Revista Exame

Sete perguntas | “Há apetite para investir no Brasil”

O prefeito do centro financeiro de Londres diz que investidores britânicos querem financiar projetos no Brasil, especialmente em infraestrutura

Peter Estlin: “Os investidores têm de olhar além das questões políticas” (Germano Lüders/Exame)

Peter Estlin: “Os investidores têm de olhar além das questões políticas” (Germano Lüders/Exame)

FS

Filipe Serrano

Publicado em 23 de maio de 2019 às 04h57.

Última atualização em 27 de junho de 2019 às 16h45.

O britânico Peter Estlin conhece como poucos o centro financeiro de Londres. Depois de trabalhar décadas em bancos na cidade, ele assumiu em outubro o cargo de prefeito da City de Londres — região administrativa da capital inglesa que concentra as instituições financeiras. Numa visita recente ao país para o lançamento de um fundo de 80 milhões de libras do governo britânico destinado a financiar projetos sustentáveis, Estlin falou a EXAME sobre as perspectivas de investimentos no Brasil.

Sendo representante de um dos maiores centros financeiros do mundo, como o senhor vê o interesse dos estrangeiros em investir no Brasil, com todos os desafios que temos?

O interesse das instituições baseadas em Londres é alto, especialmente em projetos de infraestrutura. As empresas estão dispostas a trabalhar no planejamento, na consultoria e no financiamento das obras. Mas acho que o Brasil tem um desafio genuíno de facilitar a atração das empresas e melhorar a correspondência entre o capital e os projetos.

De que maneira isso poderia ser alcançado?

Algo que ajudaria é a criação de uma base de dados de projetos existentes, com o estágio em que cada um está. Para uma empresa que atua no setor de construção, não é muito eficiente vir ao Brasil para atender só um projeto específico. A base de dados ajudaria a dar visibilidade às oportunidades.

Apenas o setor de infraestrutura pode ser beneficiado?

Não. Há um genuíno apetite por investir em projetos que tenham como premissa a proteção do meio ambiente. E o Brasil, com sua enorme biodiversidade, tem essa vantagem. A questão é como é possível ajudar a economia brasileira a se desenvolver sem que isso cause mais desmatamento.

Temos um governo que até agora não parece preocupado com a proteção das florestas. Isso pode ser um entrave?

Acho que as empresas e os investidores têm de olhar além das questões políticas do momento, que costumam oscilar entre um lado e outro, e de fato buscar os projetos sustentáveis que existem no Brasil. E, no fim, se os investimentos fortalecerem a economia, qualquer governo vai acabar levando o crédito por isso. É muito parecido, se posso dizer, com a questão do Brexit.

De que maneira se parece com o Brexit?

O Brexit é uma distração política de curto prazo. As empresas estão trabalhando para entender os impactos, mas continuam fazendo seus negócios. Estão criando inovação. E a inovação não está surgindo como resultado do Brexit. Está acontecendo porque há capital, talento, um ambiente regulatório favorável e pesquisas de alta qualidade nas universidades.

O que o senhor diz é que essas mudanças na sociedade não vão ser alteradas por causa da política?

Correto. O Brexit, na verdade, não é uma resposta para os problemas mais urgentes que enfrentamos, como as mudanças climáticas, a digitalização das indústrias, a migração em massa. Ele não está ligado à agenda do futuro.

O Brexit é um desvio do que importa?

Eu acho. Porque ele não está solucionando nenhum desses problemas que mencionei. E acho que o público britânico em sua maioria reconhece isso. Todos estão entediados com a questão do Brexit. E o Reino Unido está com um nível recorde de emprego. E também com um nível recorde de investimentos diretos estrangeiros. E um nível recorde de capital de risco. O mundo real não está parando por causa do Brexit.

Acompanhe tudo sobre:BrexitInglaterraLondresReino Unido

Mais de Revista Exame

Borgonha 2024: a safra mais desafiadora e inesquecível da década

Maior mercado do Brasil, São Paulo mostra resiliência com alta renda e vislumbra retomada do centro

Entre luxo e baixa renda, classe média perde espaço no mercado imobiliário

A super onda do imóvel popular: como o MCMV vem impulsionando as construtoras de baixa renda