Revista Exame

Maiores grupos brasileiros cresceram 2,1% em 2014

Os 200 maiores grupos brasileiros cresceram 2,1% e faturaram 792 bilhões de dólares em 2014. É menos do que a receita das três maiores empresas americanas

Rede elétrica da Energisa: o grupo mineiro aumentou sua receita 178% após a aquisição de empresas do grupo Rede Energia (Divulgação)

Rede elétrica da Energisa: o grupo mineiro aumentou sua receita 178% após a aquisição de empresas do grupo Rede Energia (Divulgação)

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Da Redação

Publicado em 26 de agosto de 2015 às 11h32.

São Paulo - Os maiores grupos empresariais do Brasil cresceram um pouco mais em 2014. De acordo com o levantamento de ­MELHORES E MAIORES, os 200 maiores conglomerados faturaram 792 bilhões de dólares no ano passado, um crescimento de 2,1% em relação ao valor obtido no ano anterior.

Mais que o avanço modesto — nada surpreendente num ano com os feriados da Copa, a eleição presidencial e a menor taxa de expansão do produto interno bruto em cinco anos —, o que chama a atenção é que os gigantes brasileiros ainda são pequenos em comparação com os grandes lá de fora.

Nos Estados Unidos, as três empresas que ocupam o topo do ranking da revista Fortune (o varejista Walmart e as petrolíferas Exxon Mobil e Chevron) têm, juntas, receita líquida anual de mais de 1 trilhão de dólares. Só o Walmart fatura mais do que a soma dos dez maiores grupos brasileiros. O Itaú Unibanco, número 1 do Brasil, entraria em 55º lugar na lista americana. E apenas quatro grupos brasileiros estariam entre os 100 primeiros dos Estados Unidos.

(Cabe lembrar que a maior empresa brasileira, a Petrobras, está fora do ranking de grupos de MELHORES E MAIORES porque a lista considera apenas os conglomerados privados. Mesmo com a inclusão da Petrobras, o quadro não mudaria de figura, uma vez que a estatal teve receita consolidada de 116 bilhões de dólares em 2014.)

A gritante diferença de escala entre os grupos brasileiros e americanos reflete o tamanho das respectivas economias — o PIB dos Estados Unidos é sete vezes o do Brasil — e também o grau muito maior de internacionalização das companhias americanas.

“Nos Estados Unidos, as receitas são mais robustas porque muitas empresas são megamultinacionais. Elas obtêm a maior parte do faturamento fora de seu país de origem”, diz Ricado Anhesini, sócio da consultoria KPMG. Outra diferença notável é a composição dos grupos no topo do ranking, uma evidência dos diferentes estágios de desenvolvimento das duas nações.

Nos Estados Unidos, a lista dos dez maiores inclui empresas de tecnologia, como a Apple e a General Electric, fabricantes de produtos de alto valor agregado. No Brasil, destacam-se produtoras de itens básicos, como a mineradora Vale e a J&F, do ramo de carnes. Enquanto a Vale exporta minério de ferro a menos de 70 dólares a tonelada, a Apple vende seu aparelho iPhone 6 (com 129 gramas) por até 399 dólares no mercado americano, dependendo da versão. Com isso, é fácil entender por que a Apple fatura seis vezes mais do que a Vale.

Chama também a atenção o fato de que, no Brasil, três dos dez maiores grupos são bancos: Itaú (1º), Bradesco (2º) e Santander (6º). Nos Estados Unidos, não há nenhum banco no pelotão de frente. As instituições financeiras mais bem posicionadas na lista da Fortune ocupam o 21º (JP Morgan), o 23o (Bank of America) e o 28º lugares (Citi).

Uma explicação para a ausência de bancos nas primeiras posições é que, nos Estados Unidos, a legislação impede que as instituições financeiras exerçam atividades que não sejam seu negócio principal. As restrições existem desde os anos 80 e tornaram-se ainda mais severas em 2010, quando entrou em vigor a Lei Dodd-Frank, que, na esteira da crise financeira de 2008, limitou as operações de risco dos bancos para proteger os clientes.

No Brasil, a situação é diferente. “Aqui, os bancos operam em um ambiente regulatório que permite que tenham operações de seguro, de gestão de ativos e várias outras dentro de uma mesma organização”, diz Anhesini. Ter bancos fortes, é importante notar, serve de alicerce para a economia brasileira — basta analisar o estrago causado por crises bancárias em outros países para notar a relevância do setor bancário.

Independentemente de suas diferenças em relação aos conglomerados americanos, os maiores grupos brasileiros suaram bastante para avançar em 2014. Os dados de MELHORES E MAIORES mostram que poucos grupos conseguiram melhorar significativamente as posições no ranking de faturamento.

O destaque foi o setor de energia. Entre os dez conglomerados que mais aumentaram as vendas no ano passado, metade pertence a esse setor (que abrange as áreas­ de petróleo, gás e energia elétrica). No topo das que mais aumentaram as receitas está o grupo mineiro Energisa. Suas vendas cresceram 178% e atingiram 2,8 bilhões de dólares no ano passado — com isso, subiu da 139ª para a 61ª posição no ranking dos maiores grupos do país.

O avanço da Energisa é explicado em boa parte pela aquisição, em abril de 2014, das empresas da Rede Energia, que estavam em recuperação judicial. “Com essa aquisição, ampliamos de 2,5 milhões para 6 milhões o número de consumidores atendidos e nos tornamos o sexto maior grupo de distribuição de energia no Brasil”, diz Ricardo Botelho, presidente da Energisa.

Ele espera um resultado ainda melhor em 2015, em razão do reajuste de tarifas concedido pelo governo e da atuação do grupo nas regiões Centro-Oeste e Norte, menos afetadas pela atual crise hídrica. Mesmo operando em estados que sofrem mais com a falta de chuvas, como São Paulo, a CPFL, maior distribuidora brasileira de energia, aumentou sua receita 11% no ano passado, subindo do 34º para o 27º posto no ranking dos maiores grupos.

Em 2014, a CPFL incorporou a Desa, uma das principais empresas independentes de energia renovável do Brasil. “Em 2015, ampliaremos nossos investimentos porque energia é um negócio de longo prazo, e os ajustes que estão sendo feitos deverão trazer o crescimento econômico de volta ao Brasil”, diz Wilson Ferreira Júnior, presidente da CPFL.

Qualquer que seja o cenário, há quem acredite que convém não depender muito da recuperação do Brasil. Afinal, é cada vez mais evidente que os atuais problemas do país têm mais a ver com os desacertos internos do que com a conjuntura internacional.

Em busca de maior autonomia em relação a crises domésticas, a Copersucar, maior exportadora de açúcar e etanol do país, adquiriu em 2013 a Eco Energy, terceira maior vendedora americana de etanol.

O resultado da aquisição começou a aparecer no balanço do ano passado, quando a Copersucar aumentou sua receita em 48% e subiu para o 19o lugar no ran­king dos grupos. “A compra da Eco Energy está alinhada com a meta de termos uma posição global forte tanto em etanol quanto em açúcar”, diz Luís Roberto Pogetti, presidente do conselho de administração da Copersucar.

Se o conjunto dos 200 maiores grupos brasileiros aumentou sua receita em apenas 2,1% no último ano, pior foi o que sobrou depois de deduzidas as despesas. No total, foram quase 38 bilhões de dólares de lucro — queda de 2,1% em relação ao ano anterior.

Um grupo que destoou nesse cenário foi a Paranapanema, maior produtora de cobre do Brasil. Mesmo com uma retração de quase 20% nas vendas em 2014, o grupo obteve um lucro quase 20 vezes superior ao do ano anterior. “Foi o resultado da implantação de uma gestão mais austera, com redução de custos e maior disciplina no uso de capital”, diz Christophe Malik Akli, presidente da Paranapanema.

Ao que tudo indica, será uma fórmula que cada vez mais grupos terão de usar daqui para a frente. O Brasil ainda se ressente de anos de dilapidação do ambiente macroeconômico. Apesar de todos os esforços do ministro da Fazenda, Joaquim Levy, em recompor a ordem, a economia ainda vai piorar antes de melhorar. E nossas empresas inevitavelmente vão sofrer.

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