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Luz no fim do túnel? Empresários melhoram humor com Temer

Pesquisa exclusiva aponta que o ânimo dos empresários com o Brasil começou a melhorar após a posse de Michel Temer como presidente interino.

Michel Temer com empresários: a capacidade de diálogo e a habilidade de articulação política são os traços mais elogiados do presidente interino (Beto Barata/PR)

Michel Temer com empresários: a capacidade de diálogo e a habilidade de articulação política são os traços mais elogiados do presidente interino (Beto Barata/PR)

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Da Redação

Publicado em 30 de junho de 2016 às 09h49.

São Paulo — Os empresários e executivos brasileiros estão um pouco mais esperançosos com o país hoje do que há três meses. Não é uma mudança da água para o vinho, mas já dá para notar alguma melhora de humor. O ânimo aumenta à medida que o olhar se volta mais para o futuro.

Otimismo mesmo, só com o que pode vir lá por 2020 — o que significa que o país continua a merecer confiança, mas os dirigentes empresariais esperam uma boa caminhada até o Brasil deixar para trás esta etapa encrencada de sua história. Essa é, em resumo, a leitura que se pode fazer dos resultados de uma sondagem feita pela consultoria Betania Tanure Associados para MELHORES E MAIORES.

Foram ouvidos cerca de 600 executivos em março e, novamente, em junho. Entre uma pesquisa e outra, houve um fato que explica o começo de mudança de visão no meio corporativo: o afastamento temporário da presidente Dilma Rousseff, aprovado pelo Senado em 12 de maio.

Vamos a alguns números. Em março, 74% dos dirigentes de empresas se diziam pessimistas ou muito pessimistas com os rumos do Brasil em 2016. Em junho, esse índice caiu para 69% — ou seja, a maioria continua a dar o ano como perdido. A proporção dos otimistas com 2016 subiu de 9% para 11%, enquanto a dos que se mantêm neutros passou de 17% para 20%.

Porém, quando indagados sobre os próximos dois anos, a fatia dos otimistas ou muito otimistas com o Brasil cresceu de 32% para 38% entre as duas pesquisas. Quando a referência é o cenário daqui a quatro anos, a parcela dos que veem o país com bons olhos subiu de 67% para 76%. O presidente interino Michel Temer recebeu avaliação positiva na pesquisa.

Seus traços mais ressaltados pelos entrevistados são a capacidade de diálogo (algo que, como se sabe, nunca foi o ponto forte de sua antecessora no cargo), a habilidade de articulação política (idem) e a formação de uma equipe de qualidade na área econômica.

Aqui os entrevistados estão se referindo especialmente ao novo ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, e a nomes como Ilan Goldfajn (Banco Central) e Maria Silvia Bastos Marques (BNDES).

“Desde Fernando Henrique Cardoso não temos uma equipe econômica tão alinhada como a de Meirelles, e isso cria um clima favorável”, diz Pedro Wongtschowski, conselheiro do Grupo Ultra e presidente do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial.

O voto de confiança pode fazer toda a diferença para Meirelles em comparação com o antecessor, Joaquim Levy, que também era um nome respeitado pelo empresariado, mas parecia um estranho no ninho no governo Dilma.

Em poucas semanas desde que assumiu o cargo, Meirelles não só conquistou o apoio para avançar no inadiável ajuste fiscal como também já desponta como um nome forte para as próximas eleições presidenciais.

Na pesquisa, Meirelles foi citado como o candidato a presidente preferido por 26% dos entrevistados, à frente do ministro das Relações Exteriores, José Serra (20%), e do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (17%). Temer, que declarou não ter intenção de disputar a eleição presidencial em 2018, recebeu menos de 1% dos votos dos executivos, o mesmo que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

A estratégia de Temer e de Meirelles de expor o tamanho do déficit público é elogiada.

“Responsabilidade fiscal, contas públicas organizadas e previsíveis, ações consistentes para controlar a inflação e a lei de teto para o gasto do governo sinalizam que haverá, no médio e no longo prazo, um padrão mais adequado na condução da economia”, diz Dan Ioschpe, presidente do conselho de administração do grupo Maxion e presidente do Sindipeças, sindicato nacional dos fabricantes de autopeças.

A trégua que o setor produtivo está dando ao presidente interino é condicionada ao enfrentamento de algumas questões centrais, como o combate à corrupção, a reforma política, a redução da carga tributária e o equacionamento da dívida pública. O diagnóstico dos executivos é que os próximos anos deverão ser aproveitados para estabilizar a economia sem fugir dos remédios amargos.

Diante do déficit de 170 bilhões de reais nas contas públicas deste ano, a saída para estancar a crise econômica passa por reduzir o tamanho do governo ou pelo aumento de tributos, opção que causa arrepios à maioria.

No plano ideal, o meio empresarial torce para que o governo reabra as concessões e reveja os sistemas regulatórios, criando novos estímulos para os setores de petróleo, gás, energia elétrica e infraestrutura. Com um cenário de negócios mais previsível, outros segmentos, menos regulados, diminuiriam a capacidade ociosa voltando a linha de produção para as exportações.

Em 2015, embora o país tenha registrado superávit na balança comercial, a exportação caiu 15% em relação ao ano anterior. O levantamento de MELHORES E MAIORES evidencia que os dirigentes de empresas atribuem as perdas de receita e de lucratividade principalmente a questões que estão fora de sua alçada.

A conjuntura econômica, a crise política, o mercado retraído e a baixa demanda têm peso maior do que fatores internos das companhias, como gestão de equipes e de eficiência. De acordo com Betania Tanure, a maioria dos gestores avalia que suas empresas estão tendo em 2016 um desempenho abaixo do esperado, porém satisfatório diante da crise econômica.

O problema é que a maioria prefere culpar a turbulência externa a tentar melhorar os processos internos. “O presidente de uma empresa não pode reclamar só das causas externas e não fazer o dever de casa”, afirma Betania. Nos últimos seis meses, as empresas ouvidas no levantamento adotaram medidas convencionais para reduzir os efeitos da recessão.

Um quarto das companhias fez demissões e um quinto adiou investimentos. Outros 16% fecharam unidades produtivas. “As empresas sabem que, para crescer no médio e no longo prazo, precisam inovar, mas há uma questão de sobrevivência imediata”, diz Wongtschowski, do Ultra.

Para ele, inovação é algo que só vai ocorrer de fato quando o país retomar a perspectiva de crescimento, o que ainda está longe do radar dos empresários — infelizmente.

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