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MM 2025: Bancos brilham em dias nublados, com crescimento de dois dígitos nas receitas

Juros altos pesaram menos que o esperado na inadimplência e impulsionaram o lucro dos bancos

Itaú: crescimento de 7,5% da carteira de crédito no primeiro semestre em comparação com o mesmo período de 2024  (Itaú/Divulgação)

Itaú: crescimento de 7,5% da carteira de crédito no primeiro semestre em comparação com o mesmo período de 2024 (Itaú/Divulgação)

Rebecca Crepaldi
Rebecca Crepaldi

Repórter de finanças

Publicado em 25 de setembro de 2025 às 22h00.

O ano de 2024 foi marcado por uma montanha-russa nos mercados. Após dois anos de taxas elevadas, um breve ciclo de corte de juros deu lugar a novos aumentos na segunda metade do ano. Os bancos, contudo, surpreenderam positivamente. A receita das 90 instituições que entraram nesta edição do Ranking MELHORES E MAIORES saltou de 1,44 trilhão de reais em 2023 para 1,65 trilhão de reais em 2024, alta de quase 15%.

Os bancos, é claro, ganham mais com os juros altos. Mas períodos prolongados de taxas muito elevadas normalmente podem se traduzir num aumento da inadimplência, o que pesa na rentabilidade. Não foi o que aconteceu no ano passado. O lucro líquido combinado das empresas avaliadas subiu ainda mais que a receita, 21%, para 196,76 bilhões de reais.

“Havia receio de uma piora da inadimplência em 2024 que não se confirmou.  A economia reagiu bem, e esse movimento segue agora em 2025”, afirma Pedro Gonzaga, head de análise e sócio da Mantaro Capital. Os ativos totais chegaram a 15,58 trilhões de reais e o patrimônio líquido foi a 1,32 trilhão de reais.

Mas, se antes da pandemia os maiores bancos do Brasil operavam com rentabilidades mais próximas, depois dela as diferenças se acentuaram. A saída dos juros de um dígito para patamares mais elevados e a retirada dos estímulos econômicos afetaram principalmente as instituições com exposição maior ao público de renda mais baixa.

Nesse ambiente, quem se destacou mais uma vez foi o Itaú Unibanco. Além do maior foco nas pessoas físicas de alta renda e menor participação de pequenas e médias empresas no portfólio, o banco foi bem-sucedido na transformação digital para fazer frente aos neobanks, que têm um custo de servir bem mais baixo por causa do uso intensivo de tecnologia, como o Inter e o Nubank.

Em 2024, o Itaú teve alta de 9% na receita, para 242,25 bilhões de reais. Com avanço na eficiência e na rentabilidade, o lucro líquido subiu ainda mais, 26%, para 42,12 bilhões de reais. O retorno sobre patrimônio passou a 22,2%, um avanço de 1,2 ponto percentual em relação ao ano anterior. No ranking deste ano, em seguida vieram Banco do Brasil, Bradesco, Caixa e Santander.

Os juros elevados devem continuar a sustentar os resultados: a Selic alcançou 15% em junho de 2025, maior nível em quase duas décadas. De fato, no primeiro semestre deste ano, os bancos continuam a apresentar resultados robustos. O Itaú teve o seu maior lucro líquido semestral da história, chegando a 22,6 bilhões de reais, alta de 14,1% sobre o mesmo período do ano passado. Azeitando sua operação, o Bradesco também mostrou recuperação expressiva da sua rentabilidade após anos sofrendo com perdas na carteira de PMEs.

Mas o temor de inadimplência e os juros nas alturas já fazem as instituições diminuírem a velocidade na concessão de crédito, de olho em manter a qualidade da carteira. No Itaú, a carteira de crédito cresceu 7,5% no primeiro semestre em comparação com o mesmo período de 2024 — uma taxa menor que o avanço de 13% do ano passado. O Bradesco viu uma expansão de 11,7% no port-fólio, mas a projeção de 4% a 8% para o ano indica desaceleração no segundo semestre. O Santander foi o mais cauteloso, com expansão de apenas 1,5% da carteira na primeira metade do ano.

Uma das principais preocupações neste ano tem sido o crédito rural, com avanço expressivo dos empréstimos em atraso e das recuperações judiciais de empresas do campo. O Banco do Brasil, dono da maior carteira agro do Brasil, foi o mais afetado, com um recuo de 44,7% no lucro do primeiro semestre, para 9,8 bilhões de reais.

Para Samuel Barros, reitor do Ibmec no Rio de Janeiro, o desempenho consolidado do setor — seja com juros mais altos, seja com mais baixos, calibrando volume e velocidade de concessões — é uma mostra da sua solidez. “É um segmento extremamente resiliente, mesmo diante de oscilações de mercado.”

Essa resiliência explica por que o setor continua entre os favoritos de investidores institucionais. Classificado como defensivo, tende a se beneficiar em qualquer cenário. “Os bancos ganham com a alta dos juros, porque maximizam retornos, e também na baixa, ao expandirem operações. Em um país que vive de crise em crise, é um setor que protege carteiras”, resume Barros. Faça chuva ou faça sol.


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