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A quarentena contaminou muita gente com a vontade de reformar ou redecorar a própria casa e de se arriscar nos trabalhos manuais

Ilustração  (Ilustrações: Gustavo Pedrosa/Exame)

Ilustração (Ilustrações: Gustavo Pedrosa/Exame)

BC

Beatriz Correia

Publicado em 4 de junho de 2020 às 05h30.

Última atualização em 12 de fevereiro de 2021 às 12h52.

Tradicionalmente cheias antes da quarentena, as lojas da Leroy Merlin assim continuam. Houve mudanças, claro. Para a ocupação não passar dos 30%, agora só entram cerca de 200 clientes por vez. Há farta distribuição de álcool­ em gel e marcações na entrada e na área dos caixas para incentivar o distanciamento. A limpeza foi redobrada e o uso de máscaras passou a ser obrigatório para todos os funcionários — e também para os clientes nas cidades onde foram impostas pelo poder público. Incluída na lista de atividades essenciais por vender material de construção, a rede de origem francesa ficou fechada por apenas uma semana no Brasil, logo no início do surto viral. Das 43 unidades espalhadas pelo país, 41 retomaram as atividades. O intuito, expresso em todos os canais de divulgação da marca, é atender “emergências do lar e da construção civil”.

Mas, a bem da verdade, o que levou muita gente a furar a quarentena para bater perna na Leroy foi a vontade incontrolável de repaginar a própria casa. “Ficamos surpresos com a quantidade de clientes decididos a fazer melhorias neste momento”, diz Paulo José, diretor de comunicação da rede. Sua explicação para o fenômeno: “As casas nunca foram tão frequentadas como agora, e problemas que eram imperceptíveis passaram a incomodar”. Aumentaram, por exemplo, as vendas de tintas e plantas. Registrou-se, também, a inusitada e elevada procura pelo material necessário para a montagem de balanços. “Estão sendo instalados em salas de estar para entreter crianças e adultos”, acredita José. Sobre o impacto da pandemia no faturamento, não divulgado, diz o seguinte: “Como qualquer empresa de varejo, não dá para dizer que estamos crescendo no cenário atual”.

Dificuldades à parte, ele aposta que o do it yourself, ou DIY, a versão anglófona do bom e velho “faça você mesmo”, sairá fortalecido — a rede prefere usar um termo enferrujado, “bricolagem”. A profusão de influenciadores digitais que ganham a vida ensinando a confeccionar móveis e acessórios confirma que a cultura de arregaçar as próprias mangas já andava em alta.

Um deles é o curitibano Paulo Biacchi, que viu a audiência de seus vídeos e posts crescer durante a quarentena. O mesmo vale para arquitetos especializados em decoração, a exemplo de Maurício Arruda, apresentador do programa Decora, do GNT. Quer entrar na onda? Conheça a seguir quais são as novas tendências do design de interiores, saiba como acertar na compra de móveis sem sair de casa e como virar expert em organização e jardinagem, entre outras atividades manuais. Boa leitura, boa reforma e bons trabalhos.

Casa só para dormir? Não mais

Ao se converter em influenciador digital do ramo do it yourself, o curitibano Paulo Biacchi, de 40 anos, se impôs o desafio de só ensinar a confeccionar produtos que, no fim das contas, pareçam ter sido comprados prontos. “O comum nessa área eram dicas com papelão e cola quente, mas por que não ensinar a usar a parafusadeira, o serrote?”, indaga ele, que é formado em desenho industrial. “Para quem confeccionou algum produto não há maior satisfação do que ouvir alguém perguntar: ‘Você comprou onde?’”

Com 452.000 inscritos em seu canal no YouTube e 161.000 seguidores no Instagram, Biacchi elaborou tutoriais que ensinam desde a pintar a geladeira até a montar uma bancada com decks de madeira para a pia da cozinha. Ele e a mulher, a designer Carol Armellini, são donos do estúdio Fetiche, que elabora produtos para redes como Artefacto e Tok&Stok. O casal trocou Curitiba por São Paulo há cinco anos. Com dois filhos pequenos, mudou de apartamento em maio, em plena quarentena, felizmente no mesmo prédio, em Cerqueira César. “Como todo mundo, estou descobrindo cada canto de onde vivo e tentando resolver o que não funciona”, conta. “Tenho a impressão de que ninguém mais vai encarar a casa como ‘um lugar só para dormir’.”

Investimentos de longo prazo

Maurício Arruda conversou com a EXAME, por telefone, sentado no chão da cozinha. É o único local do apartamento dele, na Bela Vista, em São Paulo, onde bate sol pela manhã. “Como muita gente, só agora descobri como minha casa funciona ao longo do dia”, diz o apresentador do ­Decora, do GNT. O período de reclusão também o levou a pôr uma poltrona perto da janela da sala, onde bate sol à tarde, e a raspar o cabelo. Segundo o arquiteto, um saldo inegável da quarentena é a percepção generalizada da importância de investir na própria casa. “A quantidade de gente que decidiu fazer pequenas reformas sozinha ou está planejando transformações maiores é enorme”, afirma.

Em sua visão, os cômodos sociais sairão fortalecidos. “A curto ou até no longo prazo, receber pequenos grupos de amigos e familiares será um hábito mais corriqueiro do que marcar encontros em bares e restaurantes”, prevê. Diretor criativo do escritório de arquitetura Todos, ele está decidido a continuar trabalhando no esquema home office até o fim do ano. É essa empresa que toca as reformas destrinchadas pelo Decora — perto de 120 desde que Arruda assumiu o comando do programa em 2015. Interrompida pela pandemia, a gravação de novos episódios deve ser retomada no próximo mês.

A opção pelo apê “Pinterest”

Era a consequência recorrente: aluguel em conta, paredes detonadas. Três anos atrás, o fotógrafo Matheus Ilt, de 25 anos, precisou se render à equação para conseguir morar com o namorado num apartamento no centro de Curitiba. Filho de um pedreiro faz-tudo, resolveu ele mesmo repaginar o endereço, a começar pela fiação elétrica em petição de miséria. Em seguida atualizou a pintura, privilegiando faixas horizontais com cores fortes. “Ficamos em dúvida se valia a pena investir em um imóvel alugado, mas decidimos que moraríamos em um apartamento ‘pinterest’ ”, diz, em referência ao aplicativo de fotos.

Ilt ainda repaginou um armário embutido e construiu uma bancada para a cozinha, entre outras mudanças. Tudo sem ajuda externa e devidamente registrado no YouTube, no qual soma 190.000 inscritos, e no Instagram, onde amealhou quase 300.000 seguidores. O sucesso das postagens o levou a deixar a fotografia de lado e a investir na carreira de influenciador digital do segmento do it yourself. “Dou soluções para quem não pode gastar muito com decoração, como eu, e que não envolvam mudanças de alvenaria”, resume ele, que adotou o cabelo rosa como marca registrada e o slogan “Senta que lá vem reforma”. “Desde o início da quarentena, que cumpro à risca, a procura pelas minhas dicas cresceu muito”, conta.

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