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Chegou a era do banco como um serviço

Com o Pix, empresas de fora do setor financeiro buscam startups para oferecer soluções de pagamento a seus clientes

Fabiano Cruz, da Zoop: por causa do Pix, mão de obra cresceu 30% em 2020 e fintech recebeu aporte de 60 milhões de reais (Divulgação/Divulgação)

Fabiano Cruz, da Zoop: por causa do Pix, mão de obra cresceu 30% em 2020 e fintech recebeu aporte de 60 milhões de reais (Divulgação/Divulgação)

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Carolina Ingizza

Publicado em 5 de novembro de 2020 às 05h44.

Última atualização em 5 de novembro de 2020 às 11h40.

Nova maneira de transferir recursos ou pagar contas em tempo real e sem burocracias, o Pix deve entrar em funcionamento em 16 de novembro. Criado pelo Banco Central, o sistema promete facilitar o acesso ao mercado de transferências eletrônicas de dinheiro, hoje basicamente nas mãos dos bancos. De olho na oportunidade aberta pelo Pix está uma porção de fintechs, empresas de tecnologia dedicadas ao setor financeiro. Em linhas gerais, elas querem uma coisa só: transformar qualquer tipo de empresa numa espécie de “minibanco” capaz de movimentar recursos financeiros de clientes finais com segurança. A tendência tem até um apelido: bank as a service (ou “banco como um serviço”, em português). “Por conhecer o arcabouço do sistema financeiro brasileiro, conseguimos abaixar a barreira de entrada às empresas interessadas nesse mercado”, diz Davi Holanda, presidente da fintech paulistana Acesso, cujo produto desse tipo, lançado em março, já tem 110 clientes.

 

O aplicativo de delivery iFood é uma dessas empresas. A ideia é o app virar “o banco dos restaurantes”, oferecendo contas digitais, cartões de crédito e acesso ao Pix por ali. Quem fornece a tecnologia é a fintech paulistana Zoop. “Temos hoje 600 parceiros, transacionando 2 bilhões de reais por mês”, diz Fabiano Cruz, presidente e cofundador da Zoop. Por causa do Pix, a mão de obra da fintech cresceu 30% neste ano — hoje são mais de 300 funcionários. Em setembro, o negócio recebeu aporte de 60 milhões de reais da Movile (do mesmo grupo controlador do iFood).

O potencial dessas fintechs atraiu investidores. Em julho, o FitBank se tornou a primeira empresa de pagamentos da América Latina a receber um aporte do banco americano J.P. Morgan (o valor não foi divulgado). Companhias dos mais diversos setores, como hospitais, faculdades e empresas de engenharia, estão procurando a fintech interessadas no Pix. “Há uma migração dos bancos para essas novas estruturas”, diz o fundador do FitBank, Otavio Farah. Fundada em 2015, a fintech movimentou 2 bilhões de reais no ano passado. Neste ano, o negócio deve crescer quatro vezes.

(Arte/Exame)

Em outra frente do Pix, a fintech paulistana Aarin criou um sistema que usa QR Code para servir de alternativa aos cartões de crédito e débito na hora de fazer compras. Chamado “Meu Plim”, o serviço será lançado em novembro. “O pagamento instantâneo será commodity. O importante é gerar dados para se diferenciar”, diz Yan Tironi, fundador da Aarin, aberta no começo do ano e já com 30 clientes.

As variadas possibilidades de uso, no entanto, só farão sentido quando a sociedade estiver habituada ao Pix. Segundo uma pesquisa recente da consultoria Consumoteca, mais da metade dos brasileiros ainda depende de idas ao banco para pagar contas ou transferir recursos. Ao que tudo indica, isso deve mudar. Mais de 50 milhões de cadastros no Pix já foram registrados desde outubro. “Novas fintechs vão trazer modelos de negócios que ainda nem conhecemos”, diz Diego Perez, diretor da Associação Brasileira de Fintechs.

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