Revista Exame

Esnobando IPOs em Wall Street

A abertura de capital era o sonho dourado dos empreendedores digitais — mas agora eles tentam adiar o IPO ao máximo

A Nasdaq, em Nova York: a bolsa já não é mais a prioridade para os empreendedores (Daniel Barry/Getty Images)

A Nasdaq, em Nova York: a bolsa já não é mais a prioridade para os empreendedores (Daniel Barry/Getty Images)

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Da Redação

Publicado em 18 de fevereiro de 2011 às 11h40.

Em fevereiro de 2000, o site pets.com lançou suas ações na bolsa de valores. A empresa vendia suprimentos para animais domésticos, mas era, sob todos os aspectos, um péssimo negócio: tinha custos milionários, perdia dinheiro no frete e demorava para entregar. A aventura do Pets.com durou pouco. A empresa foi à falência nove meses depois de fazer seu IPO, a oferta pública inicial na bolsa. Hoje, o nome Pets.com é lembrado como o símbolo da alucinação coletiva que parece ter acometido empreendedores e investidores na época da bolha da internet.

A insanidade pode ter ficado no passado, mas o passo a passo básico de uma empresa de sucesso, especialmente no setor de tecnologia, se manteve inalterado. Tudo começa com uma ideia, que se transforma numa pequena empresa de crescimento rápido. Depois vêm os obrigatórios aportes de capitalistas de risco e, finalmente, a abertura do capital. Mas a nova geração de empresas de sucesso, capitaneadas pelo todo-poderoso Facebook, está reescrevendo esse roteiro. Lançar ações na bolsa já foi um objetivo perseguido obsessivamente pelos empreendedores — mas agora parece que a ideia é tentar adiar esse passo o quanto for possível. O clima econômico tateante não ajuda, é claro, mas tornar-se uma empresa pública parece ter perdido muito do apelo do passado.

O principal sinal disso foi dado pelo Facebook no início deste ano. A rede social é a maior história de sucesso do mundo empresarial dos Estados Unidos — e provavelmente do mundo — desde a ascensão do Google. Com 500 milhões de usuários, de acordo com o último número oficial, e uma receita estimada em quase 2 bilhões de dólares, a companhia, criada há sete anos por Mark Zuckerberg, vendeu uma parte de seu capital para o banco Goldman Sachs, por 450 milhões de dólares.

Além de atribuir um valor de 50 bilhões de dólares ao Facebook, o negócio pode levantar outro 1,5 bilhão de dólares junto aos clientes do Goldman Sachs. Mas há outra vantagem importante: o Facebook vai driblar a exigência da regulamentação do mercado americano de capitais que obriga empresas com mais de 499 sócios a divulgar informações financeiras auditadas, como qualquer companhia pública. Zuckerberg precisa do dinheiro para seguir crescendo, mas não está disposto — pelo menos por enquanto — a se submeter ao inevitável escrutínio de uma companhia de capital aberto. “Cada vez mais os empreendedores querem manter os negócios privados, pois eles veem nisso uma vantagem competitiva”, diz Jeremy Smith, da Second-Market, empresa que negocia ações de empresas privadas.


Cautela

Zuckerberg não vai poder adiar o IPO indefinidamente. Especula-se que sua estreia na bolsa venha a acontecer no próximo ano. Mas sua determinação em manter o controle sobre o Facebook — e especialmente sobre as informações do negócio — parece semelhante à de outras empresas de sucesso. A Zynga, companhia responsável pelo Farmville e por dezenas de outros jogos sociais, já recebeu mais de 500 milhões de dólares em aportes de fundos de investimento. Graças a um modelo de negócios sólido, que garante receita com a venda de itens virtuais para os jogadores, a Zynga faturou 500 milhões de dólares no ano passado, segundo estimativas. Com capital de investidores e receitas próprias, não há sinais de que a companhia tenha planos de um IPO no curto prazo. “A abertura de capital já foi considerada um dos principais objetivos para empreendedores, mas hoje é vista com cautela”, diz Scott Dorsey, fundador da empresa Exact-Target. A empresa, que produz software para marketing digital, abandonou planos de um IPO em 2009 em troca de um investimento privado.

A decisão das novas estrelas digitais de manter as contas fechadas também é um reflexo de um novo ambiente para empresas de tecnologia, especialmente aquelas que atuam na internet. Os custos de manutenção da infraestrutura tecnológica são infinitamente mais baixos hoje, o que significa que nem sempre é necessário buscar dinheiro nos mercados públicos para manter o crescimento. O serviço de microblogs Twitter passou de 75 milhões para cerca de 200 milhões de usuários no ano passado e, embora tenha poucas receitas, consegue se manter funcionando com os recursos levantados junto aos fundos de capital de risco. Outra diferença importante é que o número de pessoas conectadas à rede se multiplicou desde os tempos da bolha, o que permite gerar receitas significativas mesmo que uma pequena parcela dos usuários de um site ou serviço esteja disposta a pagar.

Mas é claro que o apelo da bolsa persiste. O Groupon, empresa que deu origem à febre dos descontos em compras coletivas, recusou uma proposta de 6 bilhões de dólares do Google no fim do ano passado e semanas depois anunciou um aporte de 950 milhões de dólares de grandes investidores. Mesmo assim, de acordo com relatos publicados pela imprensa americana, o Groupon pode abrir o capital ainda no primeiro semestre deste ano, com uma valorização de mercado que pode chegar a 15 bilhões de dólares. Na falta de outros IPOs, e com investidores sedentos por fazer parte dessa nova onda que vem do Vale do Silício, o lançamento promete ser um dos mais esperados dos últimos tempos.

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