Revista Exame

Idade da pedra nos estádios

Tudo muda, menos o desprezo pelo cliente

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Da Redação

Publicado em 7 de março de 2011 às 16h05.

Paguei 160 reais por quatro ingressos para a segunda partida entre Corinthians e Santos pelas semifinais do campeonato brasileiro de 1998. Os ingressos nos davam teoricamente direito - a meus dois filhos (15 e 11 anos), a meu irmão e a mim - a assentos nas numeradas superiores do Pacaembu. Teoricamente porque, no rude mundo das coisas práticas, tudo que os ingressos nos garantiram foi transpor os portões que dão acesso às numeradas superiores.</p>

Não conseguimos chegar sequer perto dos assentos que compráramos quase uma semana antes. As escadas estavam abarrotadas. Colocou-se diante de nós a chance de assistir de pé ao jogo. Mesmo assim, com dificuldades. Isso chegando uma hora antes ao estádio. Tinham-me dito, antes, que para conseguir um bom lugar era preciso chegar cedo. (Quem me disse, um primo, chegou cedo e também ficou de pé.)

Eu estava tranqüilo. Tinham sido vendidos apenas 35 000 ingressos e sempre disseram que o Pacaembu acomodava mais de 50 000 pessoas. Logo, não haveria problemas. Mais uma vez, teoricamente. O fato é que, por mais que as coisas mudem no futebol, uma coisa permanece rigorosamente igual: o desprezo superior com que se trata o consumidor (torcedor) no estádio. A mensagem que eu recebi foi: não volte. Às vésperas de um novo milênio, num mundo globalizado e em intensa mutação, o lastimável tratamento dispensado ao cliente nos estádios é um absurdo que não cede e não muda. Alguém nos disse que os torcedores pulam a cerca rumo aos melhores lugares. Por que deixam? E quem pagou por aqueles lugares, como fica?

Só não perdemos o dia por uma circunstância: a piedade que uma porteira sentiu ao ver a decepção de meu filho caçula, Pedro. Ela o colocou numa tribuna reservada - oh vida boa - aos vereadores. Pedi à gentil porteira que incluísse meu outro filho, Emir, para que o caçula não ficasse só. Ela disse que sim - desde que ambos vissem o jogo de pé, pois não havia mais cadeiras. Quanto a meu irmão e a mim, a condição de jornalistas nos deu acesso, como indesejada compensação, a um reservado da imprensa (perto das numeradas que nos foram vedadas) em que manifestações são peremptoriamente proibidas.

Proibidas para mostrar a imparcialidade granítica da imprensa? Foi o que imaginei. Depois um jornalista esportivo contou a meu irmão que o motivo da proibição é evitar que os torcedores, bem ali ao lado, possam brigar com jornalistas que torçam para o time errado. Para mim, foi uma experiência pungente que pretendo jamais repetir: não poder explodir em nenhum dos gols do Corinthians. Raras vezes o meu autocontrole foi posto tão duramente à prova.

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