Revista Exame

Esquadrão anti-Miami ataca no mercado de produtos para bebês

O comércio eletrônico brasileiro vive uma farra de investimentos de fundos internacionais. O último segmento da lista é de produtos para bebês


	Juliana e Simão, do Bebê Store: 30 milhões de reais de investimento
 (Germano Lüders/EXAME)

Juliana e Simão, do Bebê Store: 30 milhões de reais de investimento (Germano Lüders/EXAME)

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Da Redação

Publicado em 3 de dezembro de 2013 às 15h37.

São Paulo - O melhor lugar para entender o mercado brasileiro de produtos para bebês é um aeroporto internacional. Todos os dias, dezenas de casais desembarcam no país vindos de Miami com as malas abarrotadas de roupinhas, brinquedos, carrinhos, mamadeiras, assentos para carro, babás eletrônicas e bugigangas de todo tipo.

É assim, como se sabe, que os mais endinheirados fazem seu “enxoval”. Para o povão — os sem-Miami —, o jeito tem sido comprar aqui mesmo. A surpresa é que, mesmo dividido desse jeito, o mercado brasileiro de produtos para bebês quase dobrou de tamanho nos últimos cinco anos. São 13 bilhões de reais de faturamento anual. 

Mas o varejo não evoluiu junto com a gastança dos pais: a variedade de itens disponíveis ainda é pequena, os preços são altos e não há uma rede nacional de lojas especializadas. A líder do setor é a Alô Bebê, com receita estimada em 100 milhões de reais e 19 lojas.

Nos Estados Unidos, redes como Babies “R” Us têm mais de 200 lojas vendendo milhares de itens. Aqui, ainda vivemos em outro mundo — o que explica, afinal, tantas viagens a Miami.

De um ano para cá, começou uma corrida para transformar esse mercado e ganhar dinheiro de verdade com ele. A maior aposta foi feita pelo fundo americano de private equity Carlyle, que comprou as duas maiores redes de lojas de brinquedos do país, Ri Happy e PBKids, por 600 milhões de reais.

Recentemente, anunciou que investirá 200 milhões de reais para abrir 100 lojas com a marca Ri Happy Baby. “Temos de crescer antes da concorrência”, diz Ricardo Floh, diretor de novos negócios da empresa. Ele tem mesmo motivos para se preocupar. Nos últimos anos, grandes fundos têm investido alucinadamente em varejistas online brasileiras.

A alemã Rocket comprou participações em varejistas de roupas, móveis e joias. A americana Tiger investiu na Netshoes, especializada em esporte. Empresas que vendem vinho, artesanato e até pet shops receberam aportes. O mercado de produtos para bebês é o último da lista.

Três lojas online desse nicho receberam investimentos de grandes fundos estrangeiros. Elas têm estratégias parecidas: oferecer, em um só lugar, uma variedade de produtos inédita no mercado brasileiro. Só em carrinhos para bebê, por exemplo, são 300 variedades (uma loja “física” costuma ter dez deles em exibição). A ambição é criar a nova Diapers.com, loja americana de fraldas e produtos para bebês comprada por 1 bilhão de reais pela Amazon em 2010.


Quem está à frente dessa corrida é a Bebê Store, lançada em dezembro de 2009 por um casal com experiência em e-commerce — Leonardo Simão trabalhou no site de comparação de preços Buscapé e Juliana Della Nina no Submarino. A empresa recebeu mais de 30 milhões de reais de investimento — boa parte do fundo Atomico, do cofundador do Skype Niklas Zennström.

Logo atrás vem a Tricae, criada em 2011 pelo fundo alemão Rocket. A terceira é a Baby.com.br, também fundada em 2011 pelo empreendedor americano Kimball Spencer-Thomas, que cursava um MBA em Harvard quando resolveu abrir um loja de produtos para bebês no Brasil.

O Baby.com.br recebeu cerca de 40 milhões de reais e tem como sócio o fundo Accel Partners, famoso por ter colocado dinheiro no Facebook antes de qualquer um. “É desgastante para os pais fazer peregrinação por diferentes lojas com criança pequena”, diz Leonardo Simão, da Bebê Store. Mais simples, diz, é comprar tudo pela internet e esperar em casa.

O desafio dessas empresas é o mesmo de dez entre dez varejistas online  brasileiras — ganhar dinheiro. Por enquanto, nenhuma das três empresas dá lucro. Vender produtos de alto volume, como fraldas, atrai a atenção para o site, mas dá prejuízo. A esperança, portanto, é aumentar a participação de produtos mais sofisticados e rentáveis. Mas, até lá, as coisas podem ficar mais difíceis.

B2W e Walmart estão ampliando a oferta de produtos nesse segmento. A Alô Bebê lançou uma nova versão de seu site no fim de 2012, e a Ri Happy Baby deverá inaugurar seu varejo online no início de 2014. Outro desafio, este comum a todas, é convencer os pais a pagar até 3 000 reais por um carrinho — mais do  que o dobro do que gastariam em Miami. E sem direito a banho de mar.

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