética, sigilo bancário, prevenção e combate à lavagem de dinheiro e identificação e conhecimento das necessidades dos clientes. 

Há, claro, de se levar em conta a segurança num setor tão sensível. Mas essa discussão deixa de considerar essas outras tantas diferenças, ignorando que o sistema sempre se baseou, na verdade, no princípio da igualdade, que nada mais é do que tratar os iguais de maneira igual e os diferentes de forma diferente. No final do dia, as fintechs podem ter regras diferentes — e esse fato é positivo, porque favorece o aumento da inclusão financeira e a competição no setor, com a oferta de melhores serviços, produtos e tarifas mais baratas para o cliente.

O protesto dos grandes bancos tem de ser analisado dentro desse contexto. O risco é que regras rígidas garantam a perpetuação de um mercado concentrado e distorcido como historicamente vemos no Brasil. As queixas das instituições tradicionais não podem ignorar que, no fim do dia, o foco deve estar nos clientes. Para nós, no Nubank, o maior propósito da competição é melhorar a vida dos brasileiros. É nessa direção que concentramos nossas energias. Não tememos a concorrência e sabemos que, quanto mais houver competição, melhores serão os produtos e serviços oferecidos aos brasileiros — venham eles de instituições tradicionais ou de novas.   


(Arte/Exame)

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