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Sete Perguntas | Energia mais limpa. E barata

Para um dos principais consultores americanos em energia renovável, essa indústria vive uma fase de ouro e recebe cada vez mais investimentos

Zinaman, da Clean Energy Transition Partners: energia limpa gera emprego (Clean Energy Transition Partners/Divulgação)

Zinaman, da Clean Energy Transition Partners: energia limpa gera emprego (Clean Energy Transition Partners/Divulgação)

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Filipe Serrano

Publicado em 24 de outubro de 2019 às 05h00.

Última atualização em 24 de outubro de 2019 às 14h46.

O mercado de energia limpa vive uma fase de ouro. Com a queda no custo das usinas solares e eólicas, há cada vez mais investimentos nesse tipo de projeto. A avaliação é do americano Owen Zinaman, sócio-fundador da consultoria Clean Energy Transition Partners, uma das mais reconhecidas do mundo. Com passagens por Estados Unidos, México, Colômbia, África do Sul e Tailândia, ele tem se especializado em assessorar governos a promover políticas para fontes de energia renovável. Em uma visita recente ao Brasil, Zinaman falou a EXAME sobre o que é preciso fazer para avançar nesse campo.

Qual é a situação atual do mercado de energia limpa?

O que estamos vendo é que existe uma demanda crescente do público por energia limpa. E isso está ocorrendo justamente num momento em que a geração de eletricidade por meio de fontes renováveis está se tornando muito mais barata e competitiva em relação às demais. Ao mesmo tempo, governos de todo o mundo estão criando políticas para acelerar a produção desse tipo de energia. É realmente uma fase muito instigante.

O que mostra esse crescimento?

Os números dos investimentos na área são surpreendentes. De 50% a 70% dos investimentos globais em novas usinas de energia já vão para as fontes limpas. É claro que não é como o petróleo. O retorno não é obtido em um ou dois anos. Mas o setor de energia limpa atrai investidores institucionais que se satisfazem em receber pagamentos menores, mas constantes.

Quais políticas estão funcionando mais para desenvolver o setor de energia limpa?

Um programa de muito sucesso nos Estados Unidos é o sistema de net energy metering, em que o próprio consumidor pode fornecer a energia excedente de um painel solar instalado em sua casa para o sistema elétrico. Em troca, recebe um desconto na conta de eletricidade. Isso já é usado em 43 estados americanos.

Qual é a vantagem desse sistema?

Uma grande vantagem é a geração de empregos por meio de serviços de instalação e manutenção de painéis solares. Enquanto uma usina solar tradicional gera 3,3 postos de trabalho para cada megawatt, no caso dos painéis para o consumidor final são 38 empregos. Estamos falando de dez vezes mais empregos.

Há outros tipos de ganho?

Esses sistemas podem fazer a rede elétrica mais estável. Se a voltagem na rede mudar de uma hora para a outra, a energia dos painéis pode ajudar a equilibrar o sistema e fazer a tensão elétrica voltar ao nível normal.

Como avalia o desempenho do Brasil nas energias limpas?

Vejo que o Brasil tem maior potencial do que qualquer outro país para fazer a transição para um sistema elétrico limpo o mais rapidamente possível. Digo, completamente limpo, sem nenhuma emissão de carbono. Nunca vi um país que tenha mais recursos naturais disponíveis para fazer isso. Além disso, o Brasil tem um sistema pioneiro para realizar leilões de energia renovável, que funciona muito bem e tem sido cada vez mais estudado e copiado por outros países.

E o que ainda temos de aprender?

Além da área de geração de energia por parte dos consumidores que mencionei, definitivamente há muito espaço para avançar no planejamento de infraestrutura das cidades para atender os veículos elétricos. Isso é algo que está faltando. 

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