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Granja Mantiqueira produz dois bilhões de ovos por ano

Há pouco mais de duas décadas, um quase quebrado empresário mineiro comprou uma granja com 30.000 galinhas. Hoje, é o maior vendedor de ovos da América do Sul

Cunha e Leandro, donos da Mantiqueira: começo com 30.000 galinhas (Germano Lüders / EXAME)

Cunha e Leandro, donos da Mantiqueira: começo com 30.000 galinhas (Germano Lüders / EXAME)

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Da Redação

Publicado em 25 de janeiro de 2013 às 05h00.

São Paulo - O empresário mineiro Leandro Pinto, maior  vendedor de ovos do país, considera-se um predestinado — e não é em razão de seu sobrenome. Quando nasceu, 44 anos atrás, seu enxoval foi comprado com o dinheiro da venda de uma dúzia de quilos de um adubo feito com resíduos da pequena granja de sua família.

Os anos passaram, a família de pequenos agricultores deixou a fazenda e Leandro foi ganhar a vida com uma loja de máquinas agrícolas em Itanhandu, no interior de Minas Gerais. No final dos anos 80, o negócio estava quase quebrando quando as galinhas cruzaram outra vez seu caminho.

Um amigo que havia enfartado decidiu se aposentar e ofereceu a ele sua pequena granja. Com a venda de um caminhão velho e um Fiat Uno, Leandro juntou o equivalente a 50.000 reais e arrematou o negócio. Naquele momento, nascia a Granja Mantiqueira, e Leandro Pinto dava o primeiro passo para se tornar dono da maior produção de ovos de galinha da América do Sul. Ele começou com 30.000 galinhas. Hoje, são 11 milhões. 

A história da Mantiqueira é uma daquelas que passam décadas escondidas no interior do Brasil, mas alcançam dimensões assustadoras e até difíceis de imaginar. Com 1.900 funcionários, a granja tem duas unidades: na mineira Itanhandu e em Primavera do Leste, em Mato Grosso.

De seus 11 milhões de galinhas, 8 milhões estão em idade de produção e botam, em média, um ovo a cada 25 horas. No total, são 5,4 milhões de ovos por dia e 1,9 bilhão por ano. Dez para cada brasileiro, em média. Esse volume faz da Mantiqueira a líder no continente e a 11a maior do mundo, atrás de empresas do México, dos Estados Unidos e da Ucrânia.

"Escala é fundamental. A margem de lucro desse negócio está no terceiro zero depois da vírgula", afirma Leandro. Em 2012, vendendo seus ovos a 17 centavos em média, a Mantiqueira teve faturamento estimado de 330 milhões de reais. O lucro não é revelado. 


Com cerca de 4,5 bilhões de reais em vendas anuais, o setor de ovos foi historicamente dominado por empresas de famílias de origem japonesa instaladas no interior de São Paulo. Leandro conseguiu deixar para trás os concorrentes com dois grandes movimentos. Em 2000, o empresário fechou uma aliança que o colocou mais próximo dos varejistas.

Na época, a Mantiqueira vendia 50% de sua produção para a rede de supermercados carioca RDC, que acabara de ser vendida para o Carrefour. Preocupado com as mudanças que isso traria, Leandro chamou um dos ex-donos da rede, o carioca Carlos Cunha, para ser seu sócio na Mantiqueira. Filho de portugueses com tradição no varejo, Cunha se tornou dono de 50% da granja e virou a ponte para a Mantiqueira chegar a varejistas de São Paulo e do Nordeste.

Com os canais de venda abertos, Leandro viu a oportunidade de fazer a grande expansão da Mantiqueira. "Nos Estados Unidos, as granjas de ovos ficam perto da produção de grãos, que são a maior parte do custo", diz. No ano seguinte, começaram a desbravar o Centro-Oeste. Construíram a nova unidade em Primavera do Leste, com 40 galpões que alojam 6 milhões de galinhas.

Nesse que é o maior galinheiro do país, todos os processos são automatizados. As galinhas botam os ovos, que deslizam até uma esteira na qual percorrem até meio quilômetro para chegar à máquina que os separa automaticamente de acordo com o tamanho. Para dar um ar mais tradicional, os sócios colocaram em cada galpão meia dúzia de galos para fazer companhia às galinhas. Mas é superstição pura: as galinhas são estéreis e os galos, inúteis.

Apesar da tecnologia e do tamanho, a gestão de uma granja como a Mantiqueira beira o simplório. A empresa nunca fez investimentos de marketing, e sua área financeira e remuneração por metas só começaram a ser estruturadas recentemente. O lado bom da simplicidade, diz Leandro, é que ele pode se dedicar exclusivamente ao que interessa — o custo. Tudo o que é possível é feito internamente. Num país em que logística é sinônimo de dor de cabeça, a Mantiqueira montou uma frota de 100 caminhões.


Os prejuízos com a quebradeira de ovos na estrada, diz, acabam sendo menores. Para evitar as oscilações do preço da ração, ele construiu um depósito para 150.000 toneladas de grãos. No ano passado, a empresa também começou a financiar produtores de milho e soja em troca de ter seu abastecimento garantido a um preço fixo. Segundo Leandro, a capacidade de acumular grãos para se abastecer por pelo menos seis meses fez com que a Mantiqueira não passasse aperto com a alta do milho e da soja em 2012 — provocada pela seca nos Estados Unidos.

Há coisa de um ano, Leandro e o sócio decidiram diversificar. Recentemente compraram uma fazenda em Confresa, em Mato Grosso, para confinar bois. Com um investimento de 20 milhões de reais, querem usar a nova fazenda e terras arrendadas para abater 60.000 bois até o final de 2013.

Em dois anos, devem chegar a 100.000, o que faria deles os maiores entre os confinadores de gado independentes, não ligados a um frigorífico. Trata-se da maior guinada da história da empresa. Segundo Leandro, é uma tentativa de diminuir os riscos do negócio — ou, para quem não resiste a um trocadilho de vez em quando, não ter todos os ovos numa cesta só. 

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