Ícone: retorno triunfal do trench coat da Burberry | Dave Benett/Getty Images /
Da Redação
Publicado em 11 de outubro de 2018 às 05h32.
Última atualização em 4 de junho de 2020 às 15h17.
Chega setembro e os sites das revistas femininas e as contas do Instagram das celebridades começam a publicar fotos e mais fotos de desfiles de passarela. É quando acontece a temporada das semanas de moda feminina (que aos poucos vêm incorporando as apresentações masculinas), circuito que começa em Nova York e neste ano terminou no início de outubro em Paris, passando sempre por Londres e Milão.
As roupas apresentadas no Hemisfério Norte são da coleção de verão e estarão nas lojas lá por março de 2019, numa lógica própria dessa indústria. Esses desfiles servem para as grifes desovarem suas peças com muitos dígitos, claro, e também como espinha do que o varejo brasileiro diluirá daqui a um ano nas vitrines da primavera do ano que vem. Enquanto isso, as redes de fast fashion, com poder de cortar panos rapidamente, já estão colando as referências para oferecê-las no pós-Réveillon.
Apontamos aqui três tendências que apareceram com força nas muitas dezenas de desfiles europeus e que em breve estarão nos guarda-roupas.
Clássico, não sem graça
Londres deu uma palhinha do que seria o retorno triunfal do clássico trench -coat, dos saltos e da alfaiataria. Se uma avalanche de moletons e tênis de borracha definiu a moda nos últimos três anos, agora são as saias plissadas, os costumes bem cortados e as peças tradicionais revistas por um viés esportivo que devem logo surgir nos shopping centers.
Numa festejada estreia à frente da Burberry, o estilista Riccardo Tisci recuperou o trench coat básico, bege e com forro xadrez, para combiná-lo a blusas esportivas e saias lápis de seda, além de calças e camisas de corte reto coloridas. Minissaias de couro com estampa de vaca, usadas com camiseta e salto alto, resumem o meio entre elegância, esporte e sensualidade que a marca trouxe ao portfólio feminino.
Para os homens, a marca reservou o melhor da alfaiataria britânica , em ternos escuros arrematados com guarda-chuvas enrolados nas costas como pochetes. Numa injeção de autoestima pré-Brexit, as grifes que desfilam na capital inglesa também olharam para signos da monarquia (capas, brilhos e babados), do punk (tachas, couro e xadrez) e, claro, da tesoura Savile Row, rua que é endereço de políticos e empresários em busca de cortes precisos.
Em Milão, a Prada olhou para as silhuetas em “A” dos anos 60, cortou bermudas de ciclista e expandiu seu olhar crítico às burguesias para criar uma coleção que tem a parte de trás tão interessante quanto a da frente, cheia de fendas que fazem o jogo de esconde e revela mais inteligente desta temporada.
Por lá, a Tod’s, grife amada entre os homens que usam mocassim de couro, pegou sua matéria-prima principal para cortar shorts curtíssimos para elas. A peça, combinada a blusas de seda com colo aberto, é a nova imagem do casual chique para os dias de sol.
Abaixo o vison
O Conselho de Moda Britânico tomou uma decisão radical para combater o uso de pele animal na indústria. A partir desta temporada, visons, raposas, coelhos e outros bichos não comestíveis passaram a ser proibidos de cruzar as passarelas de Londres.
Não que fosse uma regra difícil de pegar, porque, afinal, o Reino Unido já era conhecido como território do jérsei, do couro de boi e das fibras naturais. Essa conscientização tomou diversos países. Nos Estados Unidos, Los Angeles aprovou uma lei que impede a venda desse tipo de artigo nas lojas.
Foi em Milão, porém, que o bicho pegou. Ou melhor, não pegou. Foi uma surpresa a escolha da maior parte do calendário em abraçar a ideia. A não ser nos desfiles de grifes reconhecidas por suas peles, como a romana Fendi, quase nenhum animal exótico morreu para vestir as modelos do verão 2019.
Para não perder a aura selvagem, as grifes subiram as saias, caso da Versace, descobriram o colo, como as propostas da Roberto Cavalli, e abriram recortes nas costas e até na barriga, caso da Prada. E aqui vem a terceira tendência.
Pele à mostra
Ao eleger coxas, colo e barriga como tendência da estação, a moda quer que as mulheres expressem sua sensualidade em diferentes níveis de exposição.
Pode ser desde o despudorado da Saint Laurent, que deixou os mamilos à mostra, assim como a Courrèges, até um mais inteligente, como o da Dior, que olhou os movimentos da dança e do balé para lançar vestidos lânguidos, peças plissadas e toda sorte de tons de bege.
Bege, ou “nude”, é o novo preto na cartilha do próximo verão, porque, mesmo quando não mostraram demais o corpo, as marcas usaram os tons da pele para cobri-lo. Transparências apareceram por toda parte, nas saias justas, nas camisas de tela e nos vazados, como o da Hermès. Espécie de porta-voz da elegância francesa vinculada às corridas de cavalo, a maison recortou as formas da selaria para aplicar os tecidos a camisas envelopadas e casacos finalizados com cordas náuticas.
Um tanto ensolarada veio a Chanel, que montou uma praia em pleno Grand Palais de Paris para desfilar vestidos leves estampados com guarda-sóis, calça jeans combinada a maiô e rasteirinhas com o nome da marca estampado.
Enquanto a Miu Miu desconstruiu os vestidos de noite com frestas de costas nuas e parte da frente coberta, a Chanel brincou com o contraste do peso dos casacos de tweed e o balanço das microssaias. Tudo leve, livre e solto, como uma oferta de pausa no ruído da cidade.