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Eduarda La Rocque manda no cofre do Rio

Depois de uma carreira bem-sucedida no mercado financeiro, a economista se transformou numa das secretárias de Fazenda mais respeitadas do país

 Eduarda La Rocque: há menos de dois anos e meio à frente da Secretaria Municipal de Fazenda do Rio de Janeiro, ela já tem resultados para mostrar  (Eduardo Monteiro/EXAME.com)

Eduarda La Rocque: há menos de dois anos e meio à frente da Secretaria Municipal de Fazenda do Rio de Janeiro, ela já tem resultados para mostrar (Eduardo Monteiro/EXAME.com)

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Da Redação

Publicado em 10 de maio de 2011 às 06h00.

O dia 2 de janeiro de 2009 é classificado pela economista Eduarda La Rocque, de 41 anos, como o pior de sua vida profissional. Naquele dia, Eduarda concedeu sua primeira entrevista coletiva como secretária municipal de Fazenda do Rio de Janeiro. Sem prática de lidar com jornalistas, ela se perdeu em explicações demasiadamente técnicas ao discorrer sobre a situação financeira que herdara do ex-prefeito César Maia.

A certa altura, afirmou que o caixa municipal não podia ser considerado tecnicamente deficitário, pois ainda tinha saldo. O problema é que, naquele momento, ninguém sabia quanto faltava cair de restos a pagar do ano anterior.

O tema era explosivo porque, durante toda a campanha, o candidato Eduardo Paes — que ganhou as eleições e se tornou chefe de Eduarda — acusou Maia de deixar um enorme rombo para a cidade. Meses depois, após o desconto de todos os restos a pagar, a herança de Maia se revelaria, de fato, um déficit de quase 200 milhões de reais.

A explicação dada por Eduarda — Duda para os íntimos —, que, naquele momento, não tinha informações suficientes para criticar o ex-prefeito, causou a interrupção da entrevista. No dia seguinte, vários jornais publicaram que Maia tinha deixado superávit, em vez do déficit alardeado por Paes.

“Foi o momento mais difícil da minha vida”, diz Eduarda. “Pensei em desistir.” O episódio lhe valeu uma bronca homérica do chefe. “Ela é ótima, mas não sabe fazer política nem marketing”, diz Eduardo Paes, prefeito do Rio.


 O histórico profissional e acadêmico de Eduarda La Rocque ajuda a entender por que a estreia desastrada na prefeitura a abalou tanto. Durante toda a vida escolar, ela foi a melhor aluna de sua turma no Colégio Santo Agostinho, um dos mais tradicionais do Rio. Na época, também se destacava como levantadora no time de vôlei do Flamengo e chegou a ir para a seleção brasileira aos 15 anos de idade.

Ficou em segundo lugar no vestibular para economia na PUC carioca e, ao final da graduação, sua nota média foi 9,6. Ao concluir o doutorado, em 1996, também na PUC, Eduarda foi contratada pelo vice-presidente do Itaú, Sérgio Werlang, na época sócio do banco baiano BBM. No banco, sua carreira decolou. Em três anos, tornou-se sócia.

Sua reputação no mercado financeiro deve-se, em boa parte, à criação de um sistema de gestão de risco, primeiro para o banco e depois para empresas não financeiras. O software se transformou numa empresa, a Risk Control, uma sociedade de Eduarda com o grupo BBM. Em 2008, a Risk Control foi vendida à consultoria Accenture, e ela ficou com parte da venda (de valor não revelado).

Sua chegada à prefeitura ocorreu de maneira curiosa. A convite do amigo Armínio Fraga, ex-presidente do Banco Central, Eduarda participou da elaboração do programa econômico do candidato do PV, Fernando Gabeira, à prefeitura do Rio.

Na época, já em negociações para a venda da Risk Control, ela planejava mudar de rumo profissional. Uma de suas opções era trabalhar numa ONG voltada para o desenvolvimento social. As eleições municipais aconteceram. Gabeira perdeu. Paes foi eleito.

Então, o que parecia improvável ocorreu. Eduarda foi indicada ao novo prefeito para ser sua secretária de Fazenda. A primeira recomendação partiu de Maria Silvia Bastos Marques, presidente do grupo Icatu.


A segunda indicação foi de Joaquim Levy, executivo do Bradesco e ex-secretário estadual de Fazenda do Rio. Eduarda diz ter hesitado inicialmente por não ter experiência no setor público — o mais próximo que havia chegado de um governo foi ter acompanhado de perto a experiência de seu ex-marido, Edward Amadeo, ministro do Trabalho no governo Fernando Henrique Cardoso quando ainda estavam juntos. “Depois, percebi que teria mais condições de atuar socialmente estando num governo do que numa ONG”, diz Eduarda.

Grau de investimento

Em pouco mais de dois anos, a economista, que se autodefine carioca — ela sempre morou no Rio, mas nasceu em Uberaba porque seu avô fazia questão que os netos nascessem no hospital do qual era dono na cidade mineira —, mudou a imagem das finanças da cidade. Em 2009, fechou o caixa da prefeitura com saldo de 900 milhões de reais.

No ano passado, encerrou as contas com 964 milhões de reais no azul. Também conseguiu reduzir a relação de despesas com pessoal sobre a receita, de 49% para 41%.

Em novembro, a evolução das finanças do Rio ficou evidente quando a cidade obteve o status de grau de investimento concedido pela agência de classificação de risco Moody’s. Hoje, só a prefeitura de Belo Horizonte e o estado de São Paulo têm a mesma nota — o Rio, porém, é o único com viés positivo, com chance de ter a nota melhorada em 12 meses.

Uma das marcas de Eduarda La Rocque à frente da Fazenda carioca é a austeridade fiscal, que ela pratica também na vida pessoal. Seu irmão Henrique conta que ela posterga ao máximo os gastos, como a troca do carro — o atual tem mais de 100 000 quilômetros rodados. Em janeiro de 2009, época em que assumiu a pasta, ninguém conseguia prever os efeitos da crise econômica mundial sobre o Brasil.


Eduarda cortou os investimentos pela metade e recomendou diminuir em 30% o número de cargos comissionados em toda a administração, medida adotada pelo prefeito. Há um ano, ela conseguiu um empréstimo de 2 bilhões de reais do Banco Mundial com o objetivo de amortizar a dívida com a União e pagar juros menores.

O banco nunca tinha feito um empréstimo desse tamanho a nenhum outro município do mundo. Até 2011, o Rio de Janeiro economizará 500 milhões de reais com o pagamento de juros, e até 2029 a economia chegará a 2 bilhões. “Essa operação foi coisa de gênio”, diz Joaquim Levy.

Tais providências permitiram que a prefeitura aumentasse os investimentos em relação à gestão anterior, mesmo com o corte de 2009.

Eduarda também implantou um sistema de gestão para monitorar despesas e receitas mês a mês. Seja quem for seu substituto, ele saberá a exata situação do caixa municipal quando assumir. A comparação com o que ela enfrentou em seu traumático dia de estreia evidencia o salto na gestão pública do Rio de Janeiro.

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