Gianfranco Casati: “A tecnologia está ajudando quem precisa reduzir custos” (Divulgação/Exame)
Da Redação
Publicado em 31 de maio de 2016 às 12h39.
São Paulo — Responsável pela área de mercados emergentes da consultoria Accenture, o italiano Gianfranco Casati é um entusiasta da digitalização das empresas.
Baseado em Singapura, Casati acompanha de perto o processo de modernização que acontece em algumas das economias mais dinâmicas do mundo, como Coreia do Sul e China. Numa visita recente a São Paulo, o executivo deu a seguinte entrevista a EXAME.
Exame - Qual é até agora a maior transformação da revolução digital na gestão das empresas?
Casati - A maior é a possibilidade de uma empresa trocar uma parte dos gastos operacionais por um modelo de custo variável. Em vez de pagar, alugar.
Exame - O que é comprado hoje, mas poderia ser alugado?
Casati - As companhias costumam pagar licenças de software caríssimas para que os funcionários tenham as ferramentas de trabalho à disposição, mesmo que elas não sejam usadas. Estamos caminhando para um modelo em que a empresa paga apenas pelo tempo de uso do produto. É como trocar o carro próprio pelo táxi.
Exame - Se esse modelo é tão vantajoso, por que não foi adotado antes?
Casati - Se voltarmos muito no tempo, o problema era falta de tecnologia. Mais recentemente, essa questão foi resolvida, e hoje a maior parte das aplicações pode rodar online. Usando a nuvem, é possível adotar o sistema “pague quanto usa”.
Embora não exista mais um impedimento técnico, ainda há resistência à mudança. Um dos motivos é que a transformação não é algo simples. Estamos falando de um processo longo, de no mínimo dois anos.
Exame - Muitas empresas preferem ter os softwares instalados nas máquinas por achar essa alternativa mais segura. A nuvem não aumenta o risco de vazamento de informações?
Casati - Não. Mas é verdade que muitas empresas ainda ficam receosas com a segurança de suas informações online.
Exame - Em que áreas as empresas podem adotar o sistema de aluguel de softwares?
Casati - Não há restrições. É possível adotá-lo em qualquer departamento: contabilidade, financeiro, distribuição ou manufatura. A maior vantagem é que esse modelo reduz os gastos. Faz sentido para empresas que estejam enfrentando ciclos de baixa, como o setor de commodities atualmente.
Exame - Sem contar o aluguel de softwares, quais são as outras tendências provocadas pela revolução digital dentro das empresas?
Casati - Outra muito interessante é a internet das coisas, a conexão em rede de máquinas e objetos. Uma empresa do setor de gás natural na Ásia perdeu o equivalente a 200 milhões de dólares por causa de uma falha técnica que deixou sua fábrica fechada por vários dias.
Após o ocorrido, a empresa instalou sensores nas máquinas que detectam a possibilidade de falhas antes que elas ocorram. De agora em diante, a empresa não será mais pega desprevenida.
Exame - Fora de Estados Unidos, Europa e Japão, quais são os países mais à frente na adoção dessas tecnologias?
Casati - Em geral, são aqueles que têm grandes empresas exportadoras que competem no mercado global. Coreia do Sul e Austrália são bons exemplos. Num grupo mais atrás, a China tem sido um destaque.