Revista Exame

A dupla do Dropbox disse não a Steve Jobs

Ao criar um novo padrão de depósito de dados na rede, o Dropbox se tornou uma das startups mais quentes da web

Os fundadores do Dropbox: mais de 50 milhões de usuários em quatro anos (Eric Millett/EXAME.com)

Os fundadores do Dropbox: mais de 50 milhões de usuários em quatro anos (Eric Millett/EXAME.com)

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Da Redação

Publicado em 12 de novembro de 2011 às 07h00.

São Paulo - Ouando o americano Drew Houston terminou a faculdade de ciência da computação no Massachusetts Institute of Tech­­nology (MIT) em 2006, ele teve a sensação de ter voltado no tempo. Na universidade, todos os computadores eram interligados.

Um trabalho iniciado em um terminal, em qualquer laboratório ou biblioteca, poderia perfeitamente ser finalizado em outro sem que fosse preciso transportar arquivos em pen drives ou enviar documentos por e-mail. Na vida fora do campus, porém, isso não acontecia. Houston viu aí uma oportunidade de negócio.

No ano seguinte, em parceria com seu ex-colega Arash Ferdowsi, ele fundaria o Dropbox. Menos de três anos depois, os dois receberam um sinal de que o negócio estava no rumo certo: Steve Jobs, fundador da Apple, chamou os dois para uma conversa.

Jobs marcou o encontro em seu escritório em Cupertino, na Califórnia. Na reunião, falou sobre seu interesse pela companhia. “Ele não chegou a fazer uma oferta formal”, diz Houston, hoje com 28 anos.

Não que o apetite de Jobs tenha diminuído depois daquela conversa. Há quem diga que, infor­malmente, uma proposta de 800 milhões de dólares teria sido feita. Mas essa não era uma questão apenas de valores. O futuro imaginado pelos fundadores do Dropbox simplesmente não era compatível com o de Jobs. 

A recusa pode parecer devaneio. Mas a visão de um lugar na rede para compartilhamento de arquivos independentemente de qualquer plataforma ou software proprietário é justamente uma das principais razões do sucesso do Dropbox, empresa hoje avaliada em 4 bilhões de dólares e com mais de 50 milhões de usuários espalhados pelo mundo.

No serviço, pouco importa se um cliente usa um PC em casa, um Mac no trabalho e tem o celular de um terceiro fabricante. Tudo gira em torno da ideia de que documentos e arquivos podem ser utilizados a partir de qualquer máquina, em tempo real, seja qual for o fabricante ou o sistema operacional.

“O que nos diferencia dos competidores é que o usuário não tem de aprender nada para usar o Dropbox, ele continua a fazer o que está acostumado”, afirma Houston.


Com a proposta, a empresa vem se destacando num terreno hoje bastante disputado, o mercado de soluções de nuvem para usuários finais. Entre os competidores estão empresas como Amazon, Microsoft, Google e Apple.

Diferentemente do Dropbox, porém, todas elas buscam oferecer o serviço de compartilhamento de arquivos na rede como uma funcionalidade dentro de seus próprios sistemas.

O Google Docs obriga que o usuário utilize o editor de texto e planilhas do próprio Google. O Microsoft Office 365 exige que clientes usem recursos do pacote Office. Já o iCloud, da Apple, funciona de maneira a manter o usuário dentro dos serviços da empresa. 

Atraente

Além de conquistar usuários, a ideia de um serviço agnóstico a qualquer plataforma vem agradando também aos investidores. Em setembro de 2007, quando a empresa ainda dava os primeiros passos em São Francisco, na Califórnia, os fundadores do Dropbox receberam 1,2 milhão de dólares de quatro fundos, entre eles o Sequoia Capital, um dos mais respeitados do mundo.

“Eles já sabiam exatamente o que queriam se tornar e tinham os conhecimentos técnicos necessários para construir o que planejavam”, diz Bryan Schreier, sócio da Sequoia Capital. Nos anos seguintes, mais do que isso, provaram também que são bons gestores. Hoje, o Dropbox é considerado uma das startups mais promissoras da internet.

Ao todo, dez fundos de capital de risco, além de investidores-anjo, aportaram 257 milhões de dólares na empresa, entre eles o fundo Accel Partners e o banco Goldman ­Sachs. “Eles são o tipo de companhia que só aparece uma ou no máximo duas vezes por década”, diz Schreier.

Entre os usuários do serviço estão pessoas como o consultor paulista Miguel Cavalcanti. Especializado em pecuária de corte, ele viaja o país para visitar clientes e participar de eventos. Antes do Dropbox, carregar no notebook documentos sensíveis de sua empresa e fazer backup dos dados nem sempre eram alternativas viáveis.


A solução encontrada foi contratar por pouco mais de 200 dólares por ano um pacote premium do Dropbox, que dá direito a 100 gigabytes de espaço — além da garantia de ter sempre acesso aos dados de qualquer lugar, em qualquer momento. Em uma viagem recente ao exterior, Cavalcanti decidiu não levar computador, já que planejava comprar um novo.

Teria de ter carregado consigo dúzias de pen drives para ter acesso aos documentos e arquivos que usa para trabalhar. “Com o Dropbox, só fiz o download do aplicativo e pronto, tudo estava disponível”, diz. “Nunca uma migração foi tão simples.”

Como Cavalcanti, milhões de pessoas hoje confiam sua vida digital às mãos do Dropbox. Segurança para os dados, como é de esperar, é hoje um dos principais desafios para a companhia. Em um negócio como esse, qualquer falha ou crise de confiança pode ser um caminho sem volta.

Em junho, isso quase aconteceu. Os arquivos dos usuários ficaram expostos durante 4 horas, sem necessidade de senha para acessá-los. A empresa pediu desculpas publicamente, mas anunciou que está trabalhando em mecanismos de entrada adicionais ao uso de senhas de acesso.

Outro desafio para o Dropbox está em aumentar a base de usuários pagantes. O limite de espaço para planos gratuitos, hoje de 2 gigabytes, parece ser suficiente para a imensa maioria dos usuários. Atualmente, estima-se que apenas 4% dos clientes do serviço pagam por um plano maior e com mais recursos.

Outros serviços que também exploram o modelo de negócios freemium, como o Flickr, conseguem taxas de conversão entre 5% e 10%. Para crescer o faturamento, a empresa decidiu atacar o mercado corporativo.

Em outubro, foi ao ar o Dropbox for Teams, serviço que permite que equipes de até cinco pessoas tenham acesso a um mesmo disco rígido virtual de 1 000 gigabytes mediante o pagamento de 795 dólares por ano. 

Com centenas de milhões de investimento em caixa, a expansão do Drop­box parece longe do fim. A ambição de seus fundadores, também. Diz Bryan Schreier, sócio da Sequoia Capital e integrante do conselho da empresa: “Queremos que as pessoas um dia pensem em ir ao ‘Meu Dropbox’ em vez de ir aos ‘Meus Documentos’ ”.

Em cinco anos, ele afirma, o Dropbox quer alcançar a maioria dos usuários de internet do mundo todo. Se ao menos parte desse plano se concretizar, não ter vendido a empresa à Apple será um trunfo para sempre celebrado. “Estamos só no começo”, diz Houston, fundador do Dropbox.

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