Revista Exame

O clã Peixoto de Castro tenta salvar o que resta

Com bens bloqueados, empresas que dão prejuízo há sete anos e um banco liquidado, a família Peixoto de Castro leiloa o que pode para pagar as contas e se protege de credores para evitar a falência

Refinaria Manguinhos (Divulgação)

Refinaria Manguinhos (Divulgação)

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Da Redação

Publicado em 31 de maio de 2013 às 14h46.

São Paulo - O primeiro carro produzido pela britânica Rolls-Royce depois da Segunda Guerra Mundial foi o modelo Silver Wraith. Não há muito mais de 20 deles espalhados pelo mundo atualmente.

Um exemplar pertence, desde 1953, ao governo brasileiro e costuma ser usado nos desfiles de posse presidencial. Outro está na garagem da rainha da Dinamarca, Margrethe II. Em abril deste ano, um Silver Wraith foi leiloado no Rio de Janeiro.

Avaliado em quase meio milhão de reais, foi vendido com outros 719 bens da família carioca Peixoto de Castro, que já foi uma das mais ricas do país. Há cinco anos, seu grupo de empresas faturava 1 bilhão de reais.

Hoje, as que não foram vendidas estão tão endividadas que, em abril, a família acabou pedindo recuperação judicial — mecanismo sob o qual uma empresa pode renegociar suas dívidas sem correr o risco de falir.

Para conseguir pagar as contas no fim do mês, os Peixoto de Castro estão vendendo o que podem. No leilão de abril, passaram adiante, além do Rolls-Royce, cerca de 40 obras de arte e uma insígnia da Ordem do Tosão de Ouro, uma condecoração criada em 1430 por Filipe III, duque de Borgonha, para celebrar seu casamento com Isabel, filha de Dom João I, de Portugal. Ao todo, levantaram cerca de 3 milhões de reais.

É uma ninharia perto do patrimônio do clã, estimado em 700 milhões de reais. Mas esse dinheiro todo está imobilizado em negócios e bens pessoais. Como o grupo só deu prejuízo há sete anos e a família dependia dos dividendos, a fonte secou.

Para complicar um pouco mais, o banco Prosper, fundado pela família em 1991, foi liquidado pelo Banco Central. Com isso, os irmãos que controlavam a instituição tiveram seus bens bloqueados.

Banqueiros relatam episódios em que membros da família pedem, às lágrimas, ajuda financeira. Um deles, Kim, deve cerca de 30 milhões de reais à ex-mulher, que recentemente pediu sua prisão.


A venda de bens pessoais começou em 2011, quando o apartamento onde morava Maria Cândida, conhecida como dona Nina, foi vendido por 13 milhões de reais, dinheiro que foi disputado por todos os seus dez herdeiros. O leilão do mês passado não concluiu o processo. Recentemente, iniciou-se um movimento para vender o que restou do Prosper e de outros negócios da família.

Fundado em 1929 pelo patriarca, Antônio Joaquim, o Grupo Peixoto de Castro já foi um dos mais importantes conglomerados do país. No auge, foi dono da Refinaria de Manguinhos e de cinco outras empresas. Apaixonados por turfe, os Peixoto de Castro criam centenas de cavalos (seu haras, que promove leilões, é hoje a única empresa saudável da família).

A decadência financeira começou em 2005, quando a refinaria paralisou parte da produção em razão da alta do preço internacional do petróleo e da competição com a Petrobras.

Endividada, a família vendeu a empresa em dezembro de 2008. Os outros negócios do clã foram caindo como dominós. Em abril, o grupo pediu recuperação judicial para se proteger dos credores da dívida de 248 milhões de reais. As ações do grupo na bolsa, que eram negociadas a 9 centavos, foram suspensas. Procurados, os Peixoto de Castro não deram entrevista.

O pedido de recuperação judicial é efeito direto do rolo em que os Peixoto de Castro se meteram com seu banco, o Prosper — liquidado em 2012 pelo Banco Central após anos de problemas. Em 2008, durante a crise que se abateu sobre os bancos médios brasileiros, o Prosper esteve perto de quebrar.

Para continuar vivo, o banco negociou um empréstimo de cerca de 50 milhões de reais com o Fundo Garantidor de Créditos (FGC), órgão que protege depósitos de correntistas de bancos brasileiros. Mas a solução foi temporária. Em 2011, o patrimônio do Prosper ficou abaixo do patamar mínimo exigido pelo Banco Central.

Os donos resolveram vender. No fim de 2011, bateram à porta dos Índio da Costa, então donos do banco Cruzeiro do Sul e com quem tinham uma relação de longa data.  Além de membros das duas famílias serem colegas no conselho consultivo do Jockey Club, no Rio de Janeiro, seus bancos venderam carteiras de crédito um ao outro no passado.


A compra do Prosper pelo Cruzeiro do Sul foi fechada no fim de 2011 por 55 milhões de reais (10 milhões para a família, 45 para pagar o empréstimo com o FGC). Só que, em junho do ano passado, o Banco Central interveio no Cruzeiro do Sul por suspeita de irregularidades.

Os Índio da Costa foram acusados de fraude contra o sistema financeiro, lavagem de dinheiro e manipulação de ações na bolsa (ainda serão julgados). E os Peixoto de Castro são acusados pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM)de ajudar o Cruzeiro do Sul a inflar seu balanço. Os dois bancos foram liquidados em setembro de 2012. 

Corda

De lá para cá, a situação da família se agravou. Os bancos pararam de financiar suas empresas. Três delas paralisaram suas atividades por falta de crédito. A GPC Química, responsável por metade do faturamento do grupo, segue em atividade, embora parcialmente.

Com dívidas de curto prazo para vencer, sem crédito na praça e fornecedores em pânico, os Peixoto de Castro entraram com pedido de recuperação judicial para proteger o grupo de um eventual pedido de falência.

Jogados às cordas nos últimos meses, os Peixoto de Castro lutam para salvar o que resta de seu patrimônio. Seu principal objetivo é vender o Prosper — a venda não renderia um centavo sequer à família, mas desbloquearia os bens de Paulo Cesar e Antonio Joaquim Peixoto de Castro, os irmãos que comandavam o banco, e aumentaria um pouco a credibilidade do grupo.

A decisão de vender ou não depende do FGC, que já ofereceu o Prosper ao chinês China Construction Bank e ao italiano Intesa Sanpaolo, que não estão interessados.

Atualmente, Carlos Alberto de Oliveira Andrade, dono da rede de concessionárias Caoa, está analisando os números da instituição, de acordo com pessoas próximas ao empresário (procurados, FGC e BC  não deram entrevista; o grupo Caoa nega). Outra possibilidade em estudo é a venda de uma participação minoritária na GPC Química.

Também estão à venda terrenos avaliados em cerca de 200 milhões de reais. Segundo pessoas próximas ao clã, até mesmo o haras inaugurado em 1934 pode ser passado adiante. Expressão da ascensão dos Peixoto de Castro, o haras pode se tornar também o símbolo da queda.

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