Revista Exame

Em vez de cortar custos, corte desperdícios

O especialista em gestão Vicente Falconi responde a dúvidas sobre redução de custos, metodologias de análise estratégica e MBA

Voo: nem sempre é fácil enxergar os desperdícios (Ilustração: Maurício Pierro/Exame)

Voo: nem sempre é fácil enxergar os desperdícios (Ilustração: Maurício Pierro/Exame)

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Vicente Falconi

Publicado em 3 de novembro de 2016 às 18h00.

Última atualização em 3 de novembro de 2016 às 18h00.

São Paulo — Vicente Falconi, um dos mais renomados especialistas em gestão do Brasil, responde a dúvidas dos leitores de EXAME sobre redução de custos, metodologias de análise estratégica e MBA.

1. Hoje, boa parte das empresas tem empreendido esforços para reduzir custos. A tônica é desafiar constantemente seus times a manter a operação mais enxuta e a evitar desperdícios. Quais são suas orientações para estabelecer prioridades e dar continuidade a esse esforço?
Anônimo

Prefiro falar em redução de desperdícios. É difícil mexer nos custos pelo simples fato de que existem custos bons e custos ruins. No primeiro grupo estão gastos que ajudam a construir valor para o cliente e se revertem mais tarde em aumento das receitas e do lucro.

É importante lembrar que, para melhorar a situação da empresa num momento mais difícil, como o que estamos vivendo, pode até ser necessário aumentar certos investimentos, principalmente em marketing e em vendas. O segundo grupo — o dos custos ruins — compreende os desperdícios. Estes, sim, devem ser eliminados.

Outro ponto importante a ser considerado é que nem sempre é simples detectar desperdícios. As pessoas se acostumam com tudo e, no caso dos custos, passam a não mais enxergar onde estão os itens que não são necessários. Certos desperdícios são culturais, eles estão entranhados no comportamento das pessoas e muitas vezes ninguém consegue enxergar por achar que se trata de algo “natural”.

Em geral costuma ser mais fácil que alguém que venha de fora, sem nenhum vínculo cultural, consiga detectar e mostrar os excessos. Quanto à lista de prioridades, recomendo priorizar por ordem de impacto financeiro final para a empresa e, uma vez feita a lista, fazer os planos de ação item por item. Cuidado: as pessoas tendem a ser procrastinadoras. Vá lá e verifique a execução de cada item do plano.

Falando em custos, só por curiosidade, vou contar aqui um pequeno caso de um gerente de uma empresa. Essa empresa entrou num processo violento de redução de custos para garantir sua sobrevivência. Um gerente ficou encarregado de analisar os processos de sua área e propor melhorias. No final do projeto, chegou à conclusão de que sua área não era mais necessária na empresa. Sua recompensa: foi promovido a diretor.

2. O que o senhor acha da metodolodia do mapa e do placar estratégico do pesquisador americano Robert Kaplan? Em sua opinião, quais são os pontos positivos e os negativos dessa metodologia?
Anônimo

Acredito que todo método pode ser bom. O princípio da melhoria constante de nossa vida demanda um método inicial, ainda que não seja dos melhores. Outro ponto é o seguinte: todo método tem seu lado muito positivo e que pode sempre ser aproveitado.

Não aprecio o maniqueísmo. Acho que tudo neste mundo tem aspectos que devem ser aproveitados e temos de ser humildes na hora de aceitar e aprender. Só aprende quem é humilde.

O mapa estratégico, acho, tem muito a ser aproveitado. No entanto, o balanced scorecard — que determina como as metas podem ser desdobradas em todos os níveis hierárquicos de uma companhia — tem pouco. Existem alternativas bem melhores, na minha opinião.

É possível encontrar mais informações a esse respeito no meu livro Gerenciamento pelas Diretrizes (Hoshin Kanri), em que detalho a metodologia de desdobramento de metas de origem japonesa. É muito melhor.

O mapa estratégico e o balanced scorecard nasceram em Harvard. Ótimo, todo o meu respeito. Mas o Hoshin Kanri nasceu na batalha do dia a dia aperfeiçoando tudo o que existia antes. Os resultados atingidos com essa metodologia podem ser fenomenais quando existe uma boa liderança.

3. Já estou próximo dos 40 anos e avancei na carreira. Não fiz um MBA ainda e tenho dúvida se um curso me ajudaria a esta altura. MBA é para quem tem menos de 30? Ou sempre é tempo de estudar?
Anônimo

Talvez um MBA agora seja mais proveitoso do que teria sido antes. Fazer pós-graduação depois que você já trabalhou e viveu as durezas do dia a dia é, em minha opinião, muito melhor. Acho até que deveria ser pré-requisito.

Fiz pós-graduação depois que trabalhei durante três anos na produção e já havia sentido de perto como as coisas acontecem numa empresa. Isso foi muito importante para mim e me proporcionou uma atitude bem diferente para o aprendizado.

Muitos pensam, de forma errada, que o aprendizado só ocorre em cursos. O aprendizado é diário. Aprendemos certa quantidade de coisas por dia e nunca mais do que isso. Um curso de pós-graduação vai ajudar muito a forçar que você utilize, durante algum tempo, toda a sua cota diária de aprendizado.

Mas não se iluda: se quiser ser realmente excepcional, você terá de observar e discutir, além de estudar. Um dia sem aprendizado é irrecuperável, pois no dia seguinte só cabe a cota daquele dia. Vá adiante.

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