Revista Exame

No Brasil, generosidade de país rico

Uma pesquisa exclusiva revela que, para fazer o bem, as empresas brasileiras estão tão dispostas a compartilhar parte de seus lucros quanto as americanas

Biblioteca mantida pela Suzano na Bahia: investimento privado no combate ao analfabetismo funcional (Ricardo Teles/EXAME.com)

Biblioteca mantida pela Suzano na Bahia: investimento privado no combate ao analfabetismo funcional (Ricardo Teles/EXAME.com)

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Da Redação

Publicado em 18 de fevereiro de 2011 às 11h39.

As crianças da foto abaixo moram no município de Mucuri, na Bahia, e não estão em uma escola pública. A biblioteca, na qual elas se divertem com livros, foi montada pela Suzano Papel e Celulose, e faz parte do Ler É Preciso, programa que a empresa criou para combater o chamado analfabetismo funcional — deficiências na capacidade de ler e compreender o que se lê —, uma condição que atinge 15% da população brasileira entre 15 e 24 anos de idade. No total, são 84 bibliotecas em 11 estados do país que recebem mensalmente cerca de 40 000 crianças, jovens e adultos. O Ler É Preciso é apenas uma das iniciativas da Suzano, que no ano passado investiu 28 milhões de reais em programas voluntários com foco não só em educação mas também em temas como meio ambiente e geração de renda. Um valor que correspondeu a 3,09% de seu lucro bruto em 2009.

O percentual é alto para as companhias do país. É o que revelou a terceira edição de uma pesquisa realizada pela Comunitas, ONG criada pela exprimeira-dama e antropóloga Ruth Cardoso, sobre como as empresas que operam no Brasil gerenciam seus investimentos sociais. Em um universo de 16 companhias privadas de grande porte, que inclui nomes como Vale, Votorantim, Holcim e Bradesco, a mediana da proporção dos recursos aplicados correspondeu a 1,13% do lucro de 2009. Trata-se de um percentual aplicado às causas socioambientais semelhante ao aplicado pelas empresas americanas — ou 1,12%.

“Houve um crescimento dessa relação nos últimos três anos no Brasil, o que mostra o fortalecimento do compromisso das empresas com essas questões”, afirma a socióloga Anna Maria Peliano, pesquisadora do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e autora do estudo. “Este é um fato relevante, sobretudo porque o período não foi dos mais favoráveis economicamente.” A despeito de carregarmos problemas sociais mais prementes que os Estados Unidos, as leis brasileiras estimulam pouco a filantropia — parta ela de pessoas ou empresas. Enquanto aqui o abatimento do imposto de renda nas doações com fins sociais limita-se a 2% do lucro operacional, nos Estados Unidos chega a 10%.

A nova pesquisa da Comunitas revelou-se também a primeira tentativa de colher informações a respeito de um tema sobre o qual se sabe muito pouco no país: o volume dos aportes compulsórios feitos por empresas nos campos social e ambiental em virtude de exigências legais. “As próprias companhias têm dificuldade de discriminar esses valores”, afirma Helena Hypólito, gerente da Comunitas. Apenas sete empresas conseguiram fornecer dados sobre aportes compulsórios à Comunitas.

A amostragem é pequena. Mas com base nela foi possível deduzir que o volume de dinheiro aplicado de forma compulsória está muito próximo do investido voluntariamente. No caso da mineradora Alcoa, ele foi até mesmo maior. Em 2009, a empresa destinou 42,6 milhões de reais para cumprir uma série de exigências legais. Só para a Secretaria do Meio Ambiente do estado do Pará, onde mantém uma mina de bauxita, a Alcoa teve de destinar 28,7 milhões de reais para apoiar a conservação de florestas. “As empresas não enxergam esses aportes como investimento social, mas achamos importante que eles sejam mais bem monitorados”, afirma Anna Maria Peliano. “Afinal, estamos falando de dinheiro privado que está indo para a seara pública, e é preciso saber como esses recursos estão sendo usados.”

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