Revista Exame

Financiamento do século 21: as novas fronteiras de crédito do agro

Com recursos públicos insuficientes à atual performance da agricultura brasileira, setor aposta em mecanismos como CPR, barter e transações via blockchain

Com plantio e colheita em expansão, a compra de insumos, maquinário e estruturas de pós-colheita não espera somente o recurso liberado pelo governo (Gustavo Mansur / Governo do Rio Grande do Sul/Divulgação)

Com plantio e colheita em expansão, a compra de insumos, maquinário e estruturas de pós-colheita não espera somente o recurso liberado pelo governo (Gustavo Mansur / Governo do Rio Grande do Sul/Divulgação)

Publicado em 22 de março de 2023 às 06h00.

Mesmo sem saber de quanto será a verba disponibilizada pelo governo federal no Plano Safra, o financiamento do calendário agrícola se mantém ativo, com alternativas independentes ao aporte público. A cada ano que passa, o agronegócio recorre a mecanismos como Cédula do Produtor Rural (CPR), Fiagro e Letras de Crédito do Agronegócio (LCA) para financiar recordes de produtividade em um cenário de aumento global da demanda por alimentos. Com plantio e colheita em expansão, a compra de insumos, maquinário e estruturas de pós-colheita não espera somente o recurso liberado pelo governo. Entre a colheita da safra 2022/2023 e os preparativos para a temporada 2023/2024, muitas decisões devem ser tomadas no decorrer do segundo trimestre, mesmo que isso signifique não contar com o Plano Safra, principalmente no caso da agricultura empresarial de larga escala. De acordo com o Ministério da Agricultura, a liberação do crédito rural chegou a 239,4 bilhões de reais no Plano Safra 2022/2023, no perío­do de julho de 2022 a fevereiro de 2023, entre linhas de custeio, investimento e comercialização e industrialização. Mas não parece suficiente, vide o pedido de entidades do setor agropecuário do Paraná para que o recurso público de 2023/2024 seja de 403 bilhões de reais.

Plano safra financia o agronegócio?

“Quem financia a agricultura de fato são bancos, cooperativas de crédito e mercado de capitais. O Plano Safra é pequeno e ainda não tem [recurso suficiente]”, resume Antonio da Luz, economista-chefe da Federação da Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul. O economista-chefe da Farsul recorda que a agropecuária iniciou essa não dependência do Plano Safra em meados de 2010, a partir da criação da liberação de recursos livres. Com os prazos de pagamento condicionados ao calendário-safra, o produtor consegue acessar o insumo, gerar uma CPR e pagar com a própria commodity mediante a colheita. Por isso, Antonio da Luz vê que a política pública do Plano Safra “tem de ser recalibrada para o século 21”.

Isso significa mudar a lógica de financiamento para aportes em seguro rural e garantias de operações estruturadas de crédito, um modo de dar mais confiança no momento da tomada de juros mais baratos. “Toda vez que revendas de insumos, cooperativas e tradings dão um prazo safra para o produtor, esse negócio vai ser sequenciado na Faria Lima, vai virar um CRA [Certificado de Recebíveis do Agronegócio] e vai ser jogado no mercado de capitais”, afirma Luz.

(Arte/Exame)


Do CRA ao blockchain

No fim do ano passado, a cooperativa de crédito Cresol levantou 250 milhões de reais em Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRA) para ampliar linhas de custeio e reforçar o apoio à agricultura familiar — cerca de 80% dos clientes. É o mercado de capitais financiando o setor, independentemente do tamanho da área produtiva. “O produtor se vê com perda de rentabilidade no meio da safra, por isso procura a renegociação de dívidas. Temos linhas emergenciais com um ano para começar a pagar e parcelamento entre quatro safras, com taxa de 14% ao ano. Praticamente na taxa de mercado, o que é acima dos 5% do Pronaf, mas traz mais flexibilidade ao produtor”, diz Ademir Baccin, da Cresol.

Transações de recursos financeiros e insumos também estão atreladas ao blockchain no campo. É o exemplo do criptoativo da Cibra Fertilizantes, token que possibilita a compra de fertilizante físico por meio de um ativo digital, numa paridade de um token para 1 quilo de fertilizante. Diante da volatilidade de preços e a incerteza quanto ao Plano Safra, a proposta da empresa é uma relação de troca. Foi comercializado 1,3 milhão de reais da moeda digital desde o lançamento em 2022, mas ainda nenhum resgate do fertilizante foi realizado. Isso porque a troca do criptoativo pelo adubo só é feita a partir de 15 toneladas, volume negociado dentro da porteira de grandes propriedades. “Não é um derivativo de preços, porque o Cibracoin vale o preço do fertilizante do porto, mas é possível comprá-lo e fixar o preço. Mesmo sem atingir o volume mínimo, o produtor pode vender a moeda, continuar capitalizado e fazer esse ativo rodar no mercado”, diz Gonzalo Bazan, da Cibra.

Acompanhe tudo sobre:Revista EXAME

Mais de Revista Exame

Aprenda a receber convidados com muito estilo

"Conseguimos equilibrar sustentabilidade e preço", diz CEO da Riachuelo

Direto do forno: as novidades na cena gastronômica

A festa antes da festa: escolha os looks certos para o Réveillon