Revista Exame

Ideias made in Brazil em pesquisas de empresas globais

Com décadas de atraso em relação a outros emergentes, o país começa a receber centros de pesquisa de empresas globais

Pinhanez, da IBM: novo laboratório no Brasil trouxe oportunidade de trabalhar no país depois de 16 anos (.)

Pinhanez, da IBM: novo laboratório no Brasil trouxe oportunidade de trabalhar no país depois de 16 anos (.)

DR

Da Redação

Publicado em 31 de maio de 2013 às 18h49.

Entre as grandes proezas da IBM, uma companhia com quase um século de vida, presença em 170 países e milhares de patentes no currículo, está a conquista, por membros de sua equipe de pesquisadores, de cinco prêmios Nobel. Nenhum deles, porém, teve contribuição da filial brasileira, a primeira operação criada fora dos Estados Unidos, ainda em 1917. Somente em 2009, a IBM destinou 5,8 bilhões de dólares a projetos de pesquisa e desenvolvimento em todo o mundo. Apesar da longa história da filial, o grosso desse dinheiro passou longe dos escritórios da IBM Brasil. Essa, no entanto, é uma realidade que pode estar prestes a mudar. Até o final deste ano, começa a funcionar o primeiro laboratório de pesquisa da companhia no país, o nono em todo o mundo. E a IBM não é a única a chegar. Cada vez mais empresas globais voltam as atenções para o Brasil no momento de expandir atividades de pesquisa no exterior. Em janeiro, foi a vez de a General Electric anunciar a implantação, também pela primeira vez, de uma unidade de P&D no país, a quarta fora dos Estados Unidos. Juntas, as duas companhias vão investir mais de 370 milhões de dólares em unidades de inovação. São sinais de que, cada vez mais, o Brasil caminha para ser destino não apenas de investimentos em força produtiva das companhias mas também intelectual. "Há uma tendência de as multinacionais descentralizarem seus locais de pesquisa, e o Brasil tem atrativos importantes", diz Armando Castelar, professor do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

Para as empresas, esse não é um fenômeno novo. No caso da GE, por exemplo, os primeiros centros de pesquisa em países emergentes foram instalados na China e na Índia ainda em 2000. Para o Brasil, porém, trata-se de ganhar tempo perdido em relação a países, como a Coreia do Sul, que souberam aproveitar a primeira onda de descentralização das unidades de pesquisas de multinacionais, no início da década de 80, e atualmente colhem frutos de uma posição de destaque em desenvolvimento de tecnologias. Mas o cenário atual é outro. Hoje, decisões sobre a criação de centros de pesquisa de empresas globais costumam levar em conta a especialização e o conhecimento acumulados nos países candidatos. É aí que realizações recentes da pesquisa brasileira começam a contar pontos. Estudar inovações em extração de óleo e gás da camada do pré-sal, por exemplo, foi o que motivou a americana FMC Technologies, fornecedora de equipamentos para o setor, a instalar recentemente um centro de estudos no Rio de Janeiro. O novo centro de P&D da GE vai concentrar esforços em áreas como energia, óleo e gás, transporte e aviação, entre outros. No caso da IBM, os pesquisadores se dedicarão a estudos de práticas sustentáveis em recursos de exploração de gás e petróleo (puxados pelo pré-sal), organizações de grandes eventos (Copa e Olimpíada) e de pesquisas em microeletrônica.


Em boa medida, a onda de expansão de unidades de pesquisa de multinacionais no país está ligada ao crescimento do mercado consumidor local. "Deixamos de olhar para os 900 milhões de pessoas do mundo com renda acima de 10 000 dólares anuais e passamos a nos dedicar aos 5,6 bilhões das classes C, D e E", diz o vice-presidente de inovação da DuPont Brasil, John Jansen. Até 2011, a empresa deverá investir 8 milhões de dólares para quadruplicar a área de laboratórios no Brasil, inaugurados há apenas um ano. A equipe da unidade de Paulínia, no interior de São Paulo, onde são desenvolvidas pesquisas com sementes, material plástico e sistemas de segurança, deverá crescer de 90 para 150 profissionais.

Pesquisa nos emergentes

A ideia é multiplicar casos como o lançamento recente de uma capa de blindagem para navios de guerra, usada em embarcações que farão a proteção de áreas do pré-sal. "As empresas têm de estar onde as tendências são definidas, e hoje isso ocorre cada vez mais nos países emergentes", diz Glauco Arbix, coordenador do observatório de inovação da Universidade de São Paulo. A americana NCR, especializada em tecnologias de transações financeiras, como caixas eletrônicos, busca feitos semelhantes. Em 2009, a companhia investiu 73 milhões de dólares na construção de uma fábrica e de um centro de pesquisa em Manaus. "Os emergentes têm necessidades diferentes, como as exigências do governo brasileiro por sistemas desenvolvidos em código aberto", diz Elias Rogério, presidente da NCR no Brasil. "Para criar soluções para esses mercados, é importante ter presença local."

Além da atratividade do mercado interno, o Brasil aos poucos se posiciona também como polo exportador de tecnologia. Um exemplo disso é o centro de pesquisa da Motorola, inaugurado em 1997 com apenas 30 funcionários junto à fábrica de Jaguariúna, no interior de São Paulo. De lá para cá, a unidade acumulou investimentos de 450 milhões de dólares. Hoje, 200 pessoas se dedicam ao desenvolvimento de softwares presentes em celulares da marca vendidos no mundo inteiro, além de aparelhos como o Motorola W6, exportado para a China. Funciona em Rio Claro, no interior de São Paulo, o principal centro de pesquisa de máquinas de lavar roupas da americana Whirlpool, fabricante de eletrodomésticos das marcas Brastemp e Consul. De lá, a companhia lançou um sistema de lavagens que hoje está presente em máquinas no mundo inteiro. Nos útimos dois anos, o centro dobrou de tamanho, e hoje cinco unidades de pesquisa empregam ao todo 700 profissionais.

 A chegada dos novos centros é um alento para o restrito mercado de pesquisadores no país. Comparado a emergentes como a Índia, o Brasil forma um número elevado de doutores dentro do país - segundo estimativas, são cerca de 10 000 ante 1 500 formados no país asiático. Somente na área de computação, são pelo menos três vezes mais doutores formados localmente a cada ano. Além de evitar a fuga de cérebros, a vinda dos centros de pesquisa pode trazer de volta profissionais experientes. São histórias como a de Claudio Pinhanez, matemático paulista com mestrado em ciências da computação e doutorado pelo Massachusetts Institute of Technology (MIT). Na falta de empregos atraentes no Brasil, Pinhanez passou os últimos 16 anos no exterior, parte deles em unidades de P&D da IBM nos Estados Unidos. A oportunidade de retorno definitivo veio apenas com a abertura do novo centro de pesquisa da companhia. "O Brasil tem uma massa de doutores que não consegue ser absorvida pelo mercado", diz Pinhanez. "A abertura de centros globais de pesquisa é a chance de muitos deles voltarem."

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