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'Efeito Trump': para onde vai o bitcoin?

A Criptomoeda terminou 2024 com alta de 180% e ultrapassou 100.000 dólares; veja o que esperar em 2025

 (Victor Vilela/Exame)

(Victor Vilela/Exame)

João Pedro Malar
João Pedro Malar

Repórter do Future of Money

Publicado em 14 de fevereiro de 2025 às 06h00.

Última atualização em 14 de fevereiro de 2025 às 14h31.

“A alta do bitcoin vai ter fim?” Essa pode ser a pergunta que ronda tanto quem já investiu na maior criptomoeda do mundo quanto quem ainda não investiu, mas voltou a se interessar pelo ativo após os novos recordes em 2024. Afinal, o bitcoin fechou o ano de 2024 com uma valorização de 180% e ultrapassou 100.000 dólares.

O ano de 2024 marcou um ponto de inflexão para o mercado de criptoativos, com a adoção institucional do bitcoin (quando grandes investidores, como bancos e gestoras de ativos, passam a investir ou oferecer produtos baseados em um ativo) ganhando força. A aprovação de Exchange Traded Funds (ETFs) (fundos de investimento negociados na bolsa de valores que replicam um índice) de bitcoin nos Estados Unidos trouxe uma forma regulada para que investidores institucionais possam se expor ao ativo, o que acelerou sua aceitação e aumentou a liquidez do mercado.

A valorização do bitcoin em 2024 fez com que sua capitalização de mercado ultrapassasse a prata, tornando-se o sétimo ativo mais valioso do mundo.

Reinaldo Rabelo, CEO da corretora Mercado Bitcoin, mantém uma visão otimista para a criptomoeda. A empresa projeta um cenário-base com o bitcoin atingindo um topo de 150.000 dólares, mas essa estimativa pode variar conforme a dinâmica do mercado. Em um cenário mais pessimista, o topo seria de 120.000 dólares, enquanto, em um cenário otimista, poderia chegar a 180.000 dólares.

“O bitcoin era tratado como um ativo de nicho, mas hoje já faz parte de portfólios institucionais, com empresas como BlackRock e Fidelity facilitando o acesso de fundos de pensão e investidores tradicionais. Esse fluxo de capital tem um peso muito maior do que nos ciclos passados, o que pode acelerar ainda mais a valorização”, diz.

O BTG Pactual (do mesmo grupo controlador da EXAME) acredita que o bitcoin está posicionado para atingir novas máximas históricas em 2025, redefinindo paradigmas de investimento e consolidando-se como um ativo indispensável para investidores globais. A projeção leva em conta diversos fatores que influenciam o preço. Ciclos passados do bitcoin indicam uma tendência de alta nos meses subsequentes ao halving — quando a quantidade de bitcoins liberada no mercado cai pela metade. O último halving aconteceu em abril de 2024, e o próximo será em 2028.

Mas nem tudo são flores. Guilherme Sacamone, country manager da OKX Brasil, corretora mundial de criptomoedas, lembra que o bitcoin continuará sendo influenciado por fatores macroeconômicos e políticos. O principal impacto deverá vir do futuro da política monetária dos Estados Unidos, ainda incerto neste início de era Trump.

O Federal Reserve (Fed), banco central americano, já pausou o movimento recente de corte de juros, o que prejudica ativos de risco, como as criptomoedas. Agora, a instituição aguarda novos sinais da economia dos EUA para definir os próximos passos. A política monetária dos EUA, especialmente a trajetória das taxas de juro pelo Fed, continua sendo um dos principais termômetros para a liquidez global. Além disso, a chegada de um novo governo americano pode impactar diretamente a regulação e o ambiente institucional para criptoativos.

Sacamone aponta, no entanto, uma novidade que poderia fazer o preço da criptomoeda disparar: a adoção do bitcoin como reserva estratégica dos Estados Unidos. A proposta já foi defendida por Donald Trump e será avaliada por sua equipe, o que deve concentrar as atenções e especulações do mercado nos próximos meses.

“Esse movimento teria um impacto estrutural muito mais profundo do que qualquer outro evento recente, podendo iniciar um ciclo extremamente promissor para o ativo”, afirma. Na mesma linha, Fábio Plein, diretor regional da corretora Coinbase para as Américas, acredita que o bitcoin e as criptomoedas começam 2025 com um governo majoritariamente pró-cripto nos Estados Unidos e uma política monetária potencialmente favorável. “A forma como o governo Trump e o Fed conduzirão a política monetária dos Estados Unidos ao longo do ano definirá se veremos um fluxo maior de investimentos em bitcoin nos próximos meses”, diz Plein.

Segundo o diretor da Coinbase, será necessário acompanhar o futuro da regulação do mercado, que pode avançar na era Trump com um Congresso alinhado ao presidente. Se um arcabouço regulatório para criptoativos sair do papel ainda neste ano, será possível ver mais investidores institucionais ingressando no setor, o que poderia impulsionar o preço do bitcoin. Desde a eleição de Trump, em novembro, com sua postura pró-cripto, o mercado de criptoativos acumulou mais de 60% de valorização, tendo o bitcoin (BTC) atingido nova máxima histórica no dia da posse. A criptomoeda chegou a ser cotada a 109.071 dólares.

Esse patamar recorde aliado ao otimismo inicial serviu de gatilho para a realização de lucros, afetando o desempenho geral dos criptoativos. “Esse ajuste foi intensificado pelas incertezas acerca da política tarifária do novo governo, bem como por desdobramentos no setor de tecnologia, em especial o lançamento do modelo de inteligência artificial chinês DeepSeek, que influenciou o sentimento geral dos mercados”, disse o BTG Pactual em relatório.

Diante desse cenário, a tendência é que outras criptomoedas acompanhem os movimentos do bitcoin, mas em escalas diferentes. Não é incomum, por exemplo, que o ativo caia 4%, enquanto o restante do setor despenca 15%. Quanto menor a criptomoeda, maior a volatilidade e o risco, assim como os ganhos e as perdas potenciais.

Se o cenário macroeconômico global e o futuro da regulação no governo Trump impactarão todas as criptomoedas, a corretora Coinbase destaca que algumas podem ter benefícios específicos nos próximos meses. “A SEC, órgão regulador do mercado financeiro americano, reconheceu oficialmente o primeiro pedido de ETF de Litecoin. Essa postura pode incentivar a aprovação de outros ETFs que não sejam de bitcoin ou ether, o que pode representar um catalisador para o mercado cripto no médio prazo”, diz. Nesse cenário, ativos como XRP, Solana e HBAR podem ser os grandes vencedores de 2025.

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