Revista Exame

Incerteza, o nome do jogo da capitalização da Petrobras

Ninguém sabe como será a capitalização da Petrobras, nem se a China continuará a carregar o crescimento mundial ou se os EUA darão um novo mergulho. Todos têm medo

Americanos em busca de emprego: medo de uma nova recessão (Justin Sullivan/Getty Images)

Americanos em busca de emprego: medo de uma nova recessão (Justin Sullivan/Getty Images)

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Da Redação

Publicado em 31 de maio de 2013 às 19h56.

Entre os investidores com interesses no Brasil — mesmo entre os que detestam a indústria do petróleo —, o assunto do momento é a expectativa por uma gigantesca oferta de ações da Petrobras, de longe a maior companhia do país. Pressionada por seus próprios planos de expansão, a estatal precisa de uma captação quase tão grande quanto sua ambição em torno das reservas de petróleo do pré-sal. Espera-se que sua oferta na Bovespa levante cerca de 50 bilhões de dólares — a maior captação já feita por uma empresa no mundo.

Para o bem ou para o mal, o impacto na bolsa de uma operação desse tamanho é gigantesco. No caso da Petrobras, ele tem sido antecipado. E o motivo é o pesadelo de sempre dos investidores: a incerteza. “O vaivém na BM&F Bovespa deve continuar até que se saiba exatamente como vai ser a operação. Sem isso, é impossível planejar novos investimentos no Brasil”, diz Jonathan Matthews, executivo da empresa americana de investimento T. Rowe Price, que tem 390 bilhões de dólares sob gestão.

As indefinições na operação da Petrobras se somam a vários outros temores que passaram a rondar a economia mundial. Como já aconteceu tantas outras vezes na história, tudo pode não passar de catastrofismo barato (às vezes, caro), mas o fato é que essas nuvens invariavelmente mexem com os humores das bolsas. “Para onde quer que se olhe fora do Brasil, o cenário é nebuloso”, diz Pedro Martins, estrategistachefe de América Latina da corretora do Bank of America Merrill Lynch.


As grandes preocupações dos profissionais de mercado no Brasil e no mundo são a recuperação americana, a capacidade da Europa de desatar o nó do endividamento dos governos e o fôlego da economia chinesa para continuar a crescer num ritmo pelo menos próximo a dois dígitos anuais. No último semestre, a China cresceu 11%. Mas, na lógica do mercado financeiro, o futuro importa mais do que o presente. Números recentes de atividade industrial, vendas no varejo e preços de imóveis apontam para uma desaceleração no crescimento do país.

“O que se sabe é que uma expansão constantemente superior a 10% é coisa do passado”, diz Fabio Frischer, diretor da corretora do banco J.P. Morgan. Se — e aqui vale frisar o condicional — o ajuste for grande e o crescimento ficar abaixo de 8% ao ano, exportadoras como a Vale, que dependem da demanda chinesa, sofrerão e isso aparecerá no preço de suas ações. Nos Estados Unidos, o recente fechamento de mais de 100 000 postos de trabalho contribuiu para colocar em xeque a tese de que a economia estaria em rota de recuperação. Analistas começam a duvidar do capital político do presidente Barack Obama para injetar mais dinheiro público numa economia eventualmente enfraquecida. Qual a chance de tudo isso acontecer? Ninguém sabe e, por isso, as previsões desencontradas e o medo reinante no mercado.

No Brasil, a economia cresce no ritmo mais vigoroso desde a década de 70. As eleições até agora não afetaram o comportamento do mercado — o que é uma ótima notícia. Lembre-se que, em 2002, a esta altura do ano, a bolsa já tinha caído cerca de 30%. Se os problemas estão no exterior, faria sentido que a BM&F Bovespa fosse vista quase como um oásis. Isso chegou a ocorrer no início deste ano, quando o Índice Bovespa se aproximou do recorde de 73 516 pontos atingido em maio de 2008. Nos últimos meses, porém, questões relativas ao mercado local fizeram muitos investidores estancar.

A tensão pré-Petrobras é a maior delas. Mas a percepção de que várias ações de empresas ligadas ao mercado interno, como as varejistas, ficaram caras também desanimou os aplicadores. Papéis como o da companhia têxtil Hering e da rede de varejo Marisa subiram mais de 100% neste ano. “Está bem mais difícil achar ações num preço razoável”, diz Herculano Alves, diretor de renda variável da gestora do Bradesco.


Não é à toa que a sensação é de que o combustível que movia os pregões acabou — quando ocorrem altas expressivas, como a de 11% do Ibovespa em julho, elas geralmente são seguidas por desvalorizações. No jargão dos bancos e das corretoras, diz-se que as ações passaram a operar “sem tendência”, o que significa que os investidores, de forma geral, estão sem coragem de fazer grandes aplicações nesta ou naquela direção.

É um sinal de que o medo, embora numa intensidade muito menor do que a vista durante o pânico de 2008, voltou a rondar as bolsas — e isso tem feito muitas delas andar em círculos. Com exceção de China e Japão, nenhum outro grande mercado do mundo exibiu altas ou baixas superiores a 5% no acumulado do ano até meados de agosto, data de fechamento desta edição. Em média, eles desvalorizaram 4%. O Ibovespa também perdeu 4% no período.

Como decidir o que fazer com o dinheiro em meio a esse cenário? Ajudar o investidor a responder essa pergunta é o objetivo das reportagens das páginas a seguir. A primeira delas traz as análises dos oito melhores gestores de fundos de investimento do país, segundo pesquisa do Centro de Estudos em Finanças da Fundação Getulio Vargas. EXAME também consultou 40 executivos das principais instituições financeiras para obter suas indicações de ações para os próximos 12 meses.

O histórico de desempenho dos profissionais que aparecem nas reportagens seguintes os coloca entre os mais gabaritados a opinar sobre o futuro. Como o quadro é de indefinição, algumas análises são conflitantes. Uma leitura com critério, porém, pode ser um importante farol para os investidores.

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