Presidente da Boeing declara: “Nenhum parceiro nosso obtém condições mais favoráveis”" (Paul J. Richards/AFP)
Da Redação
Publicado em 19 de julho de 2012 às 17h45.
São Paulo - A americana Boeing concorre com a francesa Dassault e a sueca Saab pelo contrato de venda de 36 caças à Força Aérea Brasileira, um projeto de 10 bilhões de reais que se arrasta desde 2006 e não tem prazo para ser fechado.
O Brasil quer ampliar a transferência de tecnologia, mas a Boeing argumenta que há pouco espaço para avançar. “Nossa proposta já é muito agressiva”, diz James McNerney, presidente da empresa.
1) EXAME - Por que o governo brasileiro está demorando tanto tempo para tomar uma decisão sobre a compra dos caças?
James McNerney - As idas e vindas desse projeto são da natureza do negócio. A escolha leva em conta critérios políticos e técnicos. Mas, de fato, o Brasil tem demorado um pouco mais.
2) EXAME - É a burocracia que emperra o processo aqui?
James McNerney - Não é o caso. Estamos falando, afinal, de defesa nacional, a decisão mais importante que um país pode tomar. Não diria que o Brasil é mais burocrático que os Estados Unidos numa decisão como essa.
3) EXAME - Uma das exigências do governo brasileiro é a transferência de tecnologia. Qual é a posição da Boeing sobre isso?
James McNerney - A nossa proposta de transferência de tecnologia já está em um nível bastante elevado. Há algum elemento adicional a ser oferecido no acordo? Talvez. Mas nenhum parceiro nosso obtém acordo melhor.
4) EXAME - Nenhum outro país consegue nada melhor do que foi oferecido ao Brasil?
James McNerney - Não. Para os nossos padrões, a transferência de tecnologia já é muito agressiva. Além do mais, nosso equipamento é o melhor — e o governo brasileiro tem consciência disso.
5) EXAME - Em 2011, a Embraer venceu uma concorrência para a venda de aviões à Força Aérea americana, mas a compra foi cancelada, supostamente, para beneficiar uma empresa local. A Boeing cogitou a hipótese de interceder a favor da Embraer?
James McNerney - Não nos envolvemos em projetos da Embraer, assim como ela não se envolve nos nossos. Há quem encare o cancelamento do contrato da Embraer como uma posição anti-Embraer ou anti-Brasil. Mas metade dos contratos que a Boeing vence é contestada pelos derrotados. Isso acontece o tempo todo, infelizmente.
6) EXAME - O governo brasileiro pretende prosseguir com a concessão de aeroportos federais para a iniciativa privada. A Boeing tem interesse nessa área?
James McNerney - Não costumamos encarnar o papel de investidor. Em geral, prestamos consultoria a governos para ajudar a gerenciar essas privatizações — propondo padrões para a construção de aeroportos e analisando a malha aérea. Com rotas mais eficientes, podemos ganhar com a economia de combustível, a redução de poluentes e — claro — a venda de mais aviões.
7) EXAME - No Brasil, duas companhias aéreas têm, somadas, 80% do mercado de aviação. Não seria o caso de o Brasil abrir o mercado às companhias estrangeiras?
James McNerney - O crescimento aqui é muito agressivo. Além do mercado das companhias de aviação, há um grande espaço, por exemplo, para empresas de manutenção e de serviços. Já sabemos que pelo menos três empresas dessas áreas devem chegar ao país em breve.