Guilherme Leal (à Esq.) com participantes de sua rede: tentativa de oxigenar a política brasileira (Germano Lüders/EXAME.com)
Da Redação
Publicado em 5 de outubro de 2013 às 20h21.
São Paulo - Ao final da campanha presidencial de Marina Silva, em 2010, seu candidato a vice, Guilherme Leal, tomou uma decisão radical: nunca mais se candidatar a cargo eletivo. “Eu não exerço bem o papel de político. Sou de fazer, não de falar”, diz Leal, que é um dos sócios da fabricante de cosméticos Natura e tem uma fortuna estimada em 1,8 bilhão de dólares.
Além da falta de aptidão para o palanque, Leal ficou desapontado com a forma como funcionam os partidos políticos — o seu único foi o Partido Verde, e apenas por dois anos. “Os partidos não são democráticos e não primam pela discussão do futuro do país”, diz. Desapontado, Leal juntou-se a outros apoiadores de Marina para criar, em 2012, uma organização transversal aos partidos.
O objetivo é formar potenciais lideranças políticas comprometidas com a honestidade e o desenvolvimento sustentável. Nasceu, assim, a Rede de Ação Política pela Sustentabilidade (Raps) — nada a ver com a Rede, partido que Marina batalha para formalizar e ser sua nova base na próxima campanha presidencial.
A primeira seleção de nomes feita pela Raps aconteceu neste ano. Foram escolhidas 41 pessoas entre 408 inscritos. No grupo há gente de um espectro de partidos amplo, que vai do PSDB ao PSOL, do PT ao PV. Cinco já são vereadores em cidades pelo Brasil afora, mas metade nem tem partido ainda.
Além de estar antenados com a sustentabilidade, eles têm em comum a intenção de entrar para a vida pública. “Em cinco anos, queremos ter cerca de 300 políticos bem preparados para defender os princípios da sustentabilidade na maioria dos estados e partidos do país”, afirma Leal.
Um dos escolhidos é o paraibano Pedro Henrique de Cristo, de 30 anos. Pedro fez mestrado em administração pública na Kennedy School, da Universidade Harvard, e depois foi morar na favela do Vidigal, no Rio de Janeiro, onde toca projetos sociais. Ele desenvolveu um plano de escola municipal modelo, que foi implantado pela Secretaria Municipal de Educação na favela da Rocinha.
“O que eu quero é transformar a educação no Brasil, mas não acho que vá conseguir sem entrar na política”, afirma ele. Se educação é o foco de Pedro, o empreendedorismo é o tema que move Marcella Coelho, outra aposta da Raps. Marcella tem 28 anos, vive em São Paulo e trabalha na Endeavor, instituição que promove a criação e o desenvolvimento de novas empresas.
Todos eles recebem treinamentos, como o que acontece nos três últimos dias de agosto com Steve Jarding, professor da Kennedy School que já trabalhou para eleger seis senadores democratas nos Estados Unidos. Ele ensinará técnicas de captação de recursos para campanha e de comunicação eficaz com eleitores.
“A ideia de criar uma organização para melhorar o nível dos políticos de um país foi tão original que já está sendo copiada em outros países, como a França”, diz Jarding. Em setembro, a turma deverá ter encontros com os presidenciáveis Eduardo Campos, Marina Silva e Aécio Neves.
A plataforma da Raps prevê maior participação da população nas decisões dos políticos. Nesse ponto, usa como modelo o mandato de Ricardo Young, vereador pelo PPS na Câmara Municipal de São Paulo. Young criou as Segundas Paulistanas, evento mensal em que discute com eleitores temas como o crack e as manifestações de rua. Alguns papos resultam em projetos de lei.
“O candidato não pode virar as costas para o eleitor”, diz Young, também participante do Raps. Sua campanha de 2012 foi um piloto. A ideia era ganhar mais votos com menos recursos. Deu certo. Ele se elegeu gastando 900 000 reais, quando a média de seus pares despendeu 2 milhões.
A Raps não financiará candidaturas, mas sua estrutura custará 700 000 reais em 2013. Boa parte dos gastos hoje é bancada por Leal. Mas ele e outros fundadores da organização, como o advogado Marcos Vinicius de Campos e o ex-presidente do Citibank no Brasil Álvaro de Souza, estão atrás de doadores.
“A Raps não pode ter dono. Se tem dono, não é rede”, diz Leal. Celso Mori, sócio do escritório de advocacia Pinheiro Neto, já foi convencido a doar. O apelo? A baixa qualidade da representação política no Brasil. Um mal que o ex-político Guilherme Leal está determinado a combater.