Revista Exame

Empresas brasileiras crescem, mas lucro segue em queda

Os 200 maiores grupos brasileiros não pararam de crescer: elevaram as receitas em 7% em 2015, para 720 bilhões de dólares. Já O lucro encolheu 71%

Linha de produção da Marcopolo: os grupos que dependem de maior liberação de crédito sofreram mais (Germano Luders/Exame)

Linha de produção da Marcopolo: os grupos que dependem de maior liberação de crédito sofreram mais (Germano Luders/Exame)

DR

Da Redação

Publicado em 17 de agosto de 2016 às 12h47.

São Paulo — Os maiores grupos empresariais do Brasil faturaram mais no ano passado do que em 2014. Fo­ram 720 bilhões de dólares, valor 7% superior ao alcançado no ano anterior, de acordo com o levantamento de MELHORES E MAIORES. Entre os dez grupos com as maiores receitas, nove haviam aparecido no ranking de 2014, como Itaú Unibanco, Bradesco e J&F Investimentos.

O crescimento, no entanto, mascara as duras condições enfrentadas pelos negócios no Brasil em um ano marcado por restrição ao crédito, inflação alta e desemprego crescente — elementos que compuseram o quadro de uma das recessões mais brutais já vivenciadas pelo país.

O lucro dos grupos, de 9  bilhões de dólares, caiu 71%, confirmando que, mesmo para os grandalhões, 2015 foi um ano em que equilibrar as contas e manter o balanço no azul exigiu muito da gestão.

Quando esses números do conjunto dos 200 maiores grupos brasileiros são confrontados com os resultados obtidos pelo bloco das 500 maiores empresas, fica patente que a escala e a diversificação dos negócios podem fazer a diferença para a rentabilidade. Afinal, as 500 maiores empresas, ao contrário dos grupos, não só tiveram queda de receita como também apresentaram um prejuízo consolidado.

Ou seja, é como se os grandes conglomerados brasileiros fossem uma espécie de “elite da elite” empresarial do país — lucraram menos, é verdade, mas escaparam do vermelho. No entanto, há diferenças marcantes entre os grandes grupos. Novamente, o destaque positivo ficou para os conglomerados do setor financeiro, os mais lucrativos do país.

Das cinco primeiras posições no ranking dos grandes grupos de MELHORES E MAIORES, três são ocupadas por bancos. A liderança é do Itaú Unibanco Holding, com receita de quase 54 bilhões de dólares, seguido do Bradesco, com 49 bilhões. Das dez empresas que mais aumentaram a receita no ano, cinco também são bancos. A lista é encabeçada pelo alemão Deutsche Bank.

E, na tabela dos grupos que apresentaram o maior crescimento do lucro, é o americano Citi que está na frente, com um avanço de 548% nos ganhos sobre o período anterior. (O bom resultado do Citi, porém, não tem levado o banco americano a dobrar a aposta no Brasil. Ao contrário: está vendendo sua operação local de varejo.)

A combinação do cenário doméstico desfavorável com a instabilidade nos mercados internacionais, provocada pelos primeiros sinais de mudança na política monetária dos Estados Unidos, tornou o ano ainda mais desafiador também para os conglomerados.

Quando a elevação do juro básico no mercado americano foi confirmada, no final de 2015, aumentou o custo do dinheiro para grupos brasileiros que captam no exterior. “Muitas empresas passaram a cortar custos e a cancelar projetos de expansão”, diz o economista Pedro Vartanian, professor na Universidade Presbiteriana Mackenzie.

“Foi necessário, pois nem o mais pessimista imaginava uma retração como a de 2015.” Entre os dez grupos que mais perderam receita, pelo menos cinco dependem fortemente das condições de crédito e da confiança dos investidores no cenário econô­mico. Deles, três têm negócios de cons­trução.

É o caso da Cyrela Brazil ­Re­­al­ty, que teve de enfrentar a queda nas vendas de novas moradias e escritórios e a elevação do número de contratos rompidos. “Nosso foco agora é a diminuição do capital alocado e a redução do estoque pronto”, diz Eric Alencar, diretor financeiro da Cyrela, empresa que restringiu lançamentos e perdeu um terço das receitas.

Os motivos são semelhantes aos que levaram fabricantes de bens de capital, como os grupos gaúchos Randon e Marcopolo, a encolher. Os juros mais altos, o capital escasso e as incertezas quanto ao futuro dificultaram a venda de ônibus, caminhões e carrocerias. O resultado é que a Marcoplo teve redução de 26% no faturamento, e a Randon, de 25%.

Mas a crise não poupou nem as empresas que sofrem menos com a oferta de crédito. A Ambev, décimo maior grupo do país por receita, teve de recorrer a um aumento da oferta de embalagens retornáveis, com custo menor por litro de bebida, para manter as vendas de cerveja.

Em outro movimento recente, o grupo diversificou o portfólio de marcas de bebidas não alcoólicas com a compra da Do Bem, fabricante de sucos do Rio de Janeiro. A Ambev teve o terceiro maior lucro do país em 2015, mas ainda assim foi em torno de 6% menor do que no ano anterior. Não está fácil para ninguém: em tempos bicudos, mesmo os grandes têm de se virar de todas as formas.

Acompanhe tudo sobre:AmbevBebidasEdição 111602EmpresasEmpresas abertasEmpresas belgasListasLucroMelhores e MaioresRankings

Mais de Revista Exame

Borgonha 2024: a safra mais desafiadora e inesquecível da década

Maior mercado do Brasil, São Paulo mostra resiliência com alta renda e vislumbra retomada do centro

Entre luxo e baixa renda, classe média perde espaço no mercado imobiliário

A super onda do imóvel popular: como o MCMV vem impulsionando as construtoras de baixa renda