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Guerra comercial de Trump com a China não recuperou empregos, mas rendeu votos, mostra estudo

O confronto de tarifas com a China não aumentou o emprego em áreas afetadas dos EUA, mas ampliou o apoio a republicanos 

Plantação de tomate em Winters, Califórnia: estado é grande exportador agrícola para a China (David Paul Morris/Bloomberg/Getty Images)

Plantação de tomate em Winters, Califórnia: estado é grande exportador agrícola para a China (David Paul Morris/Bloomberg/Getty Images)

Rafael Balago
Rafael Balago

Repórter de macroeconomia

Publicado em 23 de fevereiro de 2024 às 06h00.

Última atualização em 23 de fevereiro de 2024 às 14h23.

Uma das principais ações de Donald Trump como presidente dos Estados Unidos foi criar uma guerra comercial contra a China. O republicano queria trazer empregos de volta ao país. A partir dos anos 1980, fábricas foram embora para outros países e deixaram moradores de estados como Michigan e Pensilvânia sem emprego. A frustração deles foi um dos motores da vitória de Trump em 2016.

O embate com a China ajudou a atrair apoio aos republicanos, embora não tenha aumentado os empregos, aponta um estudo feito pelo Departamento de Economia do MIT, publicado em janeiro. 

“O efeito líquido das tarifas de importação, de retaliação e os subsídios agrícolas ao nível de emprego foi fraco e pode ter sido levemente negativo”, diz a análise, assinada por David Autor, economista do MIT, Anne Beck, do Banco Mundial, David Dorn, da Universidade de Zurich, e Gordon Hanson, de Harvard. “

Por outro lado, a guerra comercial aparentemente teve sucesso em fortalecer o suporte ao Partido Republicano. Moradores de áreas com proteção das tarifas se tornaram menos propensos a se identificarem como democratas e mais favoráveis a votar pelo presidente Trump.”

A partir de 2018, o ex-presidente impôs tarifas extras a produtos chineses comprados pelos EUA, como forma de tirar a vantagem competitiva deles e estimular que empresas voltassem a produzir na América. Os primeiros itens a receber taxas extras foram máquinas de lavar e painéis solares. Depois, vieram cobranças sobre aço e alumínio vindos de outros países além da China, inclusive do Brasil.

Em resposta, a China e a União Europeia adotaram medidas de retaliação, com taxas extras sobre a compra de produtos agrícolas americanos. Em dois anos, a tarifa média dos EUA sobre produtos chineses subiu de 3,1% para 21%. No sentido contrário, a taxação da China sobre compras americanas pulou de 8% para 21,8%. A escalada parou no começo de 2020, quando os dois países fizeram um acordo, semanas antes do começo da pandemia.

Os pesquisadores realizaram um levantamento a partir de vários indicadores, como o nível de emprego nas áreas que haviam sido mais afetadas pela perda de indústrias, e depois pelas retaliações comerciais, que atingiram especialmente fazendeiros. Para ajudá-los, o governo Trump criou um programa de apoio, que pagou quase 20 bilhões de dólares em 2018 e 2019.

No entanto, o programa foi mal planejado, avalia a pesquisa. Estados como Dakota do Norte e Montana, que exportavam pouco para a China, receberam mais subsídios per capita do que outras áreas, como a Califórnia, que vende muito para a Ásia.

A pesquisa ainda mostrou que dificultar a compra de produtos chineses, ao final, teve impacto próximo a zero no mercado de trabalho. Uma das razões é simples. “Compradores que encontraram alta nos preços ao importarem da China, por causa das tarifas, podem ter encontrado outras fontes estrangeiras para importar, em vez de comprar da indústria nacional”, mostra o estudo. 

Depois de 2020, apesar da pausa na guerra comercial, a China continuou perdendo espaço como fornecedora dos Estados Unidos. As falhas logísticas surgidas durante a pandemia, com falta de peças e produtos que durou meses, aceleraram um movimento de near-shoring: a busca por fornecedores mais próximos. O maior beneficiado foi o México que, em 2023, se tornou o maior exportador de produtos para os Estados Unidos. Na esteira das eleições no país, evidências como essa ajudam a tirar a discussão do plano das ideias para o plano dos fatos.

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