Revista Exame

Hotéis, hotéis e mais hoteis no Brasil

O turismo de negócios — principalmente ligado ao agronegócio e ao petróleo — e o aumento de renda do brasileiro levam o setor hoteleiro a uma fase inédita de investimentos

Orla de Copacabana, no Rio: capital do petróleo e sede de grandes eventos, a cidade ganhará 17 hotéis até 2014 (Creative Commons)

Orla de Copacabana, no Rio: capital do petróleo e sede de grandes eventos, a cidade ganhará 17 hotéis até 2014 (Creative Commons)

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Da Redação

Publicado em 7 de outubro de 2011 às 16h07.

São Paulo - há três décadas o empresário paulistano Júlio Serson, de 49 anos, administra os hotéis da bandeira Vila Rica. Fundada por seu pai em 1966, a rede — atualmente com cinco hotéis — opera em São Paulo, Maranhão, Pará e Rondônia no segmento intermediário, de diárias entre 200 e 300 reais.

Em 2009, depois de seis anos sem investir, o Grupo Serson voltou a abrir novos hotéis. Dessa vez, decidiu apenas construir os prédios e entregar a administração à rede Ibis, bandeira do grupo francês Accor para a categoria de diárias econômicas, na faixa de 150 reais.

Um deles foi inaugurado no ano passado, em Belém, e outro será aberto até janeiro de 2012, em Porto Velho, com investimentos que somam 42 milhões de reais.

Nas duas cidades, onde Serson também atua com a bandeira Vila Rica, o forte é o turismo de negócios, puxado por grandes obras, como a construção de rodovias e as hidrelétricas de Santo Antônio e Jirau, em Rondônia, e Belo Monte, no Pará. “Os últimos dois anos foram os melhores das últimas três décadas e me deram coragem de voltar a investir”, diz Serson.

O ânimo do empresário paulista é uma mostra do bom momento que vive o setor hoteleiro no país. Atualmente, 198 hotéis estão em construção ou já têm projeto licenciado pelos órgãos públicos, com previsão de entrar em funcionamento até 2014. O investimento total desses projetos soma 7,3 bilhões de reais, segundo um levantamento da consultoria BSH International.

Só a rede francesa Accor — maior grupo hoteleiro em atuação no Brasil, com hotéis que vão da bandeira de luxo Sofitel à supereconômica Formule 1 — passará a operar 76 novas unidades até 2015.

“Em quatro anos, acrescentaremos a metade da operação que levamos 30 anos para construir no Brasil”, diz Abel Castro, diretor de desenvolvimento de novos negócios da Accor.

No mesmo período, a rede americana Atlantica, segunda maior no país, pretende aumentar o número de hotéis em mais de 30%, de 78 para 114. Se confirmado, o ritmo anual de recursos aplicados será o dobro do verificado entre 2006 e 2010.


Trata-se de um ciclo inédito de abertura de novos hotéis no país, ancorado no aumento da rentabilidade do setor, depois de uma década de lucro baixo, quando não de prejuízo. A taxa de ocupação de quartos atingiu os 70% no fim do primeiro trimestre, o melhor nível dos últimos cinco anos. Já a receita por quarto disponível, um dos principais indicadores do setor, dobrou desde 2006, para 143 reais.

O aumento da procura por hospedagem no país é resultado de uma combinação virtuosa de fatores. Por um lado, há o crescimento do turismo de negócios, ligado principalmente ao agronegócio e à exploração de petróleo, no Nordeste e no Sudeste, e às obras de infraestrutura espalhadas por vários estados.

Por outro, o aumento do poder de consumo da classe C, que passou a viajar mais a lazer e para visitar parentes. “Trata-se de uma conjunção inédita na história da hotelaria brasileira”, diz Diogo Canteras, diretor-presidente da consultoria HotelInvest. Um estudo feito pela HotelInvest mostra que a demanda por novos quartos crescerá cerca de 7% ao ano até 2020.

Para abrigar principalmente os brasileiros em viagem, o parque hoteleiro do país teria de saltar dos atuais 300 000 para 524 000 quartos até 2020. “Na verdade, o que está sendo construído ainda é muito pouco em relação ao crescimento da demanda, que normalmente acompanha o PIB”, afirma Diogo Canteras.

Seis em cada dez hotéis com abertura prevista até 2014 estão fora dos destinos litorâneos ou dos ligados a lazer — em 2008, eram quatro em dez. No início do ano, a cadeia brasileira BHG havia identificado 35 cidades no interior do país com potencial para receber um hotel da rede.

Entre as principais inaugurações previstas para 2012 estão as de Palmas, em Tocantins, de Campos, no norte fluminense, e de Maringá, no Paraná. “Iremos aonde a economia estiver crescendo”, diz Peter Vader, presidente da BHG. 

Cidade Maravilhosa

Capital do petróleo, sede de grandes corporações, como Petrobras e Vale, além de palco da Copa do Mundo de 2014 e dos Jogos Olímpicos de 2016, o Rio de Janeiro deve ganhar 17 novos hotéis até 2014, com um total de 3 100 quartos. Segundo a prefeitura, o número chegará ao dobro se forem incluídos os projetos ainda em estudo.


A Accor entra na lista com sete hotéis e a rede carioca Windsor com quatro (três em construção e um em reforma). Em sua estreia no setor, o empresário Eike Batista abrirá dois. Um deles é o nonagenário Hotel Glória, que, fechado desde 2008, será reinaugurado até janeiro no segmento de alto luxo.

Eike também negocia o aluguel de um prédio do Flamengo (o clube) para transformá-lo em hotel. “Só não há mais projetos no Rio porque os terrenos estão muito caros”, diz Ernesto Marino, presidente da BSH International. Historicamente, o terreno custava cerca de 20% do total de um empreendimento hoteleiro.

Atualmente, os terrenos no Rio custam até 50% do total. A rede carioca Windsor, a maior da cidade, com dez hotéis, decidiu instalar dois de seus três novos hotéis na Barra da Tijuca, a 30 quilômetros de Copacabana.

Quem não quer ficar longe da zona sul precisa ousar. Com atuação em hotéis com poucos e luxuosos apartamentos, a rede francesa La Suite comprou, no fim do ano passado, um prédio antes conhecido como ponto de prostituição em uma área no centro da cidade que está sendo revitalizada pela prefeitura. Será o terceiro hotel da rede no Rio.

Os especialistas do setor acreditam que, salvo uma hecatombe econômica, dificilmente os investidores voltarão a enfrentar ressaca igual à vista no fim dos anos 90, após a febre da construção de flats, financiada principalmente por pequenos e médios investidores. Em alguns anos, chegou-se a construir 15 000 unidades.

No fim, a demanda não acompanhou a oferta, e os apartamentos ficaram vazios. Foi necessária mais de uma década para que o setor se recuperasse do trauma. Hoje, o risco parece o oposto — não crescer a tempo de atender a tanta demanda.

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