Revista Exame

IA made in Brazil: as histórias de startups brasileiras que ganham tração (e muito dinheiro) com IA

Startups brasileiras ganham tração — e bilhões de reais — com o uso prático de inteligência artificial. De cobranças automatizadas a robôs industriais, essas empresas já estão no radar dos maiores investidores da América Latina

Laura Camargo, CEO da Neofin: “Os times financeiros precisam fazer milagre para receber" (Leandro Fonseca /Exame)

Laura Camargo, CEO da Neofin: “Os times financeiros precisam fazer milagre para receber" (Leandro Fonseca /Exame)

Publicado em 26 de junho de 2025 às 06h00.

Poucas pessoas conhecem tão bem o ecossistema de tecnologia e venture capital da América Latina quanto o argentino ­Hernán Kazah. Um dos fundadores do gigante Mercado Livre, hoje ele garimpa as melhores startups da região à frente da Kaszek Ventures, um dos fundos de venture capital mais ativos do Hemisfério Sul. O escritório já levantou mais de 3 bilhões de dólares e investiu em mais de 120 startups, incluindo nomes como a fintech Nubank e a empresa de locação e venda de imóveis QuintoAndar.

Durante o festival de inovação Web Summit Rio, no final de abril, Kazah estava animado com uma nova tese: a de que a América Latina pode, sim, conquistar espaço no mercado global de inteligência artificial (IA), principalmente na camada de aplicações. “Quando a internet móvel surgiu, os principais players foram o Android e o iOS, com o Brasil e o México não tendo um papel importante na camada de plataforma”, diz. “Contudo, na camada de aplicativos, surgiram muitas empresas de sucesso. O mesmo está acontecendo com a IA.”

Os investidores estão de olho nessa tendência. Em 2024, quase metade dos 13,9 bilhões de reais captados por startups brasileiras foi para negócios com IA, segundo a Liga Ventures. E o valor deve crescer à medida que a tecnologia se adaptar praticamente a qualquer setor. No marketing, a IA cria campanhas em minutos. No atendimento, conversa com o cliente, tira dúvidas e acelera vendas. Na indústria, previne falhas em segundos. Nos bastidores das operações, detecta fraudes instantaneamente.

A boa notícia: já existe uma startup brasileira para cada tipo de aplicação. Até mesmo para dar conta do aumento na demanda por processamento de tantos dados, com novos data centers. A seguir, histórias de cinco negócios que estão usando IA para crescer e já entraram no radar dos maiores investidores da região.


Neofin

Setor: fintech | O que faz: automação de cobranças | Ano de fundação: 2023

O maior objetivo de uma empresa é vender. O segundo maior, receber. O problema está justamente entre um ponto e outro, quando o cliente compra, mas não paga. E acontece muito: no Brasil, mais de 40% da população adulta está inadimplente, e 30% das empresas estão negativadas, segundo a Serasa Experian. Resolver esse impasse virou a missão da Neofin, fintech fundada em 2023 por Laura Camargo, Arthur Cunha e Leandro Sarmento.

A plataforma automatiza o fluxo de contas a receber com uma régua de cobrança inteligente. A IA segmenta devedores por perfil e adapta a comunicação para cada um. As mensagens são enviadas por WhatsApp, SMS ou e-mail, com tom e cadência adequados. “Não dá para tratar todo mundo igual. A IA permite personalizar em escala”, diz Camargo, CEO da startup, ex-Gympass e com passagens por fundos de private equity. Foi ao cofundar uma startup de marketplace para pequenos negócios que ela sentiu a dor de cobrar, e teve o estalo que originou a Neofin, hoje avaliada em 150 milhões de reais.

A empresa atende de distribuidoras e indústrias a escolas e provedores de internet. Um exemplo é a Nude, marca de bebidas vegetais que recuperou 150.000 reais em uma única campanha. Clientes da Neofin relatam até 15 vezes mais recuperação em comparação com métodos tradicionais, sem IA. A tecnologia também atua na prevenção: um algoritmo preditivo analisa dados como tempo de relacionamento, valor das dívidas e histórico de atrasos para prever inadimplência e ajustar a régua automaticamente. Num cenário em que vender é só metade do caminho, a Neofin quer garantir que o dinheiro chegue ao fim da linha.


Idwall

Setor: Cibersegurança | O que faz: prevenção de fraudes | Ano de fundação: 2016

Lincoln Ando: a Idwall ajuda a criar um ambiente digital mais seguro (Idwall/Divulgação)

As fraudes digitais já não são mais novidade. De e-mails de supostos príncipes nigerianos prometendo doações a vídeos realistas de IA, os golpistas evoluem com a internet. Ao público, resta a prevenção. O paulista Lincoln Ando, CEO da Idwall, acompanha essa relação desde o início, quando ainda era difícil imaginar soluções eficientes para o problema. “Em 2011, aos 20 anos, eu trabalhava em um banco que queria ser digital. O mercado ainda era muito incipiente e as fraudes estavam apenas começando a crescer. Foi ali que percebi uma oportunidade”, afirma Ando, hoje com 34 anos.

Cinco anos depois, ele fundou a Idwall ao lado do paulista Raphael Melo para combater esse problema com tecnologia.

A empresa oferece uma plataforma que integra IA, machine learning e biometria facial para validar identidades e prevenir fraudes. “A falta de confiança no digital estava impedindo o crescimento das transações online. Nossa missão foi criar produtos que resolvessem isso de maneira eficiente e sem burocracia”, diz o CEO. A empresa também se destaca pela tecnologia de prova de vida digital, que foi capaz de barrar 100% das tentativas de fraude em mais de 1.700 testes rea­lizados. “Ela detecta fraudes sofisticadas, como aquelas feitas com máscaras de silicone ou vídeos em alta resolução”, afirma Ando.

Hoje, com mais de 430 clientes ativos, a empresa atende grandes empresas, como Mercado Livre, iFood e os sete maiores bancos do Brasil. Somente em 2020, a startup teve um crescimento de 588% em sua receita, impulsionado pela digitalização acelerada no setor financeiro durante a pandemia. Com 55 milhões de dólares já captados, a Idwall está em expansão: a recente rodada de 38 milhões de dólares na Série C permitirá à empresa crescer no México e na Colômbia, mercados em que a demanda só aumenta. “Nosso modelo de negócios é adaptável. Atendemos desde fintechs até grandes bancos e marketplaces, e estamos prontos para o que vier”, diz Ando.


CloudWalk

Setor: fintech | O que faz: soluções de pagamentos digitais | Ano de fundação: 2013

Luis Silva, fundador da CloudWalk: 1 milhão de dólares em receita por funcionário, graças à IA (CloudWalk/Divulgação)

Na sede da fintech CloudWalk, em São Paulo, humanos e máquinas dividem a mesma rotina. A empresa oferece soluções de pagamento e crédito por meio da plataforma InfinitePay, usada por milhões de pequenos negócios no país. São 650 funcionários dedicados a desenvolver tecnologia, atender clientes e operar a infraestrutura de pagamentos. Ao lado deles atuam 40 agentes de inteligência artificial — softwares que automatizam tarefas como suporte técnico, análise de risco e comunicação com lojistas. O mais conhecido deles é o Cláudio, um atendente virtual que responde dúvidas, resolve problemas e hoje lida com 90% das interações com clientes.

A convivência entre algoritmos e pessoas fez da Cloud­Walk um dos maiores cases de uso de IA no Brasil, com 2,7 bilhões de reais de receita e 339 milhões de reais de lucro em 2024. Boa parte dessa eficiência vem justamente dessa integração entre humanos e IA. “Já temos 1 milhão de dólares em receita por funcionário. A IA permite escalar com qualidade e produtividade”, diz Luis Silva, fundador da empresa.

Além do backoffice, a Cloud­Walk criou o Jim, uma IA voltada para os clientes da InfinitePay. Ele ajuda desde o controle de fluxo de caixa até a criação de campanhas de mar­keting personalizadas. “Há empreendedor que usa o Jim até para lembrar das vacinas dos filhos”, diz Silva. Com 4 milhões de clientes no Brasil, a fintech já concedeu mais de 1 bilhão de reais em crédito e lançou uma versão do Jim nos Estados Unidos, o Jim.com, para acelerar sua expansão internacional.

O uso intenso de IA também permitiu um movimento raro no setor: a CloudWalk aumentou os salários da equipe, com piso de 11.000 reais mais benefícios, como forma de compartilhar os ganhos de eficiência. “A IA veio para somar. Queremos os melhores profissionais trabalhando ao lado das melhores tecnologias”, diz Silva.


Modular Data Centers

Setor: Infraestrutura | O que faz: constrói data centers modulares | Ano de fundação: 2021

Alinie Mendes, fundadora da Modular Data Centers: mais processamentos de dados vão requerer mais data centers (Modular Data Centers/Divulgação)

Em apenas quatro anos, a empreendedora paulista Alinie Mendes tirou do papel um negócio que deve fechar o ano de 2025 com 1 bilhão de reais em vendas. Mendes é uma das fundadoras da Modular Data Centers, empresa de Santana de Parnaíba, na Grande São Paulo, dedicada à infraestrutura para data centers. Esse é um dos setores com mais motivos para comemorar a revolução trazida pela inteligência artificial. O uso de ferramentas como o ChatGPT requer uma escala gigantesca de dados. Em 2025, deve trafegar na internet algo como 181 zetta­bytes, o dobro do patamar de três anos atrás (1 zettabyte equivale a 1 trilhão de gigabytes). Não à toa, há uma corrida para a construção de data centers mundo afora. No Brasil, empresas como Ascenty, Odata e Scala vêm anunciando investimentos bilionários em estruturas para dar conta da montanha de dados gerados pela IA.

Muitas dessas obras vão demorar algum tempo para sair do papel. Em paralelo, a Modular Data Centers criou um método para erguer data centers numa espécie de contêiner que sai pronto da fábrica da empresa, em Santana de Parnaíba. Tudo isso é uma mão na roda para quem tem pressa. “A construção convencional exige que todo o processo, desde a obra civil até a instalação dos equipamentos, aconteça em campo”, diz Mendes. “O que nós fazemos é pré-fabricar tudo, já testado e pronto para ser montado no local.” Administradora com experiência em times de tecnologia e gestão de processos em grandes empresas, como a montadora japonesa Honda, ela abriu a Modular Data Centers em 2021, ao lado do marido, Marcos Peigo, que também é uma das mentes à frente da Scala. Ambos anteviram a adoção maciça de IA — e o “caminhão”de dados necessários para dar vida aos algoritmos.

A Modular Data Centers cresceu rapidamente, em boa medida pela aquisição de ativos da Gemelo, uma empresa de Mococa, no interior paulista, já reconhecida pela tecnologia de data centers de menor porte. Entre os clientes da Modular Data Centers estão negócios como a ­Scala, hoje altamente demandada por seus próprios clientes — em geral, big techs e outros grandes consumidores de dados, conhecidos pelo jargão hyperscalers. A Modular começou com foco no mercado brasileiro, mas hoje já tem clientes no Chile, México, Colômbia e Guatemala. “Desde o início, nosso objetivo foi oferecer uma alternativa real à construção convencional de data centers, que é lenta e carrega muitos riscos”, diz Mendes. “Hoje, podemos entregar soluções modulares que são tão confiáveis quanto as tradicionais, mas muito mais rápidas e seguras.”


Tractian

Setor: Indústria | O que faz: Manutenção preditiva | Ano de fundação: 2019

Igor Marinelli: a Tractian monitora mais de 1.000 plantas industriais no mundo (Tractian/Divulgação)

Igor Marinelli, de 27 anos, nunca teve muitas dúvidas sobre o futuro da Tractian. Para ele, o sucesso da startup brasileira era apenas uma questão de tempo. “Desde que fundei a empresa, sabia que chegaríamos lá”, diz o paulistano. E vai além: “Não é uma questão de se, mas de quando vamos fazer o IPO”. Ele construiu, ao lado do paulista Gabriel Lameirinhas, uma das startups mais promissoras do Brasil. Desde a sua fundação, em 2019, a Tractian tem sido um exemplo de como a inteligência artificial pode ser aplicada para resolver problemas complexos no mundo real. A empresa usa sensores inteligentes e IA para monitorar e antecipar falhas nas máquinas, mantendo qualquer indústria operando sem interrupções. O sistema detecta falhas antes que se tornem críticas e fornece soluções, como a troca de componentes ou o uso de lubrificantes. A ideia surgiu na juventude: Marinelli cresceu observando seu pai, técnico de manutenção em uma fábrica. “Entendi desde cedo que o maior desafio era evitar falhas inesperadas nas máquinas, que causam paradas caras. Quis encontrar uma maneira de mudar isso”, diz.

Hoje, a Tractian monitora mais de 1.000 plantas industriais no mundo e tem clientes como a Suzano, de papel e celulose, e a automotiva Nissan. A cada falha antecipada, estima-se que os clientes economizem até 84.000 reais. E isso é apenas o começo. A confiabilidade das máquinas — ou seja, a capacidade de antecipar falhas — aumentou em 45% graças ao sistema de manutenção preditiva da Tractian. Com o recente aporte de 700 milhões de reais em sua rodada Série C, a Tractian já alcançou a marca de 4 bilhões de reais em avaliação, tornando-se um dos unicórnios mais promissores do Brasil. Além de suas operações no Brasil e nos Estados Unidos, a empresa também expandiu para o México. A estimativa é que o mercado global de manutenção preditiva alcance 32 bilhões de dólares até 2030. “Nossa estratégia sempre foi global. Queremos estar em todos os lugares em que as grandes indústrias operam”, diz Marinelli.


A IA anuncia, compra e vende

Artur Souza, VP da Meta, explica como a inteligência artificial vai transformar anúncios, desburocratizar campanhas e abrir espaço para novos negócios — inclusive no Brasil

Por André Lopes

Artur Souza, vice-presidente de engenharia para negócios da Meta: a IA vai permitir a automação total de campanhas publicitárias (Leandro Fonseca /Exame)

Há um movimento em curso nas entranhas da Meta que promete alterar profundamente a lógica da publicidade digital — e, em última instância, do próprio mercado de mídia. Com 3,4 bilhões de usuários e uma base global de anunciantes, a empresa de Mark Zuckerberg vem redesenhando seu ecossistema publicitário para o que seus executivos já chamam, sem rodeios, de uma “redefinição completa da categoria”. A ideia explicitada por Zuckerberg é direta: o cliente só precisará dizer o que quer vender, conectar sua conta bancária e deixar que a Meta cuide do resto, da criação à entrega dos anúncios, tudo com IA. O plano, ambicioso e ainda em processo de implementação, é traduzido no dia a dia por lideranças como o brasileiro Artur Souza, vice-presidente de engenharia para negócios da Meta. Engenheiro de formação, com 13 anos de casa Artur deixou o Brasil para ser no Vale do Silício uma das pontes entre os times técnicos da companhia e os interesses comerciais e publicitários da Meta mundo afora. “A IA deixou de ser uma ferramenta de bastidor para se tornar parte do que define o valor de uma campanha”, afirma. O executivo também explica a evolução de modelos como o Llama, infraestrutura aberta da Meta, e dá pistas de como o Brasil pode aproveitar o avanço da IA para pular etapas históricas e assumir protagonismo em áreas como mensagens corporativas e criação automatizada.

Você está há mais de uma década na Meta unindo tecnologia e negócios. O que mudou na sua função ao longo desse tempo e o que ainda o motiva?

Minha função, de forma abstrata, continua sendo construir pontes entre times técnicos e as necessidades de negócio. Mas o “o quê” e o “como” mudaram radicalmente. Quando entrei, o foco era o engajamento em curtidas e aplicativos sociais. Depois veio o mobile, os anúncios para empresas e, mais recentemente, a inteligência artificial. É uma função viva, porque a tecnologia evolui, e nosso papel, também. O que me motiva é isto: seguir aprendendo algo novo todos os dias. Ainda é raro encontrar profissionais que gostem igualmente da parte técnica e da parte estratégica, e esse continua sendo um desafio de recrutamento no nosso time.

O futuro da publicidade parece caminhar para um modelo sem criativos, sem targeting manual e até sem interface. Como você enxerga essa transição?

Estamos caminhando para um momento em que bastará dizer “quero vender esse produto”, conectar sua conta bancária, e o sistema fará o resto: criar imagem, escrever texto, escolher público e otimizar resultados. É o conceito de infinite creative, que Mark Zuckerberg resumiu bem: você não precisa vir com o anúncio pronto, podemos fazer para você. Isso muda tudo, inclusive o papel das agências. E ainda existe outro ponto: a IA vai interagir com a web de outra forma. As empresas vão precisar criar versões de seus sites que “conversem” com agentes, como se fossem APIs em linguagem natural. Isso ainda está em construção, mas vai redefinir como marcas e consumidores se conectam.

E como exatamente a inteligência artificial se manifesta nos produtos da Meta voltados para a publicidade?

A IA está presente tanto nos bastidores quanto em ferramentas visíveis. Nos bastidores, ela entende o comportamento do consumidor e entrega o anúncio certo para a pessoa certa, priorizando a jornada de compra, e não só o clique. Já nos produtos, ela automatiza tarefas como o ajuste de imagens para diferentes formatos (feed, reels, stories) e traduz vídeos mantendo o tom de voz original, permitindo que criadores brasileiros alcancem públicos em outros países. Tudo isso para poupar tempo e gerar resultados melhores.

Essas soluções trazem retorno real para os anunciantes? Como vocês medem isso?

Sim, os ganhos são claros. Com ferramentas como o Advantage Plus, anunciantes chegam a ter um retorno de 3,40 dólares para cada dólar investido. Além disso, tarefas repetitivas — como redimensionar peças ou ajustar criativos — são automatizadas, liberando profissionais para se dedicarem à estratégia de marca e à tomada de decisão. Estamos vendo um movimento no qual a IA não apenas reduz custos, mas eleva o nível do negócio.

A Meta lançou o Llama como modelo open-source, indo na contramão de quem monetiza IA diretamente. Qual é a lógica dessa estratégia?

A ideia é semelhante ao que Amazon e Google fizeram com cloud: transformar uma infraestrutura própria em motor de escala para o ecossistema. Ao abrir o código do Llama, promovemos um círculo virtuoso: mais gente usa, mais contribuições voltam, e todos ganham. Não estamos interessados em vender o modelo diretamente. Preferimos fortalecer nosso ecossistema e gerar valor por meio de nossas ferramentas e plataformas publicitárias. É uma forma de democratizar a IA, beneficiando tanto os pequenos negócios quanto os grandes anunciantes.

Você vê alguma vantagem específica para o Brasil neste momento de virada tecnológica?

O Brasil tem uma vantagem rara: a adoção massiva de mensagens para fazer negócios, especialmente via WhatsApp. Em muitos países, isso ainda está começando. Isso posiciona o país para liderar soluções de comércio conversacional e exportar inovação. Além disso, nossa criatividade, combinada com ferramentas de IA que reduzem barreiras técnicas, pode transformar pequenos negócios em produtores de tecnologia. A IA permite que qualquer um crie um site, um app ou um assistente com comandos simples, sem depender de um time de engenheiros.

Mas existem entraves estruturais, os data centers começaram a vir para o Brasil recentemente, e agora as empresas começam a sentir um ambiente de incentivo para investirem aqui. Como o Brasil poderia se preparar melhor para mudar essa posição de apenas usuário de IA?

Esse é um ponto-chave. A Meta tem compromisso com emissão líquida zero de carbono, e o Brasil, com sua matriz hídrica, tem potencial para ser um hub global de data centers. Mas isso exige incentivos. Hoje, o Congresso discute responsabilidade, mas falta estimular a instalação de infraestrutura. A IA exige muita energia limpa, e isso poderia gerar empregos de alta qualificação no país. Com incentivos corretos nos níveis federal, estadual e municipal, o Brasil poderia se tornar um polo competitivo global.


Para ficar de olho

Enquanto algumas startups já chegaram lá com a ajuda da IA, outras estão no início da jornada para se tornarem grandes aplicações no futuro. Aqui vão quatro delas

Neurogram

Daniele de Mari, fundadora da Neurogram: aos 25 anos, ela lidera a startup que já processou mais de 50.000 exames (Leandro Fonseca /Exame)

Criada e liderada pela paranaense Daniele de Mari, a Neurogram usa inteligência artificial para ajudar médicos a interpretar com mais precisão e agilidade exames de eletroencefalograma, ainda manuais em boa parte dos hospitais. A startup já atendeu mais de 10.000 pessoas, analisou 50.000 exames e tem parceria com o gigante americano Mayo Clinic, referência global em neurologia.

Bem Agro

Johann Coelho, CEO da Bem Agro: empresa já recebeu investimento da Suzano (Bem Agro/Divulgação)

Agtech fundada em 2018 utiliza inteligência artificial e visão computacional para transformar dados de tratores, drones e satélites em relatórios agronômicos. A empresa já atende mais de 400 clientes em 11 países, processando mais de 5 milhões de hectares. Recentemente, levantou 15,2 milhões de reais em uma rodada pré-série A, com foco em expandir a atuação internacional.

Etiqueta Certa

Fundada por Karine Liotino e Mariana Amaral, a startup usa inteligência artificial para garantir que etiquetas de roupas e itens estejam conforme as normas legais, evitando multas de até 1,5 milhão de reais para grandes varejistas, como Lojas Renner e C&A. O software audita as etiquetas em até 40 segundos, evitando um retrabalho que pode durar até duas semanas. A empresa projeta faturar 5 milhões de reais em 2025.

Karine Liotino e Mariana Amaral, fundadoras da Etiqueta Certa: empresa tem 250 fornecedoras parceiras (Leandro Fonseca /Exame)

Colab

A govtech pernambucana permite a cidadãos reportarem problemas diretamente ao gestor público, enquanto utiliza IA para analisar e priorizar essas demandas. Já são mais de 100 prefeituras atendidas, 1 milhão de usuários ativos e 20 milhões de reais em investimentos recebidos desde a fundação da empresa, em 2013.

Gustavo Maia, CEO do Colab: empresa estima 20 milhões de pessoas impactadas (Colab/Divulgação)

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