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“Está na hora de reconhecer o status do Brasil”, diz Peter Hakim

Às vésperas da visita de Barack Obama, o especialista americano em diplomacia defende mais cooperação bilateral em setores como aviação e energia nuclear

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Da Redação

Publicado em 31 de março de 2011 às 10h22.

Peter Hakim, um dos maiores conhecedores da diplomacia das Américas, diz que chegou a hora de os Estados Unidos darem ao Brasil os mesmos crédito e status que já conferem a outras potências emergentes, como a Índia. Presidente emérito do centro de estudos Inter-American Dialogue, ele falou a EXAME por telefone de seu escritório em Washington.

1) EXAME - Que oportunidades a visita de Obama traz ao Brasil em termos econômicos?

Peter Hakim - Depois das tensões do fim do governo Lula, a visita de Obama deve lançar as bases de uma maior cooperação. Há áreas estratégicas maduras para isso, como ciência e tecnologia. Hoje, o Brasil não depende tanto dos Estados Unidos em investimento ou acesso a mercados. Mas os Estados Unidos têm tecnologia em abundância e qualidade — coisas de que o Brasil precisa. Há enormes oportunidades em áreas como aviação e energia nuclear.

2) EXAME - Mas o Brasil é cético sobre a proposta americana de transferir tecnologia com os caças da Boeing.

Peter Hakim - Apesar de a Boeing ter o melhor caça, o Brasil está buscando o melhor acordo em preço e transferência de tecnologia. Os Estados Unidos têm leis rígidas nesse campo. Será difícil que Obama dê garantias absolutas, mas os americanos podem fazer uma proposta melhor. Além de uma questão comercial, essa é uma questão diplomática, em que o Departamento de Estado tem sido muito atuante.

3) EXAME - E como os Estados Unidos podem cooperar com o Brasil em energia nuclear?

Peter Hakim - Do modo como já cooperam com a Índia, que, ao contrário do Brasil, é um país que tem a bomba atômica e não assinou o acordo internacional de não proliferação nuclear. Se os Estados Unidos ajudarem o Brasil em tecnologia nuclear pacífica, poderão cobrar um compromisso mais forte, para pressionar países como o Irã a não ter armas atômicas.


4) EXAME - Os Estados Unidos estão dispostos a rever já suas barreiras agrícolas a produtos brasileiros?

Peter Hakim - Creio que não. A política agrícola americana poderá ser revista pelo Congresso só em 2012.

5) EXAME - O impasse no front agrícola não complica ainda mais a conclusão da rodada de Doha?

Peter Hakim - Converso com gente próxima às negociações e não escuto nada de bom. Falta energia para concluir Doha.

6) EXAME - No âmbito do G20, como os dois países podem trabalhar em conjunto?

Peter Hakim - Nesse grupo das maiores economias, Brasil e Estados Unidos compartilham interesses em questões importantes dos mercados financeiros e com relação à manipulação da moe­da chinesa. Ambos os países sofrem com a competição e gostariam que a China valorizasse o iuane para permitir mais equilíbrio no mercado global de manufaturas.

7) EXAME - Obama fará algum gesto de que apoiará a candidatura do Brasil ao Conselho de Segurança?

Peter Hakim - Dificilmente. Mas os Estados Unidos deveriam considerar isso seriamente. É inevitável que o Brasil chegue ao Conselho de Segurança das Nações Unidas. Pode levar anos, mas certamente vai acontecer. É um país responsável, que paga suas contas em dia e que tem sido um bom vizinho. Se os Estados Unidos apoiarem o Brasil, isso ajudará a reduzir muitas das desconfianças que existem dos dois lados.

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